Lições com Jim Gillespie e Dave Liniger

Minha vida é cheia de situações inusitadas e se existe um bom conselho para você, além do filtro solar é claro, aprenda inglês. Saber falar inglês me colocou em situações que nunca imaginei e que foram muito importantes. Graças ao inglês eu tive a chance de conversar com duas das maiores personalidades do mercado imobiliário americano, Dave Liniger, fundador da RE/MAX e Jim Gillespie CEO da Coldwell Banker.

A história com Dave Liniger é a mais inusitada das duas, a RE/MAX estava chegando ao Brasil eu ainda nem trabalhava nela, mas a convite do Paulo Toledo, um dos responsáveis em trazer a marca para o Brasil e o culpado por minha carreira dentro do imobiliário, fui ao lançamento da marca em São Paulo, um evento com muita gente do setor, todos estranhos para mim, um peixe fora d'água ali. Eu me lembro bem de assistir ao evento ao lado do Paulo e do fato da marca patrocinar um carro de Fórmula 1 na época. Ao final do evento, Paulinho me chama de lado e fala. “Guilherme, você fala inglês, preciso de uma ajuda, o taxi que trouxe o Dave Liniger e os outros executivos (Ricardo Cardenas e Larry Oberly) deu uma puta volta estranha, os caras estão inseguros, pega meu carro e leva os caras pro hotel por favor” e me entregou o cartão do valet. Eu nem tive tempo de dizer nada, quando eu vi, já estava esperando o carro chegar ao lado de Dave Liniger e eu nem sabia qual seria o carro.

Do nada o valet chega com uma Land Rover Discovery 3 top de linha novíssima e me entrega a chave. A pergunta do Liniger foi direta pra mim, “Esse carro é o seu?”, eu não disse nada e acho que aqui, como lá, quem cala consente. De imediato ele olhou para o Cardenas, responsável pela expansão da RE/MAX na América Latina e disse “Estamos com as pessoas certas”. Primeira lição que tive de mercado imobiliário com Dave Liniger, os profissionais do setor reparam no seu status e associam isso ao sucesso, ou seja, crie a sua marca pessoal com base em uma boa imagem.

Enfim, saímos em direção ao hotel e Dave Liniger, sentado do meu lado no banco carona mexia em todos os botões do painel, ele realmente estava interessado no carro e enquanto isso fazia uma entrevista comigo sobre a minha vida pessoal, família e formação educacional, ao mesmo tempo contava vantagens sobre sua vida, como sua atuação heróica no Vietnã, testes de esforço físico sem gravidade que fez na NASA, na sua coleção de carros e aí eu tive a minha segunda lição de mercado imobiliário, bons corretores são agressivos no seu posicionamento e são movidos pelo ego, pelo menos os melhores são assim, precisam se mostrar e marcam seu território dessa forma, ninguém duvida que Liniger foi um dos melhores, alguém tem essa dúvida? Fazer as coisas para o seu próprio ego pode ser um elemento motivador, o seu ego só atrapalha quando ele te impede de fazer o que tem que ser feito. Chegamos no hotel, ele me agradeceu com um semblante aliviado, deve ter sido um perrengue mesmo a ida com o taxista, saiu com sua turma e eu nunca mais esqueci daqueles trinta minutos de trânsito.

Três anos depois, a vida me coloca em uma outra situação muito louca. Na época, eu trabalhava para a Coldwell Banker como consultor em uma tentativa de empresários portugueses de trazer a marca mais importante entre todas da Realogy e a mais tradicional, fundada em 1906. Fui buscar o CEO da empresa, Mr. Jim Gillespie no hotel, eu tinha um bom carro, mas nada fora da curva. Cheguei no hall do hotel dez minutos antes e ele já estava lá me esperando, isso me chamou a atenção, em uma situação normal seria eu esperando, entrou no carro e viemos conversando sobre a cidade de São Paulo, ele estava muito bem impressionado e, assim como Liniger, também me fez perguntas sobre vida pessoal e carreira, isso deve ser um padrão entre CEOs para saber com quem a sua empresa está envolvida, mas fez isso de uma maneira muito polida e sofisticada, a cara da Coldwell Banker.

Durante o processo de lançamento da CB no Brasil foram três dias inteiros convivendo com Jim Gillespie, um MBA de liderança e eu disse isso a ele. Na época, ele acabara de ser eleito o CEO mais admirado nos Estados Unidos por uma publicação importante, mas ele era de uma simplicidade e sempre muito colaborativo. Me lembro do lançamento no Rio de Janeiro, fomos organizar as coisas, banners, caixas com brindes e outros detalhes, Gillespie poderia e deveria ter ficado no hotel, qualquer CEO de uma das mais importantes empresas imobiliárias nos EUA faria isso, ele iria aparecer no momento do coquetel, fazer sua palestra e ir embora para no dia seguinte pegar o seu voo de primeira classe para Nova Iorque. Ao invés disso, ele estava lá carregando caixas, pendurando banner e organizando o alinhamento das cadeiras que seriam utilizadas pelos convidados, calça jeans, tênis e uma camisa suada depois de dez minutos no calor do Rio, aquilo realmente me impressionou. Minha lição com Jim Gillespie foi muito direta, se você quer que as pessoas façam mais do que elas devem fazer, de o exemplo e faça o mesmo. Jim era um líder gentil e servidor, muito alinhado com o que os livros de liderança pedem uma década depois, ele motiva sem dizer nada, apenas sendo o líder.

Obviamente não quero fazer nenhuma comparação, ambos são sensacionais, profissionais de sucesso admirados em suas empresas e no setor de maneira Global, mas depois de dez anos trabalhando no imobiliário e tendo a chance de conhecer profissionais da RE/MAX e Coldwell Banker no Brasil e nos EUA eu tenho a certeza de que a empresa é o reflexo de seuas lideranças, diferente das Leis da Física, no mundo corporativo os opostos se repelem e os iguais se atraem.