Não precisamos de Heróis, queremos Líderes Colaborativos!
Liderança sempre esteve presente na História da humanidade. Nossos ancestrais primatas já tinham manda-chuvas para liderar seus bandos. Claro que em tempos remotos, o critério vinha da força física, capacidade reprodutiva e habilidade em agenciar a busca de alimentos. O conceito de liderança evoluiu, mas atravessou milênios sob um modelo de poder absoluto, tirânico, intimidador, que não aceitava questionamentos e sempre tinha todas as respostas. Estão nesta galeria faraós, déspotas, ditadores, capitães de indústria, chefetes e muitos outros atores que nos empurraram adiante, de alguma maneira, em nossa aventura civilizatória.
O grande problema é que ainda são encontrados nas organizações líderes poderosos que obedecem a esta moldura anacrônica, centralizadora, narcisista, que não escuta, gera medo e intoxica o ambiente. Matam a criatividade, negam autonomia, destroem o bem-estar, o senso de pertencimento, o engajamento das pessoas. Por quê ainda vemos tal absurdo se atualmente só desejamos ambientes de segurança psicológica, criatividade e diversidade, e valorizamos tanto, ao menos na teoria, líderes com os tais soft skills? Talvez porque a balança de muitas empresas ainda penda para a entrega de resultados de curto prazo, mesmo que obtidos a sangue e desespero, e ainda que tragam consequências nefastas a longo prazo.
Além de termos que urgentemente desativar esta armadilha diabólica, é preciso reaprender um conceito essencial sobre liderança. Por tantos séculos, acreditamos que o bom líder é o super-herói infalível, que tudo sabe e tem todas as soluções. O desafio é enorme porque as narrativas de nossa sociedade nos fazem acreditar ingenuamente em líderes míticos invencíveis, grandes salvadores da pátria, políticos messiânicos, gênios que teriam vencido guerras, criado invenções, reformado Estados, erguido impérios, sem a cooperação de ninguém. Isso é uma tremenda mentira e injustiça com tantos atores que viabilizaram empreendimentos que, no fundo, são sempre coletivos.
Claro que precisamos valorizar as contribuições únicas de mulheres e homens que transformaram suas organizações e mudaram o mundo com sua grande capacidade de liderança e talentos preciosos. É importante reverenciá-los, cultivar seus exemplos, disseminar seus bons princípios. A 3M tem seu William McKnight, a Magalu tem a Luiza Trajano, a IBM tem o Thomas Watson, a Natura tem seu triumvirato Seabra, Leal e Passos. Mas eles não fizeram nada sozinhos. E nós não podemos ficar apegados a esta visão nociva de heróis solitários. Não devemos emular esta persona irreal do mito infalível que pretensamente resolve tudo sozinho. Jogar fora este figurino é libertador, saudável e muito positivo para os ambientes organizacionais que queremos construir, com mais criatividade, comunicação, colaboração e humanidade.
Gosto de citar o verso cantado pela artista Tina Turner no filme Mad Max de 1985 que bem se encaixa no que penso para o contexto das organizações e nações dos tempos atuais: "We don´t need another Hero". Sim, as organizações não precisam de mais um novo herói. E olha que por muitos anos pensei que nossa missão como líder deveria ser a busca da perfeição. Mea Culpa! Os próprios sistemas de avaliação das empresas ajudaram a nos insuflar estas perspectivas, se concentrando por décadas na cultura do gap, na obrigatoriedade de apontar e corrigir fraquezas, de nos estimular a tirar a nota A em mil comportamentos. É fato que precisamos melhorar sempre, escutar feedbacks, corrigir comportamentos inadequados, desenvolver talentos, ser nossa melhor versão a cada tempo. Mas hoje vejo claramente que cada um tem suas forças e que nunca seremos perfeitos em tudo. E isso é muito bom, representa perfeitamente a beleza desta condição humana imperfeita e aponta para o grande valor de atuarmos em times, colaborativamente, integrados com pessoas que possuem diferentes talentos, experiências e conhecimentos.
O líder que as organizações precisam hoje se reconhece como vulnerável e falível; se dedica ao auto-conhecimento e conhece suas forças, buscando aplicá-las na sua vida, mas entende que é imperfeito, mantendo sempre a disposição em aprender; não tem apenas certezas e respostas prontas, mas consegue construir caminhos de maneira colaborativa; não se percebe como auto-suficiente e se conecta com uma equipe de talentos complementares.
Essa é a essência da liderança colaborativa. Ela mantém sua responsabilidade por resultados, toma decisões, coordena e dá ritmo, valida escopos e molduras, redireciona quando necessário, mas caminha com humanidade e abertura, buscando a co-criação, dando espaço para sua equipe opinar, discordar e florescer, criando um ambiente saudável, de confiança, autonomia, crescimento, com base na valorização das pessoas.
Por menos líderes centralizadores, egocêntricos e heróis solitários; por mais líderes humanos, vulneráveis, conscientes e colaborativos!
P.S.: Se você concordou com a abordagem sobre este novo paradigma de liderança, eu e alguns bons amigos co-criamos e lançamos um curso batizado de "The Leadership Way", com 6 caminhos para uma liderança com mais Criatividade, Adaptabilidade, Colaboração, Humanidade, Comunicação e Consciência. Sou o Guia do Caminho da Colaboração. Estamos todos entusiasmados para compartilhar, aprender e colaborar. Para saber mais: www.leadershipway.com.br
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Prof. dr. João Brilllo, Coaching for Sustainable Innovation
3 aParabéns, Serafim! Linguagem e metáforas claras explicando a necessidade do desenvolvimento de líderança colaborativa para fazer face aos desafios do nosso século.
Inovação > Cultura > Estratégia > Liderança
3 aParabens pelo texto, suscita reflexões importantes sobre liderança, ambiência, potencialidades individuais e complementaridade do time. Gostei em especial do trecho da falácia do gênio, do mito do empreendedor solitário, extremamente desleal para com o time que contribuiu para a construção do feito apreciado. Sem dúvida esses seis caminhos para a liderança têm muito a nos ensinar. Feliz demais por ter a oportunidade de acompanhar as lives, já me inscrevi e estou me deliciando com o e-book. "A abelha rainha não manda, ensina". Ah, como quero aprender com vocês!🐝
Uau, parabéns Luiz Serafim por mais essa iniciativa! Adorei a ideia do www.leadershipway.com.br já me inscrevi para acompanhar os próximos passos. Bora formar uma nova geração de líderes criativos preparados para a Economia da Paixão !!!
Treinador | Mentor de Líderes e Negócios | Coach de Carreira | Speaker
3 aMuito boa sua reflexão, meu amigo Serafa! Alinhar estruturas, sistemas e mentalidade e ao mesmo equipar o time a colaborar - não é fácil - mas é um caminho sem volta, sem dúvida.
Gerente de Projetos | PMO | Scrum Master | PSM I
3 aConcordo 1000%.