Saúde mental e gênero: por que sintomas de homens e mulheres são tratados de forma diferente?
A professora e doutora Valeska Zanello realizou um trabalho analisando prontuários de saúde mental de homens e mulheres e constatou uma realidade que se reflete na forma como os tratamentos sociais e médicos são diferentes para os dois gêneros.
No podcast “Saúde Mental e Gênero”, disponível no Spotify, Valeska conta como comparou prontuários e percebeu que mulheres eram diagnosticadas com transtornos mentais comuns (como depressão e ansiedade), e os homens, em geral, recebiam diagnósticos mais graves (como psicose ou retardo).
De acordo com ela, já na observação dos sintomas, foi possível perceber uma diferença grande entre os gêneros:
Estas informações deixam claro um preconceito de gênero: embora mulheres também apresentem queda na libido ou falta de motivação, para elas o sintoma era algo genérico que desqualifica os sintomas femininos e que significa tudo e nada ao mesmo tempo. Da mesma forma, a obesidade também estava presente nos homens, mas isso não era considerado um sintoma “relevante”.
Quando o clínico simplesmente assinala o choro da mulher como “imotivado”, ele acaba por invisibilizar as reais razões que a levam a chorar. Em um dos casos citados pela Dra Valeska, o choro era resultado de uma depressão causada por anos de estupro no casamento. O que acabou por acender outro alerta: a invisibilidade da violência contra a mulher na saúde mental.
Na pesquisa, a doutora destaca três pontos:
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Valeska se perguntou então, o que levam mulheres e homens a sofrerem esta quebra psíquica na saúde mental:
De acordo com suas análises apresentadas no podcast, Valeska relaciona as doenças mentais mais comuns às mulheres (depressão e ansiedade) como uma consequência de um papel histórico de silêncio: mulheres aprenderam a ficar quietas, especialmente diante de homens, pelo bem estar dos outros e das relações. Para ela, “as mulheres engolem as palavras e implodem psiquicamente”.
Em seu podcast, a Dra Valeska Zanello analisa os papéis de gênero estabelecidos historicamente e quais as consequências na saúde mental de homens e mulheres.
Estas análises destacam como os diagnósticos acabam por ser influenciados por sintomas que se apoiam mais em gênero que em fatos. Por exemplo: um dos sintomas da depressão é o choro. Em nossa sociedade, onde homens aprendem a “não chorar”, mulheres acabam por expressar mais a tristeza através do choro. Consequentemente, mulheres são diagnosticadas com mais frequência com depressão.
Para Valeska, todo este processo de sintomas e análises de sintomas de problemas de ordem de saúde mental em homens e mulheres precisa ser revisto. A igualdade de gênero, que tanto falamos por aqui, precisa chegar aos consultórios também e homens e mulheres serem tratados da mesma forma.