Novas tábuas de valores
Ideias densas são pontos de partida que requerem reflexão acurada e isso está em falta ultimamente. Não é uma crítica destruiva desconhecer algo relevante, mas em se subtrair de conhecer o considerável. Se destituir da abertura dialógica tanto para entender regimes políticos e o impacto que provocam no indivíduo quanto compreender e às vezes aceitar o trajeto da vida, esse percurso do übermensch. O que acontece na atual geração, com poucas exceções, na minha visão encurtada por uma série de falsos entendimentos e também pela ausência de conhecimento profundo na temática, é reflexo do apagamento da ética, elemento intangível que muitos desconhecem e poucos querem conhecer. Falo dela em três acepções e quem sabe uma delas sirva de base para refinar a conduta de alguns indivíduos e com isso gerar pessoas melhores para o mundo e não “um mundo melhor para pessoas”, como é largamente disseminado pelos eufemistas midiáticos. O que se espera, antes de mais nada, não é a ética ilustrativa, àquela estacionada na memória, mas a ética da ação, a ética de tentar ser melhor para se superar e não retratar ou agir com a falsa moral. Também não é a ética deontológica de Kant, onde se valoriza a intenção da ação de acordo com o dever, independente das consequências. Nem a ética teleológica, consequencialista, sustentada nas boas ações mensuradas pelas consequências. E muito menos a ética teológica, denominada também de teologia moral, onde se estuda as ações humanas a fim de ordená-las em função da vontade de Deus. Estou me referindo à ética com vontade de potência de se aprender “valores para além de bem e mal”. E, para aprender esses valores para ser essa pessoa melhor, é preciso se despojar da fraca moral que domina o rebanho. Dessa falsa moral de ressentimento, de vingança. Abolir a moral decadente, a moral que o tipo humano fraco não enxerga na sua míope visão e atribui ao outro seu fracasso, culpa os outros pela sua decadência. É preciso mudar esse centro de “vontades de potências negativas” desse sujeito debilitado que mora em nós e encarar o “além-do-homem como sentido da Terra”. Esse homem-velho deve ser superado e com ele sua falsa moralidade com valores decadentes de base metafísica. Não ser uma pessoa que renuncia aos valores, mas um ser “que afirma valores para uma vida sem refúgios no além”. Transmutar todos os valores que conceberam um tipo humano medíocre para a “transvaloração de todos os valores”, ou seja, erigir “novas tábuas de valores”. Valores que não mais concebem humanos fracos, vingativos, que odeiam este mundo, que estão ressentidos com relação aos mais fortes, mas tipos de humanos que amem esta vida sem necessidade de recorrerem a uma vida além-túmulo. Se livrar dessa visão e amar a vida mesmo com os sofrimentos, como amor fati. Não se trata de amar o sofrimento, mas a vida que não existe sem sofrimento. Amar não é reclamar da vida, mas viver a cada instante em toda sua intensidade. E quem sabe se o homem se concentrar em viver e ser melhor nesta vida, também consiga e quem sabe influencie uma nova sociedade mais saudável. Uma pessoa melhor para o mundo.