Troop Zero – Uma crítica à falsa gestão de cultura e avaliação de desempenho

Troop Zero – Uma crítica à falsa gestão de cultura e avaliação de desempenho

Planeta terra, 03 de junho do ano terráqueo 2020


“Há um homem estelar esperando no céu ...

Ele me disse,

Deixem as crianças perderem o controle,

Deixem as crianças aproveitarem,

Deixem todas as crianças dançarem”

Trecho da música “Starman” de David Bowie


           Na última noite minha esposa me convenceu de forma despretensiosa a assistir um filme para “relaxar” antes de dormir ...

           Como qualquer conteúdo que se propõe a ser relaxante, foram descartadas opções que envolvessem bazucas e aviões de combate, sendo que, após algum debate topei iniciar um filme que parecia à primeira vista bobo e infantil, chamado Tropa Zero.

           Tinha certeza de que em alguns minutos estaria dormindo, mas como qualquer boa surpresa que se apresenta, quando percebi já estavam passando os créditos finais ... e me peguei diante de um filme que despretensiosamente apresentou em perfeita alegoria duas situações que comumente se instauram nos ambientes empresariais, a “falsa gestão da cultura” e a “falsa avaliação de desempenho”.

           Vamos às considerações, e preciso dizer que se você não assistiu ao filme, infelizmente preciso quebrar a surpresa do final para fazer minha reflexão ... sorry ...


           “Em 1977, Christmas Flint (Mckenna Grace), uma garota que mora no interior do sudeste dos Estados Unidos, lida com o bullying diário que sofre na escola, com o pai que não tem talento financeiro para tocar seu negócio de advocacia e com a saudade da falecida mãe. Sonhadora, está sempre olhando para o espaço e imaginando se existe vida em outros planetas” (trecho extraído do site cinemacomrapadura.com.br)


           A pequena garota embarca em uma jornada pessoal de desenvolvimento para gravar sua voz no disco de ouro que seria enviado junto às sondas americanas Voyager. Ocorre que, para ter este direito seria necessário vencer um concurso local de grupos de escoteiras chamado “Birdie”.

           O filme se concentra no processo de superação pessoal de Christimas e suas amigas, até o ápice durante a participação no concurso com desfecho desfavorável, e é aqui que trago as reflexões propostas neste artigo.


1. A falsa gestão de cultura

O grupo das escoteiras Birdie se comportava quase como uma seita, com rituais que envolviam frases emblemáticas, hinos, âncoras visuais, símbolos de conquistas (medalhas), além repetições permanentes dos “valores e crenças” daquelas que tinham a “honra de fazer parte da instituição”.

Ocorre que qualquer expectador externo assistindo ao filme rapidamente percebe que toda a devoção demonstrada pelas participantes ao “culto das Birdies” na verdade era uma grande bobagem com pouco ou nenhum sentido.

Muitos processos de “aculturamento” nas empresas apenas transformam os empregados em “pequenas Birdies”, repetindo continuamente mantras como “somos empresa X”, “acreditamos no valor Y”, sendo que em última instância não passam de processos de influência temporários, superficiais e que não resistiriam a reflexões um pouco mais aprofundadas de seus integrantes ...

A emblemática “tropa 5” do filme termina como aquela que melhor simbolizava a cultura da instituição (aparência), mas que não detinha valores verdadeiros enraizados dentro de si (essência), criando comportamentos conflitantes socialmente, mas valorizados institucionalmente ...

Pergunta espinhosa 01: A cultura da sua empresa está formando uma “tropa 05 ?” ... se aquilo que você chama de “gestão da cultura” se limita a distribuir camisetas, pendurar cartazes, inserir mensagens na intranet e fazer discursos em confraternizações ... lamento, mas me parece que está arregimentando escoteiras Birdie ao invés de equipes com cultura verdadeira ...


2. A falsa avaliação de desempenho

Aqui talvez a reflexão mais emblemática do filme.

O famoso Eliyahu Goldratt certa vez disse: “diga-me como me medes, que te direi como me comportarei”.

Este é o primeiro princípio da avaliação de desempenho, pois antes mesmo de “medir”, na verdade o que fazemos é “induzir” comportamentos e performance. Isto porque quando estabelecemos as regras do jogo e declaramos os critérios de reconhecimento e valorização, automaticamente criamos movimento nas pessoas no mesmo sentido, pela busca da aceitação e valorização sociais.

Portanto, se as regras do jogo são bobas, o jogo e seu resultado também serão.

Toda a dinâmica da avaliação e julgamento do “concurso das Birdies” direcionou as atitudes e o resultado da avaliação, premiando ao final o grupo mais odioso (nem preciso dizer que era a tropa 05), e deixando de reconhecer equipes com valores pessoais e de grupo muito mais valiosos e com maior potencial de construção de resultados.

Irônico, mas o resultado do concurso das Birdies foi absolutamente correto diante das regras e critérios previamente estabelecidos, gerando comportamentos e posturas que criavam uma “imagem social” fomentada e estimulada, mesmo que fossem superficiais e até mesmo fictícios.

Portanto, a avaliação de desempenho coloca as pessoas em um “jogo”, onde os movimentos de tabuleiro e conquistas passam a estar pré-fixadas, e se não forem adequadamente planejadas induzem a resultados não necessariamente consistentes ou satisfatórios.

Pergunta espinhosa 02: Sua avaliação de desempenho é um “concurso Birdie ?” ... se os resultados não são considerados legítimos por todos, se as equipes premiadas nem sempre são aquelas que verdadeiramente vivem e compartilham dos valores organizacionais, criando por vezes situações de stress para construção de resultado “a qualquer preço” ... infelizmente você pode estar promovendo um concurso de escoteiras Birdie malcriadas ...


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Joseane Freitas

CEO e Founder da Perfix Consultoria | Consultora de Gestão Pessoas | Neurociência, Coaching

4 a

Excelente reflexão!!! No meu ponto de vista um grande aprendizado desse filme é como a empatia e o respeito pode fortalecer uma equipe.

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