O Tempo "O que esperar dele?"
Na década de 1980 até meados dos anos 1990, as coisas eram bastante diferentes do que encontramos hoje no Brasil, tanto no mundo corporativo quanto na vida pessoal.
Acho que muitas pessoas já escreveram artigos sobre isso, mas vale aqui uma reflexão sobre alguns pontos no mundo corporativo e na sociedade que foram marcantes para mim.
- Ser formado - não era fácil, não que hoje seja, mas na época somente pessoas de classe média ou ricos conseguiam fazer um curso em instituições particulares, alguns poucos casos conseguiam que a empresa financiasse para ele, outros poucos casos conseguiam o chamado crédito educativo (hoje FIES) e os muito inteligentes e sortudos, independente da classe social, conseguiam se destacar nas faculdades federais ( porque sortudos? Porque na época muitas vagas eram vendidas por debaixo dos panos para os filhos de executivos e empresários, reduzindo as chances das pessoas inteligentes ingressarem nessas instituições ).
- Ser qualificado - os profissionais eram avaliados apenas pelo seu resultado operacional ou pelo bom relacionamento com o chefe, muitas pessoas ganharam sua primeira oportunidade como líderes por se destacarem nas suas funções anteriores, independente de terem curso superior ou não, sem treinamento e qualificação assumiam o desafio, isso transformou o perfil de líderes no Brasil, principalmente nas organizações familiares, ocasionando reflexos negativos até hoje, pois os novos líderes ainda carregam um formato desatualizado de gestão e isso fica claro nas atitudes e nas dificuldades encontradas nas equipes, talvez por terem aprendido com esses antigos profissionais ou pela cultura das organizações, na época, já existia um movimento contrário nos Estados Unidos de metodologias diferentes de gestão, e que somente hoje são utilizadas pelas consultorias no Brasil na formação de líderes, ou seja, estamos muito atrasados no processo inovador de liderança, nem sabemos ao certo se a referência seria mesmo os Estados Unidos ou se o modelo ideal para tomarmos como base seja algum país europeu ou asiático, quem sabe? Vivemos focados em um único modelo por tantos anos e nem nos damos o direito de criar o nosso modelo, adequado para nosso país, infelizmente perdemos muito com isso, pois poderíamos ser exemplos de superação e determinação.
- Ser vendedor – era um desafio, mas ao mesmo tempo era uma forma de se ganhar dinheiro sem formação universitária, apenas o conhecimento como base, o que quero dizer é que toda vez que uma pessoa não tinha direcionamento profissional, ou ainda que não tinha interesse por nenhuma função existente, era arremetido a área comercial e assim, criaram os grandes vendedores, alguns já se aposentaram, outros ainda estão no mercado de trabalho como vendedores, professores, palestrantes, gerentes ou diretores de vendas ou até montaram seus próprios negócios e são empresários, na época não existia cursos voltados para vendas, como hoje existe (Pós graduação e MBA), ser vendedor era uma mistura de oportunista com o “charlatão”, uma característica que vem sendo desmistificada pouco a pouco pelos bons profissionais. Conheci vendedores que ganharam muito dinheiro, compraram casas, carros e tiveram uma vida bastante diferenciada, ganharam mais do que empresários, encontraram oportunidades nas crises e venderam muito, fizeram bons relacionamentos, se mantiveram no mercado por anos e sua carteira de clientes foi repassada de pai para filho. O trabalho de vendas hoje se profissionalizou e muitas coisas mudaram em relação aos ganhos, mas temos ainda profissionais ganhando boas comissões e premiações. Vendas hoje, passou a ser reconhecida como profissão e diversos métodos e técnicas se diferenciaram do que era antes, pois passamos a vender soluções, vender valor e transformar a vida ou os negócios de nossos clientes.
Ser Generalista ou Especialista – Foi difícil dizer o que era o certo naquela época, de tempo em tempo mudava muito a visão das empresas, pensavam que o profissional que conhecesse um pouco de tudo fosse o diferencial, mas aos poucos e principalmente hoje, ser especialista tomou uma proporção muito grande, as empresas começaram a recrutar pessoas pelo seu grau de conhecimento em determinado assunto, promoções em Y ou W ampliam os horizontes daqueles que não querem ser líderes, hoje pensasse em especialistas ganharem igual ou mais do que seus próprios líderes, eles se tornaram tanto quanto importantes, descobriu-se que conhecer sobre um determinado assunto é bastante difícil e ser especialista, ou seja, entender tudo sobre, muito mais, levando um tempo enorme para se chegar a esse ponto, então esse conhecimento não requer certificados, diploma, para defini-lo como bom ou ruim, mas sim uma conversa clara e transparente sobre as necessidades da empresa, para classifica-lo como importante ou não naquele momento.
Ser Globalizado – A globalização nos trouxe tecnologia, cultura passiva, nos aproximou da atualidade, da diversidade, do luxo, da qualidade, do conforto, do status, da facilidade de viajar, mas para a maioria dos brasileiros afastou de forma crucial e profunda, as classes sociais, as amizades, as possibilidades, o sistema foi devastador, em pouco tempo exigiu-se dos profissionais, tudo que lá fora era natural e aqui muito difícil, sem dar tempo ao tempo, sem um financiamento de tudo isso, apenas da noite para o dia, passou-se a necessitar de cultura imediata, de status imediato, de profissionais bilíngues e nada disso era até então a realidade do Brasil, muita gente ficou desempregada e quem estava empregado passou a investir nas poucas e caríssimas instituições de ensino, uma forma de se manter empregado, as poucas instituições utilizavam a lei da oferta e procura, muitos procurando e preços elevadíssimos, simplesmente um caos na época.
Por outro lado, antes de conhecermos a internet e tv a cabo, éramos limitados as informações passadas pelas redes de televisão, tudo chegava da forma e no tempo que eles queriam passar, se ouvíssemos uma música e não conseguíssemos entender a letra, tínhamos duas opções, comprando o LP e lendo o encarte ou continuar cantando errado até alguém corrigir, um exemplo da enorme transformação que vivemos nestes últimos 30 anos e hoje por incrível quer pareça, os jovens por saber que a informação é de fácil acesso, ainda leva como tabu o hábito da leitura, um exemplo é o grande acesso no youtube em relação as outras redes sociais.
Pode parecer um toque de Nostradamus, mas tenho certeza que no futuro bem próximo, o tempo passará de forma muito mais rápida do que passou até hoje, simplesmente porque não haverá tempo para erros, para longos prazos de testes, para demora no atendimento, na tomada de decisão, não teremos tempo para ficar no mercado sem inovação, teremos pouco tempo para profissionais medianos, no futuro bem próximo, o pouco tempo traçará o destino dos profissionais e das organizações.
Só não sei se como a moda, as metodologias e estratégias não voltem tudo para como era antes, para o simples, e coloquem o nome de metodologia retrô.
Marcelo Salvo