“Deus me livre de mulher CEO” - Será que ainda precisamos ouvir isso?

“Deus me livre de mulher CEO” - Será que ainda precisamos ouvir isso?

Uma declaração polêmica do empresário Tallis Gomes, fundador da G4 Educação, Easy Taxi e Singu ganhou repercussão online e offline nas últimas semanas. Em resposta a uma pergunta sobre se relacionar com uma mulher que ocupa o cargo de CEO, Tallis afirmou que isso resultaria na "masculinização" da líder e que a vida familiar dela seria deixada de lado. A polêmica começou no Instagram, quando o executivo publicou um post dizendo "Deus me livre mulher CEO", ao responder uma pergunta de um seguidor sobre se estaria noivo de uma mulher que ocupava esse cargo. Como mãe, empresária e responsável por liderar uma equipe talentosa, não posso me calar diante de uma visão tão ultrapassada e prejudicial ao nosso avanço no mercado de trabalho.

Quando uma mulher alcança uma posição de liderança, os desafios vão muito além das demandas da gestão empresarial. Frequentemente, somos confrontadas com preconceitos velados ou até explícitos, que colocam em dúvida nossa capacidade de equilibrar carreira e vida pessoal. A suposição de que precisamos escolher entre o sucesso profissional e a construção de uma família está enraizada em estereótipos arcaicos e ultrapassados, que não levam em consideração nossa habilidade de desempenhar múltiplos papeis com excelência.

Ser CEO, liderar uma equipe, ou estar à frente de um grande projeto, não é uma questão de gênero, mas de competência, estratégia e visão. Eu, assim como inúmeras outras mulheres, equilibro as responsabilidades do trabalho com as demandas familiares. A capacidade de multitarefa que desenvolvemos nos dá uma vantagem no mercado, fortalecendo nossa habilidade de gerenciar prioridades e de solucionar problemas com eficiência. Contudo, ainda assim, o mercado de trabalho impõe barreiras invisíveis para quem busca ocupar cargos de liderança.

A fala de Tallis reflete um preconceito presente de forma silenciosa no ambiente corporativo. A ideia de que "não estamos preparadas" ou "não conseguimos lidar com a pressão" em cargos de alta gestão é uma crença infundada. Diversos estudos mostram que empresas com maior diversidade de gênero em posições de liderança têm maior capacidade de inovação e são mais produtivas. A presença feminina no topo das organizações não é apenas uma questão de representatividade; é uma questão de vantagem competitiva. Após a divulgação da fala polêmica, Tallis Gomes se afastou da direção executiva da G4 Educação e Maria Isabel Antonini se tornou a nova CEO. Tallis também não faz mais parte do conselho da marca de lingeries Hope

Com anos de experiência em treinamentos e mentorias em diversas empresas, posso afirmar que as mulheres têm o poder de transformar ambientes de negócios. Ao contrário do que foi dito, a liderança feminina não representa "masculinização". Trata-se de uma oportunidade para ampliarmos nossas capacidades, explorarmos novas formas de gerir e, acima de tudo, mostrar que somos capazes de equilibrar vida pessoal e profissional. O olhar feminino traz uma abordagem mais inclusiva, colaborativa e empática, atributos essenciais para a sustentabilidade e sucesso no longo prazo.

A ideia de que precisamos "abrir mão de nossa essência" para sermos boas líderes é equivocada. O que realmente precisamos é de oportunidades iguais, espaços abertos e o fim dos preconceitos que ainda limitam nossa ascensão. A liderança feminina não é uma exceção e, muito menos, uma ameaça. Ela já é uma realidade que veio para ficar.

Empresas que apostam na diversidade colhem os frutos de um ambiente de trabalho mais equilibrado, motivado e criativo. A liderança feminina é um diferencial competitivo. E eu me orgulho de ser parte dessa mudança. Nós sabemos o que podemos conquistar e estamos cada vez mais preparadas para ocupar o lugar que também é nosso por direito. Homens e mulheres não só podem como devem trabalhar juntos, unindo forças, respeitando-se mutuamente e gerando cada vez mais debate e crescimento.

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