Metamorfosear é preciso!

Metamorfosear é preciso!

Sempre me senti desconectada da minha idade cronológica. E na nossa cultura ela é altamente impactante. Como se existissem "standarts" que devem ser atingidos, cada um na idade “coletivamente instituída” como marco. Se você atinge está adequado.

Qual a lógica disso se somos todos diferentes e nossa idade cronológica nada tem a ver com a forma, tempo e processo de cada um de nós nessa linda e fantástica aventura que é viver?

No meu caso, por exemplo, minha idade cronológica sempre esteve disparadamente distante da minha “idade energética”, se pudermos chamá-la assim. E todas as vezes que tentei entender minhas experiências do ponto de vista cronológico, só consegui como resultado ansiedade e angústia.

Minha infância foi séria. Eu era observadora. Tímida. Preocupada. Um pouco triste, talvez. Tinha diálogos internos enormes. Elaborados. Analisando e projetando tudo. Gostava de ficar sozinha. De ler e estudar. Talvez tivesse como idade energética o correspondente aos 50 anos cronológicos. Ou mais.

Aos 16 anos penso que vivi o correspondente aos 25. Muitas mudanças e decisões. Muito mais ousadia do que se têm nessa idade. 15 anos cronológicos de ousadia acumulados! Os cabelos ficaram ruivos. Decidi morar no sul. E assim o fiz, aos 17.

Aos 21, vivi várias idades diferentes. Os 35, quando o relógio biológico começa a falar mais alto e a mulher engravida; os 18, mudando de faculdade e começando a cursar o que realmente me interessava, os 30, casando com um homem 14 anos mais velho e passando a conviver com pessoas com idades, objetivos e dia a dia completamente diferentes. Os 40, me tornando mãe.

Aos 24 vivi os 20, quando de profissional de uma escola, me tornei estagiária de uma indústria. Vista por muitos como um ET – uma estagiária com essa “enorme” diferença de idade, casada e mãe?!

Aos 25, os 21 - com o “1o emprego” na minha área 

Aos 34, vivi os 18/19/20. Junto com os 40 e poucos. Me separei. Comecei a sair. A “ficar”. Namorar. Fazer amigos. Tudo o que não tinha vivido dos 18 aos 20. Tive namorado estagiário de 20 anos, viajei muito com amigos, virei noite. Bebi, tive ressaca, fiz bagunça. Muita bagunça. Ao mesmo tempo em que trabalhava como alguém de 30. E  lidava com problemas sérios de separação, ex-marido e filhos. Como alguém de 40 e poucos. 

Não tive crise dos 40. Ao contrário, nessa idade vivi a alegria da plenitude da idade cronológica dos 30. Estabilidade e sucesso profissional, autonomia, independência, vida bacana e perfeita.

Aos 40 e poucos vivi a reclusão, interiorização e autorreflexão que a teoria dos setênios atribui ao período que começa aos 56.

E agora estou começando a viver meu primeiro setênio. Que vai dos 0 aos 7. Hora de oportunizar o movimento livre. A corrida. As brincadeiras. O corpo com seus limites e percepções do mundo. Valorizar o espaço físico, do pensamento e do viver espiritual. 

Minha experiência de vida me tornou realmente incapaz de entender padrões cronológicos como algo lógico e válido.

Como profissional de Recursos Humanos também sempre questionei o fator idade – assim como o gênero – como limitadores para grande parte dos processos seletivos, por exemplo.

A desvalorização com que tratamos profissionais no auge do seu conhecimento, experiência, produtividade e possibilidade de contribuição com os resultados, por estarem “velhos”, sempre me incomodou.

Não estou sugerindo priorizar uma faixa etária mais velha em detrimento de uma mais nova, mas simplesmente, que esse não é um indicador relevante para medir competência, comprometimento e resultado.

Rotulamos pessoas. Rotulamos tempos.  Rotulamos histórias. Idade cronológica deveria servir apenas para medir fatores ligados ao tempo cronológico. Conheço idosos de nascimento. Idosos com 5, 18, 30, 40, 50, 80, 100. E conheço pessoas no auge da sua energia e produtividade com as mesmas idades.

E ai se determina que após x anos de trabalho, eu, tu, ele, nós vós e eles devemos nos aposentar.

Existem pessoas que estão prontas. Se prepararam durante a vida. Tiveram sabedoria, talvez, de perceber que grande parte do que é valioso na juventude vai perdendo o valor na maturidade. E foram fazendo substituições. Outros no entanto percebem isso quando a idade chega. E estes também, mesmo que tardiamente, precisam se preparar. Fazer mudanças. Descobertas. Criar valor e sentido para o novo momento de suas vidas. 

Existem os que não gostam de trabalhar. Que sonham com a aposentadoria desde sempre. E os que amam sua identidade profissional. Pra quem parar é amputar um pedaço de si. E privar o restante do mundo de muita competência e aprendizado. 

Como então, tratar a todos da mesma forma? Dá pra mudar o olhar? Parece utópico, eu sei, mas o que será da vida se não pudermos pensá-la como uma grande e linda utopia com final feliz?

E se mudarmos o nome “aposentadoria” para algo que faça mais sentido, como “metamorfose”, por exemplo?

E se tratarmos o conceito de “metamorfose” separado do conceito de “previdência”? Esse sim, devendo estar acessível a todos no momento em que o relógio biológico de cada um assim o disser?

E se pensarmos a “metamorfose” como uma opção de mudança, transformação e ajuste de rota? Que nada tem a ver com idade e tempo de trabalho, mas com escolhas, opções e momentos de vida? E como tal disponível quantas vezes eu quiser ou julgar necessário me reinventar. Recomeçar.

Que conceito lindo! Esse sim, aderente a minha forma de entender o mundo. Porque a única certeza que temos é que nosso tempo aqui é limitado e que se tudo correr bem, nenhum de nós escapa a idade.

Que você não resista a mudança! Se permita viver muitas e muitas metamorfoses. Cada uma mais mágica e enriquecedora que a anterior. E viva em plenitude quantas possibilidades for capaz de criar!

Ubiratan F Castellano

Energy Professional - Associated Consultant at Independent Consulting, POLI/USP, CPTEn UNICAMP

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uhauh :)

Luis Miari

Desenvolvimento de Novos Negócios em TI | Parcerias Estratégicas | Inovação | Transformação Digital

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Existe antes? Sim existiu - passado. Qual é o tempo? É o agora - presente. E as possibilidades? você já disse, são aquelas que nos permitem criar - a capacidade de se reinventar e novamente passar pela metamorfose apesar do tempo.

Luis Miari

Desenvolvimento de Novos Negócios em TI | Parcerias Estratégicas | Inovação | Transformação Digital

8 a

Stella, sempre bons seus pensamentos traduzidos em texto. Penso que quando jovens tentamos antecipar essa metamorfose e acabamos pintando a borboleta antes do tempo. Mas como você de forma apropriada expressou "Se permita viver muitas e muitas metamorfoses".

Christina Canto

Head of Sales/ Conselheira no Conselho de Inovação e Tecnologia da ACRJ/ Especialista em Gestão Comercial, MKT, Novos Negócios e Parcerias -Soluções de Tecnologia para Segurança, Inovação,Transformação Digital e Loyalty.

8 a

Excelente Stelinha!!!

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