A Idade da 'Loba'
Em noites de lua cheia, quando o ventre da Terra adormece e o vento sopra silencioso sobre a copa das árvores, a loba infla o peito, levanta o focinho e solta o seu uivo dolorido que corre pela mata adentro, sobe pelas montanhas e parece querer alcançar o céu. É como um lamento sem consolo, e quase se chega a adivinhar uma alma que sabe estar condenada a perpetuar na terra um rastro de solidão. Mas, de dia, volta-lhe o espírito gregário, e a loba vira bicho brincalhão, intuitivo, perspicaz e curioso, dotado de grande resistência e coragem.
Muitas coisas tem em comum, as lobas e as mulheres. Há um momento, na vida de uma mulher, em que irrompe uma indomável vontade de viver tudo, de conhecer tudo, de amar tudo. É a idade da loba!
Essa voracidade é algo que assusta e provoca reaões de medo, gerando moralismos vários, quase sempre usados para justificar a repressão, a discriminação, o castigo, o preconceito. Por trazer dentro de si a chama desse espírito selvagem e indomável, a mulher também sofreu, como os lobos, uma feroz perseguição ao longo dos tempos. Em nome dos ideais da cultura e da civilização, era preciso refrear a mulher-loba, transformá-la num ser manso e dedicado, inofensivo e domesticado.
Mas, a alma feminina possui a herança de uma sabedoria antiga, milenar, passada ao pé do ouvido por várias gerações, e muito bem guardada nos porões de seu inconsciente. Essa sabedoria inata é a fonte de sua saúde, de sua força e resistência. Quado ela perde o contato com essa fonte sagrada vem a doença, a depresão, a falta de criatividade.
Tenho encontrado mulheres que se queixam dessa perda visceral. Sentem-se como que amordaçadas, caladas à força, desestimuladas para a vida. Ás vezes, preocupam-se demais com a aparência para fugir desse vazio interior, outras, deixam-se tomar por uma espécie de fúria destrutiva, torturam-se com um perfeccionismo inútil, têm medo de aventurar-se em projetos de mudanças, receiam se entregar ao amor. Quase nunca dizem o que pensam, jamais discordam ou questionam qualquer coisa, e sentem um medo apavorante tanto de parar quanto de prosseguir.
Talvez tenha chegado a hora de relembrar que, há algumas décadas atrás, o mundo inteiro parava para ouvir, estarrecido, o uivo de centenas, milhares mulheres-lobas gritando para reunir sua matilha, delimitar seu território, exigir seus direitos. O mundo inteiro parou para ouví-las. Muitas outras, mais tímidas, também aderiram aos uivos coletivos. Pediam segurança, respeito, liberdade, oportunidades. Pouco a pouco, a matilha de mulheres-lobas foi crescendo e uma onda de vitalidade sacudiu o planeta. As mulheres ficaram mais bonitas, mais fortes, mais sábias.
Talvez tenham sido os índios norte-americanos o povo que mais compreendeu a alma feminina. Esse povo tem profunda reverência por uma árvore em particular, o « shanum », que nós chamaos « chorão ». Eles diziam que aquela era uma árvore-feminina, porque ela se verga toda quando sopra o vento e a tempestade, mas não se quebra jamais. Como as mulheres.
A ‘idade da loba’ é aquele momento em que uma mulher olha para dentro de si e vê uma guerreira, uma devota, uma criadora. É o momento em que ela descobre a sua alma feminina. E nesse momento, como que por encanto, ela se reconcilia com seus ciclos, com seu corpo, com sua idade. E se sente viva.
Mani Alvarez é idealizadora e facilitadora do curso Liderança Feminina Transpessoal. www.clasi.org.br
Coach e Servidora Pública Federal
8 aLindo!
DIRETORA SAMADHI ESPAÇO HOLISTICO - ACHAVEDETHOTH - RELOGIO DO MAGO - RIBEIRÃO PRETO/SP
8 aQue lindo Mani! Auuuuuuuuuuu \o/ juntas nesse ciclo maravilhoso
Enfermeira especialista em Fitoterapia / Práticas Complementares em Saúde -Tabebuia Sáude
8 aLeitura deliciosa e muito inspiradora.