História da Mineração no Brasil (7) – Ouro e Arte
As preocupações e o fomento à mineração não se limitaram ao ouro e diamantes, Consoante visão iluminista da época, esperava-se socorrer a mineração em decadência ou ampliar as possibilidades de exploração, localizando novas jazidas de novos, ou já conhecidos, minerais, por meio da aplicação da ciência. Assim, várias viagens visando o levantamento de recursos naturais foram realizadas a partir de Lisboa ou promovidas localmente.
José Vieira Couto, natural do Arraial do Tijuco (Diamantina, MG), formado em Filosofia e Matemática na Universidade de Coimbra, em suas expedições ao Serro Frio, Tijuco, Sabará e Mariana, em 1798, identificou depósitos de salitre, em nitreiras naturais na Serra do Cabral (MG). Couto foi encarregado de avaliar sobre a viabilidade de construir uma fábrica de produção de salitre, a ser utilizado para fabricação de explosivos (para defesa do território e para trabalhos de desmonte na mineração), além de preparo de carnes salgadas e peles curtidas de animais e alimentação do gado. Em Jacobina (BA) também foram localizadas minas de salitre que viriam a ser exploradas as ocorrências de nitrato de sódio e potássio.
Na Capitania de São Paulo, o naturalista e químico autodidata, Joao Manso Pereira investigou salitre em Sorocaba, Itu e Curitiba, além de Abaeté (MG), a fim de apurar a existência de uma nova mina de prata, além de argilas para produção de cerâmica. Também nessa Capitania atuou o intendente Martim Francisco Ribeiro de Andrada, enviando a Lisboa minerais e rochas diversas, como ferro, ágatas, argila branca, areias ferruginosas, cristais de rocha, granitos, piritas ferruginosas, dentre outros.
Em meados do século XVIII, a prata chegou a ser explorada no Ceará, com apoio de técnicos alemães. Em 1744 amostras dessas minas foram enviadas para Portugal, diagnosticando-se, também, a presença de enxofre, cobre e chumbo. Esses trabalhos foram encerrados em 1759. Cita-se, ainda, a preocupação estratégica da Coroa em se encontrar minas de ferro, isso no contexto da 1ª Revolução Industrial, não só no Brasil, como em outras colônias e em Portugal,
Um bem mineral pouco referido nas histórias da mineração no Brasil é a pedra-sabão (esteatito), usada regularmente na cantaria, juntamente com quartzitos e quartzo-clorita xistos. Essa rocha já era utilizada em regiões da África negra (Moçambique), antes de os primeiros escravos serem traficados para o Novo Mundo. Haja vista tal fato, indaga-se, pois, sobre a participação efetiva de escravos e descendentes nas atividades de extração, transporte e produção artística e de utensílios desse material. Destaca-se a utilização do esteatito nas obras barrocas, como as esculturas de Aleijadinho*, por exemplo.
* Aleijadinho, chamado Antônio Francisco Lisboa, foi um entalhador, escultor e arquiteto que viveu em Vila Rica durante o período da mineração, no século XVIII. Ficou notabilizado pela sua arte sacra e foi um dos grandes mestres na escultura do período. Aleijadinho trabalhou por diversas cidades de Minas Gerais, e suas obras estão em Ouro Preto, São João del-Rei, Tiradentes, Congonhas, Sabará, Caeté, Mariana e outras. (Foto: Google - Os dez Profetas - Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, Congonhas/MG).
Voltando-se ao ouro extraído no território brasileiro, questiona-se qual seria a dimensão das relações com as obras de talha dourada** portuguesa dos séculos XVII e XVIII, do que é exemplo o edifício da Sé, na cidade do Porto, e se teriam as remessas de ouro e os diamantes do Brasil financiado as obras da Metrópole do período barroco, como a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, o Aqueduto das Águas Livres em Lisboa, o Palácio de Mafra, e a maior parte dos itens do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa.
Ainda sobre a produção artística em MG e BA, tem-se que o processo de adaptação da arte e da arquitetura religiosa em solo mineiro foi consequência de uma nova realidade em que a disponibilidade de recursos financeiros ofertados pelas ordens leigas, o uso de mão de obra especializada vinda da metrópole, a abundância de matéria-prima e a difícil geografia de uma região montanhosa foram fatores determinantes, sendo tal processo responsável pela maravilha das igrejas forradas de ouro.
Recomendados pelo LinkedIn
Dos três séculos, XVI a XVIII, de colonização portuguesa, acredita-se que o entrave ao pleno desenvolvimento da atividade mineira no Brasil deva-se, principalmente, à ignorância e a falta de formação técnica no que concerne às ciências físicas, matemáticas e de metalurgia, bem como à pouca prática dos mineiros locais de explorarem jazidas primárias (rochas duras) frente a exaustão dos depósitos aluvionares, até então abundantes nos leitos e margens dos rios e em cascalheiras.
Este raciocínio parece ser bem aplicado à mineração de ouro e diamante, os principais bens minerados no período colonial, abundantes nos leitos e margens dos rios e em cascalheiras, fazendo com que a exploração inicial fosse intensa e não demandasse nível técnico sofisticado. Pode-se afirmar que a facilidade inicial da exploração não favoreceu o desenvolvimento de técnicas autóctones. Além disso, a mão de obra escravizada estava disponível, facilitando a lavagem de grandes volumes de areias e cascalhos, salientando-se, ainda, que parte dos processos de extração e de metalurgia foram introduzidos pelos negros.
** Talha dourada é uma técnica escultórica em que madeiraé talhada (esculpida) e depois dourada, ou seja, revestida por uma película de ouro. (Foto; Google - Igreja de Santa Clara, Porto, Portugal).
Fonte:
Machado, I. F. e Figueirôa, S. F. de M. História da Mineração Brasileira. Curitiba: Editora CRV, p. 69-78, 2020.
O texto foi extraído, em sua essência, do livro História da Mineração Brasileira. As referências bibliográficas não foram explicitadas no texto e devem ser obtidas nas páginas indicadas na referência. Objetiva-se, nesta postagem, divulgar fatos, dados e curiosidades que alimentam, desde o início de sua colonização. a história da mineração no Brasil.
Data: 27/09/2021