História da Mineração no Brasil (9) – Os avanços no século XIX
A mineração nunca se restringiu às veias auríferas e à coleta de diamantes, nem, tampouco, findou-se no século XViii, já chamado de Idade de Ouro do Brasil, acarretando a relativa invisibilidade de outros recursos minerais.
No século XIX, a mineração seguiu como atividade importante em Minas Gerais, e em outras regiões do território, cabendo às minas mineiras a maior parcela de contribuição à produção mineral nacional. No entanto, é fato a diminuição da produção aurífera no cômputo total e consequente esvaziamento dos principais redutos de povoamento, sobretudo devido às descobertas significativas de ouro na Califórnia (1848), Austrália (1851) África do Sul (1886) e Alasca (1896).
Grande variedade de bens minerais foram, também, alvo de pesquisa e, por vezes, de exploração, como por exemplo: a platina nos sertões do Indaiá e Abaeté (1805); manganês na região central de Minas Gerais (1811); cassiterita em Ponte Nova, MG; ouro (Rio Pardo) e cobre (Caçapava) no Rio Grande do Sul (em 1823 e 1825), respectivamente; chumbo em Macaúbas, BA (1837); cobre e chumbo na atual Sete Lagoas, MG (1843); carvão mineral e xistos betuminosos em diferentes Províncias; águas minerais e termais em Minas Gerais e Santa Catarina (entre 1813 e 1875); apatita no Vale do Ribeira, SP (1891), dentre muitos outros.
Quanto ao ouro aluvionar, em vias de esgotamento da produção ancorada em técnicas de baixa eficiência e de alto impacto ambiental, cedeu lugar à exploração do ouro primário, em minas cada vez mais profundas, induzido pela modernização técnica e econômica via investimentos particulares nacionais, pela constituição de associações atuantes na lavra, pela criação de companhias com maquinário, pela concessão de datas auríferas a quem demandasse, entre outros incentivos concedidos pelo governo imperial.
Merece destaque a criação, em 1819, da Sociedade Mineralógica da Passagem, pelo destacado Barão de Eschwege, que mecanizou a exploração de ouro nos arredores de Vila Rica, instalando um sistema de esgotamento da água do lençol freático e uma bateria de pilões d’água, sistema à época em uso em outras áreas mineradoras do mundo.
Sendo consequência do processo de Independência do Brasil, em 1822, e em um contexto de baixa rentabilidade da exploração de ouro no século XIX, somando-se à pouca disponibilidade de capitais privados nacionais (conforme estabelecia a legislação vigente) para investimentos, o Decreto de 16 de setembro de 1824 abriu a possibilidade de participação de capitais estrangeiros em empreendimentos de mineração, tomando como exemplo a The Imperial Brazilian Mining Association, criada pela associação do inglês Edward Oxenford com o Barão de Catas Altas, proprietário da mina de Gongo Sôco, esta mina com boas quantidades de ouro em trabalhos efetuados a céu aberto e em galerias subterrâneas, chegando a atingir 125m de profundidade, em 1840. Dentre as mais de 40 companhias inglesas que mineraram em Minas Gerais, citam-se: The St. John d’El Rey Mining Company Ltd.; The General Mining Associatian; The Brazilian Company Ltd.; National Brazilian Mining Association; Roça Grande Brazilian Gold Mining Company Ltd.; Ouro Preto Gold Mines of Brazil Ltd. entre outras.
Cabe destacar que companhias de capital nacional também se constituíram para atuar em Minas Gerais, ao final do século XIX, tais como: Associação Brasileira de Mineração, Empresa de Mineração Município de Tiradentes; Companhia Mineralúrgica Brasileira; Companhia Aurífera de Minas Gerais entre outras.
No período entre 1824 e 1889, destaca-se que o capital britânico investido nas atividades de mineração representou pouco mais de 4% do total investido no país. Dentre as minas mais importantes à época, tem-se Gongo Sôco, Passagem e Morro Velho, todas em Minas Gerais. Inundações ocasionadas pela acumulação de água do lençol freático e infiltração de água superficial levaram ao fechamento de Gongo Sôco, em 1856, e Passagem, em 1873. Já a mina de Morro Velho, explorada desde 1834 até 1960 pela St. John d’El Rey Mining Company, e atualmente em mãos da AngloGold Ashanti, foi a única que manteve regime de produção até hoje.
Apesar dos desastres – o incêndio de 1867, responsável pelo colapso da mina, e o desmoronamento de 1886 – a St. John, proprietária da Mina Morro Velho, é um caso de grande sucesso, atribuído à riqueza da jazida, à excelente administração, com introdução de inovações tecnológicas, e ao estabelecimento de uma poderosa articulação política no país, o que garantiu os interesses da companhia. Salienta-se que a mão de obra mesclou cidadãos provenientes da Grã-Bretanha (para os trabalhos de engenharia e gerências) e escravos, até 1888.
Reabertura Mina Grande, 1892. Nova Lima (MG). Foto Google.
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Importante enfatizar que outros elementos também eram passíveis de extração em associação ao ouro, permitindo uma melhor performance econômica, como platina ou paládio, por exemplo. O ouro extraído por ingleses em Minas Gerais foi a maior fonte de paládio que, na forma de ligas com o ouro, foi explorado durante o século XIX até a descoberta de novas minas paladíferas nos Montes Urais na Rússia. No Brasil, o metal foi usado para a cunhagem de moedas e na produção de medidas oficiais e equipamentos que ganharam notoriedade em exposições mundiais.
Enfim, um dos aspectos que merece ser acentuado, no que se refere à mineração do ouro, toca o avanço tecnológico propiciado pela transferência de técnicas de mineração trazidas pelas empresas inglesas. Dentre as transformações mais expressivas disseminadas via produção de ouro cita-se: uso da pólvora (e mais tarde, dinamite), uso da força hidráulica para drenagem, ventilação ou transporte (com vagonetes e carros de minério com propulsão por rodas d’água) e, sobretudo, a redução do minério.
Apesar de toda a transferência tecnológica ocorrida, era vital a formação de pessoal capacitado e, consequentemente, de implantação de cursos específicos. Vislumbrava-se, assim, a formação de engenheiros de minas em nosso país.
Videos:
Mina de Morro Velho - A História de uma das minas mais antigas do país
Nova Lima Terra do Ouro
Fonte: Machado, I. F. e Figueirôa, S. F. de M. História da Mineração Brasileira. Curitiba: Editora CRV, p. 87 a 92, 2020.
O texto foi extraído, em sua essência, do livro História da Mineração Brasileira. As referências bibliográficas não foram explicitadas no texto e devem ser obtidas nas páginas indicadas na referência. Objetiva-se, nesta postagem, divulgar fatos, dados e curiosidades que alimentam, desde o início de sua colonização. a história da mineração no Brasil
Data: 01/11/2021