O looping de tarefas a cumprir na jornada das mulheres

O looping de tarefas a cumprir na jornada das mulheres

Todas sabemos que a jornada profissional das mulheres é uma experiência desafiadora, que ela vai muito além das horas dedicadas ao trabalho remunerado. Para muitas mulheres, a rotina diária se estende significativamente após o expediente, englobando responsabilidades domésticas, cuidados com os filhos e suporte ao cônjuge. Esse cenário, onde as obrigações profissionais se misturam com as tarefas domésticas, apresenta uma sobrecarga significativa para as mulheres e reflete a persistente desigualdade de gênero na divisão de trabalho dentro de casa.

Segundo uma pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres dedicam, em média, 4 horas e 25 minutos por dia a trabalhos não remunerados, incluindo tarefas domésticas e cuidados familiares, enquanto os homens dedicam apenas 1 hora e 23 minutos. Essa diferença evidencia a sobrecarga de responsabilidades que as mulheres enfrentam, impactando seu bem-estar e desempenho profissional.

Além disso, um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que, no Brasil, 91,7% das mulheres realizam afazeres domésticos e/ou cuidam de pessoas, comparado a 71,9% dos homens. Esse desequilíbrio não apenas perpetua estereótipos de gênero, mas também impede que muitas mulheres alcancem uma verdadeira igualdade no ambiente de trabalho e em casa.

Expectativas de papéis de gênero

A extensão da jornada de trabalho das mulheres é exacerbada pelo fato de que muitas delas ainda enfrentam a pressão de atender às expectativas tradicionais de gênero, que incluem ser uma mãe dedicada e uma esposa atenciosa, além de uma profissional competente. Essa "dupla jornada" é muitas vezes triplicada para mães solteiras ou mulheres que são as principais provedoras de suas famílias. Em muitos casos, as mulheres não têm escolha a não ser assumir múltiplos papéis, o que pode levar ao esgotamento e a problemas de saúde mental.

A pandemia de COVID-19 acentuou ainda mais essas desigualdades. Com o fechamento das escolas e a necessidade de trabalhar remotamente, muitas mulheres se viram na posição de gerenciar suas responsabilidades profissionais ao mesmo tempo em que assumiam o papel de educadoras e cuidadoras em tempo integral. Segundo uma pesquisa da consultoria McKinsey, em parceria com a LeanIn.Org, mulheres são 1,5 vezes mais propensas do que os homens a relatar que gastam três ou mais horas por dia em tarefas domésticas adicionais devido à pandemia.

A percepção de que o trabalho doméstico e os cuidados familiares são principalmente responsabilidades femininas tem raízes profundas em normas culturais e sociais. No entanto, essa divisão desigual de trabalho não é apenas injusta; também tem implicações econômicas. Um estudo da PwC indica que, se as mulheres tivessem a mesma participação no trabalho remunerado que os homens, isso poderia adicionar até 28 trilhões de dólares ao PIB global até 2025.

Para mitigar essa desigualdade, é crucial que haja uma mudança tanto na esfera doméstica quanto no ambiente de trabalho. No âmbito doméstico, a redistribuição das tarefas entre os membros da família é essencial. Isso requer não apenas um diálogo aberto entre parceiros, mas também um compromisso compartilhado com a equidade. Educar os filhos sobre a importância da igualdade de gênero desde cedo pode também ajudar a moldar uma nova geração que valorize e pratique a divisão igualitária de responsabilidades.

Qual o papel das empresas?

No ambiente de trabalho, as empresas têm um papel fundamental a desempenhar. Políticas de trabalho flexíveis, como horários flexíveis e a possibilidade de home office, podem ajudar as mulheres a equilibrar melhor suas responsabilidades profissionais e domésticas. Além disso, a implementação de programas de apoio, como creches no local de trabalho e licenças parentais remuneradas, é vital. Empresas que promovem a equidade de gênero e apoiam suas funcionárias são não apenas socialmente responsáveis, mas também se beneficiam de maior produtividade e satisfação dos empregados.

Finalmente, é necessário um esforço contínuo para desafiar e mudar as normas culturais e sociais que perpetuam a desigualdade de gênero. Isso inclui campanhas de conscientização e educação, bem como o apoio a políticas públicas que promovam a igualdade de gênero.

A transformação também acontece em casa

A jornada profissional das mulheres é complexa e multifacetada, e requer um esforço coletivo para ser equitativa. Reconhecer e abordar a extensão das responsabilidades das mulheres é um passo crucial para criar uma sociedade mais justa e igualitária. 

A transformação também deve acontecer em casa. Maridos, filhos e familiares precisam se conscientizar e passar a fazer parte também das tarefas domésticas. Não “ajudar”, mas sim, participar. Dividir obrigações e entender que, assim como eles, a mulher também tem o direito de chegar em casa e descansar ao invés de chegar e se sobrecarregar de mais trabalho em um looping de tarefas a cumprir que parece eterno. 

E esta consciência deve se estender para todos os aspectos da vida, incluindo o ambiente de trabalho e as políticas públicas. Só assim poderemos garantir que a jornada das mulheres não acabe quando elas batem o cartão, mas que continue de maneira equilibrada e justa.

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