Não aguentamos mais: mulheres são as que mais sofrem com burnout na pandemia
Cuidar da casa, dos filhos, das exigências do chefe, do casamento. Todas essas tarefas, que as mulheres já desempenhavam antes de 2020, foram agravadas durante a pandemia, levando a estatísticas preocupantes.
A pesquisa Women in the Workplace 2021, feita pela consultoria McKinsey & Company e pela organização LeanIn, concluiu que 42% das mulheres tiveram sintomas da Síndrome de Burnout no ano passado. Enquanto isso, para os homens, a porcentagem foi de 35%.
Primeiramente observado pelo psicanalista alemão Herbert Freudenberger em 1974, o Burnout foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde como síndrome em 2019 e está no rol das doenças mais frequentes durante a pandemia.
Exaustão, menor identificação com o trabalho e sensação de redução da capacidade profissional são os principais sintomas da síndrome. As mulheres, na pandemia, se viram em uma situação extremamente desgastante, principalmente as mães, que precisaram cuidar dos filhos enquanto trabalhavam.
Uma análise da empresa de consultoria Great Place to Work e da startup de saúde Maven observou que mães com empregos remunerados têm 23% mais chances de sofrer de burnout que pais empregados. Estima-se que 2,35 milhões de mães que trabalham fora nos Estados Unidos sofreram de esgotamento profissional, especificamente "devido às demandas desiguais da casa e do trabalho".
Sim, nós mulheres já tivemos muitas conquistas na luta pela busca da equidade com os homens, mas ainda precisamos desempenhar algumas funções praticamente sozinhas, como cuidar dos filhos.
O burnout parental é uma realidade e se aplica aos pais e mães, mas estas sofrem mais. O terceiro turno virou turno integral durante a pandemia, jogando uma luz maior nas diferenças de gênero dentro de casa e também no trabalho, onde as mulheres se viram mais cobradas e, por isso, mais estressadas. Não fosse suficiente, ainda há o agravante de receber menos que os colegas homens no mesmo cargo.
O gap salarial entre homens e mulheres ainda está longe de acabar, principalmente no Brasil. Segundo relatório Global Gender Gap de 2020, do Fórum Econômico Mundial, o país ocupa a 93ª posição em um ranking que analisa as nações conforme o índice de diferença nos salários de homens e mulheres. A lista possui 153 países.
As incidências de burnout entre mulheres são maiores por causa de diferenças em condições de trabalho e do impacto do gênero no avanço profissional. Pesquisadores da Universidade de Montreal, no Canadá, concluíram, em 2018, que mulheres eram (e ainda são!) mais vulneráveis ao chamado burnout que homens porque elas tinham menos chances de ser promovidas que eles e, portanto, eram mais propensas a estar em posições com menos autoridade, o que leva a maior estresse e frustração.
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A pesquisa ainda concluiu que o esgotamento mental também era mais propícios em mulheres porque nós somos mais propensas a liderar famílias, experimentar tensões ligadas às crianças, investir parte de nosso tempo em tarefas domésticas e ter mais baixa autoestima.
Dicas de como evitar uma crise de burnout
As escolas voltaram às aulas presenciais, as mulheres estão novamente saindo de casa para trabalhar, mas as marcas da pandemia vão continuar ainda por alguns anos. Apesar de toda nossa resiliência, e por isso parece que damos conta, não aguentamos mais. Não aguentamos ter que provar para o mundo que somos tão competentes quanto os homens. Não aguentamos mais ouvir que o homem deve “ajudar” em casa, como se esse fosse o verbo correto para dizer que eles devem dividir as atribuições como companheiros e como pais. Simplesmente não aguentamos mais e, por isso, nos esgotamos.
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Kadydja Albuquerque é jornalista e sócia do Conversa Estratégias de Comunicação Integrada