Desejo um voto que você consiga apresentar com orgulho no futuro, quando lhe perguntarem o que aconteceu no Brasil em 2018 - e de que lado você estava
Tem uma coisa que precisaremos entender bem, assim que a poeira baixar: em que momento um clown troglodita e cafona, um deputado que só rompia com a sua relativa irrelevância bradando barbaridades diante das câmeras e à frente dos microfones, se tornou um fenômeno capaz de arregimentar o voto e a consciência de mais de 50 milhões de brasileiros?
A maioria das coisas que ele afirma causa ojeriza e vergonha mundo afora. E renderia prisão em flagrante, aqui mesmo no país, por crime de ódio, de preconceito, de discriminação, de agressão, de incitação à violência – coisa da qual ele só se safou porque tem imunidade parlamentar para dizer o que quiser, mesmo os maiores acintes. Como esse discurso e esse personagem abominável perpetrados por Bolsonaro viraram a esperança e a salvação do Brasil?
Como pudemos guindar um ser humano desta categoria afora e acima do seu bolsão de truculência e burrice? O que era apenas mais uma figura tragicômica da política nacional, uma caricatura constrangedora, uma metralhadora de provocações raivosas que eram vistas mais como bizarrices do que como ameaças reais, de repente se tornou mainstream – e entrou na casa das pessoas, e sentou com seus modos grotescos à mesa com as famílias, e agora está prestes a ser institucionalizado no poder com imenso referendum popular. Como isso aconteceu?
O Fenômeno Bolsonaro é de fundamental compreensão. Venha ele a se eleger domingo ou não. Pelo que isso diz de nós, como sociedade. E pelo que isso anuncia sobre o que pode acontecer com o país num futuro próximo. Há um Brasil que os democratas e os liberais desconhecem. Um Brasil profundo, em que os estopins da violência e do obscurantismo estão cada vez mais prontos para acabar com qualquer ideia de sociedade aberta, baseada em valores libertários e iluministas – como humanismo, racionalismo e laicismo.
Gostaria de imaginar que nós somos melhores do que Bolsonaro. E que isso tudo é apenas um enorme equívoco, um precipício com o qual flertamos por imaturidade, um pesadelo do qual vamos acordar. Mas não estou certo disso. Meu desespero não é apenas ver a extrema direita assumindo o poder no meu país – e pelo voto direto. Meu desespero é ver o quanto a agenda de Bolsonaro nos representa de verdade, o quanto estamos nos tornando mesmo uma sociedade ultraconservadora, rude e tosca.
O pior do voto em Bolsonaro é justamente o quanto isso legitima e dá vazão ao que há de pior em nós – a imagem hegemônica que está posta no espelho, diante do nosso rosto, é a de um povo violento, egoísta, escravocrata, insensível, incapaz de exercitar valores como empatia e solidariedade, ou de construir qualquer coisa coletivamente, em especial uma Nação em que todos possam ter acesso aos benefícios da cidadania e do mercado consumidor.
Quanto a essa eleição em si, eu já disse tudo que tinha para dizer. E repito: Bolsonaro sempre foi muito sincero e transparente em suas posições. Não é um cara que precise ser desmascarado, nem o seu discurso tem nuances que precisem ser reveladas. Com Bolsonaro, tudo sempre esteve explícito. A serpente está roçando sua aspereza na cara da gente há meses, sem filtro.
Quem não se demoveu com nada do que foi gritado, quem não se constrangeu com as ofensas que ouviu, quem não sentiu horror, asco, repulsa, raiva diante das ameaças que têm sido reafirmadas por Bolsonaro e sua turma, bem, essa pessoa não se sensibilizará com nada do que eu possa escrever ou deixar de escrever. Aliás, penso que essa pessoa perdeu completamente a capacidade de se sensibilizar com o que quer que seja.
Se você ainda tem alguma dúvida do que fazer dia 28, proponho um exercício simples: liste as pessoas que têm apoiado Bolsonaro. E aquelas que têm se oposto ao projeto de extrema direita que ele representa. Pense em qual dessas turmas você gostaria de estar, qual delas têm o seu DNA, qual delas reúne mais gente que você admira.
Pense em quem você convidaria para jantar em casa. Quem você preferiria que sua filha namorasse. Quem você consideraria o melhor tutor para o seu filho adolescente. Pense em quem representaria melhor o país no púlpito da ONU. Em quem está melhor preparado para dialogar com outros chefes de Estado.
Para domingo, lhe desejo, sobretudo, um voto que você possa justificar a seus filhos pequenos, na mesa de jantar. E que esteja em linha com os valores e princípios que você cultiva em sua casa. E que você consiga apresentar com orgulho muitos anos no futuro, quando alguém lhe perguntar o que aconteceu no Brasil em 2018 e de que lado você estava.
Consultor de RH.
6 a...o inverso também se aplica a questão, creio que a análise do outro lado também seria de grande valia e justo, afinal o outro lado representava o que a maioria da população não queria o retorno de um partido que levou o país para o abismo. Medidas extremas para problemas extremos. A maioria do povo entendeu o que significava a volta desse partido das trevas. O Brasil quer mudanças e não seria com um presidente que recebe ordens de um presidiário. Isso sim é vergonhoso e com certeza o Brasil não confia nada nas mãos de petistas e outros partidos satélites de apoio ao domínio. Eu não confiaria um real na mão desses que queriam voltar para terminar de transformar a LATAM num grande bloco vermelho. Fico feliz em contribuir com meu voto pela mudança e no "peteleco" no poste do PT e outros parasitas do poder.
Storytelling Strategist | Creative Producer | Narrative Designer | Storyteching Evangelist | Communication Panelist | Comic Book Teacher | Father and Incorrigible Optimist
6 a; )
Representante Freywille Canadá, Estados Unidos, Caribe e Brasil
6 aExcelente artigo Adriano! Vc colocou em palavras tudo que sinto! Estou sendo “apresentada” à um povo que achei conhecer; sempre elogiei e admirei meu povo! Hoje ... isto mudou, estou envergonhada! 😢
Generating value through Artificial Intelligence
6 aSinceramente, caro Adriano, nenhum voto que possa ser teclado por algum cidadão brasileiro neste domingo será motivo de orgulho no futuro. As opções são péssimas. É escolher entre o ruim ou péssimo. O futuro terá que esperar mais 4 anos...