História da Mineração no Brasil (4) – O Ouro e a Escravidão
Para poder “quintar” o ouro, e cobrar tributo, devia-se extraí-lo. O início da exploração se deu pelo método da faiscagem, ou seja, a lavagem dos sedimentos superficiais. Os mineiros primeiramente trabalhavam as areias e cascalhos auríferos das margens e leitos dos rios, sobretudo porque era simples concentrar as partículas de ouro com Bateia usando a água do rio. A retirada das areias das encostas, e do próprio chão para lavagem, fazia-se utilizando uma espécie de enxada pontiaguda, o Almocafre, sendo o material estocado no Carumbé (recipiente de formato cônico), para ser lavado a seguir.
Uma pequena otimização do processo se deu com a adoção de algumas técnicas de origem africana. Para o aproveitamento das grupiaras, eram improvisados Caxambus, que consistiam em pequenos montes formados de cascalhos das grupiaras que, lançados pelas encostas, soltavam pedras auríferas. Outro método era a lavagem em Cuicá, isto é, o cascalho era separado em pequenos poços junto aos caxambus. Em 1711 foi inventada a roda para esvaziar as catas, método aprimorado e usado em larga escala de 1725 em diante, bem como o engenho de pilões a partir de 1733.
O ouro de granulação mais grossa era retirado no próprio processo de lavagem, mas o ouro fino exigia o emprego de outras técnicas, misturando-se água com suco de frutas para precipitação do ouro em suspensão. Quando necessário realizava-se o processo de amalgamação, utilizando-se mercúrio. Nesse período também foi ensaiada a mineração subterrânea a fim de alcançar os filões em maior profundidade. Usava-se a Nora, um antigo aparelho hidráulico constituído por um rosário de caçambas, sendo, porém, frequentes os desmoronamentos.
Como já salientado, a contribuição africana para o desenvolvimento técnico da mineração aurífera do século XVIII, sobretudo através dos escravizados oriundos da região africana denominada de Costa da Mina, conhecidos como Mina*, foi muito importante. A mineração aurífera na África, em particular na costa oriental, tem uma longa história, muito pouco conhecida, que revela agricultores que também atuavam como mineradores. Este ouro da África Ocidental impulsionou a economia global centrada na Europa e no Oceano Índico, antes da descoberta do ouro nas Américas.
*Mina era uma designação abrangente usada pelos portugueses para os escravos comprados na Costa da Mina, área vagamente definida que, em sua parte mais larga, ia de Cabo Palmas até Camarões, abraçando respectivamente as costas do Ouro e dos Escravos. Mais para o interior dos Estados litorâneos da Costa do Ouro havia uma série de reinos menores, onde predominavam os recursos auríferos da região. Eram Iguira, Wassa, Akiem e Adansi.
Escravos de Cabinda, Quiloa, Rebola e Mina (Rugendas, 1830).
Na capitania das Minas Gerais os africanos originários do Sudão Central (Mina) eram mais valorizados, por serem considerados como bons e experientes mineradores, ressaltando-se que muitos desses escravos já eram proeminentes ourives e ferreiros. Tem-se, pois, que não apenas os conhecimentos, mas também as técnicas de mineração**, largamente empregados na Capitania, eram provenientes da África. O uso de canoas e bateias, gamelas e couro de boi, como exemplos, foi introduzido pelos negros, e negras, africanos. Sobretudo na região da mineração, os resultados destes empréstimos técnico-culturais foram notados desde muito cedo na América portuguesa.
Esse ouro que se extraía com relativa facilidade e pouca técnica, oferecendo-se à flor da terra, entretanto acabou por dar sinais de esgotamento no último quartel do século XVIII. A mineração no Brasil decaía por falta de técnicas, de máquinas e de formação especializada adequada.
A transformação social em plena efervescência na Europa do século XVIII impunha desafios que a elite portuguesa tencionava assumir e resolver. Nesse período destaca-se a atuação de Marquês de Pombal, que conduziu um conjunto de mudanças relacionadas a educação, direito, política econômica e fiscalidade (arrecadação de receitas por parte do estado).
Quanto ao resgate da mineração, essa só seria possível a partir da aplicação das ciências e do aprimoramento técnico e da melhor instrução dos mineiros. Nesse contexto de Revolução Industrial e Iluminismo, vários ilustrados, como José Bonifácio e seu irmão Martim Francisco, dedicam-se na ampliação do conhecimento de assuntos, tais como filosofia natural, matemática e mineralogia, adquiridos em universidades e em viagens científicas, contribuindo com a mineração colonial e do Brasil império.
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**O Ciclo do Ouro teve contribuições técnicas de extração dos escravos, como a técnica das canoas (que eram lavadouros, espécies de mesas), em que se depositava o cascalho retirado dos rios ou tabuleiros em pequenos montes para ser lavado e apurado. Foram muitos os escravos explorados na mineração, especialmente os que vieram da Costa da Mina e de Angola, que eram considerados os melhores para o trabalho nas minas. Assim, a contribuição dos negros foi fundamental na extração do ouro. sendo responsáveis por muitas das técnicas de mineração utilizada no período e algumas delas utilizadas até hoje. http://www.palmares.gov.br/?p=2667
Fonte:
Machado, I. F. e Figueirôa, S. F. de M. História da Mineração Brasileira. Curitiba: Editora CRV, p. 54-63, 2020.
O texto foi extraído, em sua essência, do livro História da Mineração Brasileira. As referências bibliográficas não foram explicitadas no texto e devem ser obtidas nas páginas indicadas na referência. Objetiva-se, nesta postagem, divulgar fatos, dados e curiosidades que alimentam, desde o início de sua colonização. a história da mineração no Brasil
Data: 16/08/2021