Igreja Matriz de Santo Amaro do Sul-RS
A Vila de Santo Amaro do Sul, é conhecido pela beleza arquitetônica de suas edificações construídas pelos açorianos durante o período de colonização portuguesa. Conhecida também pelo seu alto número de edificações tombadas pelo Instituto do patrimônio artístico e cultural do Rio Grande do Sul, Santo Amaro, segundo o site do Iphan “ é uma vila marcada pela arquitetura colonial portuguesa e considerada um dos mais significativos conjuntos urbanos de origem portuguesa no Estado do Rio Grande do Sul “.
FORQUETA DE SANTO AMARO
O surgimento da cidade de Santo Amaro do sul está diretamente ligado, ao cenário de disputas coloniais entre as duas principais coroas, Portugal e Espanha. Pela divisão do acordo assinado entre as partes, chamado de Tratado de Tordesilhas, o território do Rio Grande do sul se dava a parte espanhola. Porém Nos anos de 1680, com objetivo de retomar as relações comerciais com Buenos Aires, Portugal funda a Colônia do Santíssimo Sacramento, pouco tempo depois, com a descoberta do ouro na região central do país, fez-se com que o Rio grande do sul, atraísse muitos tropeiros, com o objetivo de deslocar o gado, introduzido no território pelos jesuítas e encontrado em abundância na região do extremo sul do Brasil, através de Sorocaba, rumo a minas gerais, afim de alimentar os trabalhadores da exploração do ouro. A coroa portuguesa, para aproveitar a riqueza das terras, fundaram ao longo da costa, estancias e desenvolveram a pratica do tropeirismo. Em 1750 é estabelecido o tratado de Madri, Em que os portugueses ficariam com os sete povos em troca da Colônia portuguesa, porém Portugal quebra o acordo e começa a articular seu plano de colonização. O plano português era de substituir os índios da região missionária por pessoas ligadas a coroa. Os indígenas, por outro lado, possuíam uma ligação espiritual com a terra onde nasciam e não concordaram em abandona-las. A coroa portuguesa, então propôs a casais açorianos que ocupassem a margem do rio Jacuí, e em trocas de terras ajudassem na implantação de fortificações militares, mas precisamente em Rio Pardo e Santo Amaro. O Fortim de Santo Amaro era usado como apoio ao forte de Rio Pardo, visto que estava em localização privilegiada, onde se permitia a navegação durante todas as épocas do ano, vantagem que o forte de Rio pardo não possuia, uma vez que em determinadas épocas algumas embarcações acabavam por não conseguir chegar a ele, estas, atracavam, então, no fortim de Santo Amaro. No ano de 1773, Santo Amaro foi oficialmente elevada à condição de ‘freguesia’, e sua população era constituída de portugueses (açorianos), paulistas e alguns escravos.
A HISTÓRIA
A religião, na época da colonização era tratada como algo essencial para a população, visto que a prática do catolicismo era um dos pilares da projeto de colonização da coroa lusitana. Não por acaso, as igrejas foram as construções mais importantes do período colonial, ”elas desempenhavam um papel muito importante na administração social e a igreja – aqui entendida como instituição – era o setor mais bem organizado pelo estado português” (Weimer, 2006, p.109). As igrejas precisavam de um amplo espaço, capaz de abrigar a todos os moradores das freguesias de uma única vez, por esse motivo eram construções desproporcionais, e por vezes destoavam-se das demais edificações.
A igreja matriz de Santo amaro teve sua ordem de construção expedida em 1773, uma vez que o bispo do rio de janeiro, Dom Antonio do Desterro, percebeu elevação da população, que ja contava com mais de seis mil habitantes, e a ausência de uma igreja com tamanho suficiente a servir de matriz. Porém a data colocada sobre a porta principal da edificação,1787, não nos diz com certeza se corresponde ao início das obras ou a sua inauguração, servindo apenas como data de contextualização, uma vez que não foram encontrados documento oficiais que pudessem precisar a referida data.
A ARQUITETURA
Com localização privilegiada, presença marcante na paisagem da vila, diante a uma grande praça e casas do séc. XVIII em seu entorno, foi construída a igreja Matriz de Santo Amaro. Apesar de possivelmente ter sido inspirada na matriz de nossa senhora de Viamão, a igreja Matriz de Santo Amaro manteve sua linguagem o mais próxima da arquitetura popular açoriana, tendo como partido semelhante ao de outras igrejas projetadas por militares, do mesmo período, uma edificação de nave única e capela-mor.
Ao analisarmos sua volumetria, percebemos uma composição de três corpos, o volume central, que trata-se da frente da igreja e dois laterais, que apesar de aparentemente tratarem-se apenas de duas torres sineiras, na realidade são também contra-aventamentos de alvenaria, formados por paredes grossas sendo a base dos campanários. Por conta desse prolongamento das paredes, a igreja acaba por aparentar uma escala maior do que a que realmente é existente, agregando a sua forma uma delicada horizontalidade, se comparada as demais igrejas do mesmo período.“ É da horizontalidade da fachada que nasce o frontão ondulado. E de seu prolongamento se erguem as sineiras, com uma abertura no topo para receber os sinos.” (Bittencourt, 2007, p.188).
Ao adentrarmos a única porta, que da acesso ao interior da igreja, através da fachada principal, nos deparamos com o volume da nave. Este, que está atrelada a capela mor e a dois volumes laterais, localizados ao fundo, correspondentes a capela mortuária e a sacristia. Outros dois volumes, desta vez, a frente, logo atrás do prolongamento da fachada é onde encontram-se a casa do sino e um pequeno depósito.
O EXTERIOR
“Toda graça e beleza da igreja está nas proporções de sua fachada, projetada para ser vista a distancia, do outro lado da praça. Em quase todos os ângulos do adro, não se percebe o volume, apenas as formas recortadas da fachada contra o céu. E nisso reside sua originalidade” (Bittencourt, 2007, p.186). Ao avistarmos a igreja de fronte, logo nos é chamado a atenção para o seu frontão triangular, com bordas curvas e arrematado por três molduras, contornando o recorte de sua superfície. Logo abaixo, centralizado ao frontão, está presente uma moldura circular, trata-se de um pequeno ornamento frisado em forma rosácea. O corpo principal, da nave, conta ainda, com a presença de três janelas superiores, com arremates curvos nas laterais. estas contam com vitrais, não originais, e trazem iluminação ao coro. Ainda tratando-se do corpo central, há a presença da única abertura disposta na fachada principal. Uma grande porta com guarnições em pedra e folhas que dobram-se para dentro. “A porta principal possui uma portada decorada com frisos, onde se lê a data 1787, é emoldurada por uma cimalha executada em relevo sobre a porta” (Bittencourt, 2007, p.190). Seguindo para os volumes dispostos lateralmente na fachada principal, as “torres sineiras”, essas, pouco maiores do que o volume central, com pequenas aberturas arqueadas, para a colocação de sinos, presente em apenas na torre do lado esquerdo. O arremate da fachada se da pela presença de onze ornamentos em suas extremidades, os robustos coruchéus. A presença de molduras ornamentadas, pintadas na cor azul, localizadas a cima de suas aberturas, acabam por trazer leveza a edificação de volume atarracado. “ As molduras dos grandes frisos horizontais e os pequenos remates em curvas que encimam as aberturas, dão ao conjunto a graça de um delicado barroco.” (Weimer, 2006, p.109).
O INTERIOR
Ao adentrarmos a edificação de paredes grossas, com espessuras que variam entre 1,20 e 1,50m e são autoportantes, percebemos mais do que a força de sua construção que apesar de pequena é rica em detalhes. Com um “coro executado em mezanino, em estrutura de madeira, com caibros de madeira roliça, apoiado em um tabuado” (Bittencourt, 2007, p.192), a Nave, originalmente com forro em madeira de lei e decorado com ilustrações pintadas a óleo, foi substituído, durante uma das muitas reformas que a igreja sofreu ao longo de seus anos por um tipo de forro de madeira menos nobre, em que as tábuas se encaixam, adotando uma curvatura permitida através da inclinação do telhado, em abóboda de berço. A nave conta ainda com a presença de duas portas laterais, de forma quadrada, totalmente em madeira, com folhas que abrem-se para o lado de dentro. Ao fundo da Nave, nos deparamos com o arco cruzeiro, que separa a capela mor da nave, e constitui-se por “dois pilares de pedra arrematados por capiteis, que suportam um arco de meio ponto decorado com guirlandas de flores nas faces laterais. As cores da igreja, com frisos em azul claro, se repetem na decoração”. (Bittencourt, 2007, p.192). A capela Mor, por sua vez, possui em suas laterais, duas portas simétricas, de madeira, que dão acesso, pelo lado esquerdo, a sacristia e ao lado direito a capela mortuária. Ao fundo da capela mor vislumbramos o altar mor, este que sem duvida é um dos pontos fortes da igreja. De autoria atribuída a um dos mais conhecidos entalhadores do período colonial, Francisco da Costa Senne. O retábulo mor, possui ricos detalhes arquitetônicos, ornamentos em madeira e imagens de santos magistralmente talhadas. “ Dois retábulos laterais devem ser citados por sua feitura ingênua, de caráter eminentemente popular, e que se constituem em peças únicas no estado” (Weimer, 2006, p.113).
Apesar de ter sofrido muitas mutilações e roubos, igreja ainda abriga, um acervo de peças originais do período colonial, como candelabros de cristais, castiçais de ouro entre outros objetos em bom estado de conservação.
CONCLUSÃO
Combinando os aspectos analisados, podemos chegar a conclusão de que a Vila de Santo Amaro, apesar dos poucos recursos, manteve ao longo do tempo sua história, através da tentativa de conservação de suas edificações. Por se tratar da construção mais importante, a igreja acabou por receber maiores atenções e cuidados em termos de restauração, o que infelizmente não ocorreu com os conjuntos e residências coloniais, tombadas pela equipe de patrimônio histórico, nos fazendo questionar o real valor dado a história e sua arquitetura.
REFERÊNCIAS
WEIMER, Günter. Arquitetos e construtores rio-grandenses na Colônia e no Império. 1 edição. Santa Maria: usfm, 2006.p.109-113.
BITTENCOURT, Doris. Arquitetura de pedra e cal no litoral sul e vale do jacuí, nos séculos XVII e XVIII. 1 edição. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2007.p.178-186.
BRITO, Angelita. Arquitetando Santo Amaro a partir de suas raízes. 1 edição. Venâncio Aires: Traço, 2008.p.198-201.