O quanto vale a educação?

O quanto vale a educação?

"Como é caro estudar". Se pudéssemos ganhar uma moeda para cada vez que escutássemos essa frase nos corredores das universidades, nas escolas particulares ou em outros ambientes propícios a estudantes, seríamos todos ricos. De fato, a educação nunca foi barata, mas se mostrou como um "mal necessário". Antes investir em educação do que se divertir e não garantir um futuro, certo?

Em outra perspectiva, temos a máxima "eu não ganho para isso", oriunda dos educadores mais tradicionalistas. "Não sou pago para gostar das crianças" e "esse não é o meu trabalho" são grandes diálogos de péssimos pensadores, indispostos a trabalhar pela mudança que educar exige. Nesses quesitos, seja qualquer uma das situações exemplificadas, resta a dúvida: quanto vale a educação?

Tempos atrás, estudar era algo destinado apenas aos ricos e filhos dos ricos. Os demais se contentavam com empregos medíocres pela vida toda, escravizados em um sistema pós-escravidão. A mudança chegou breve, oferecendo estudo de qualidade e preparando as pessoas para o conhecimento mínimo necessário para que elas pudessem oferecer a mão de obra requisitada pelas grandes empresas e fábricas em ascensão, e assim todos passaram a estudar, pagando ou não, e a receber um conhecimento gradativo e eficaz. A eficácia, porém, era mensurável e nem sempre real ao prometido, o que manteve os ricos em escolas distintas, particulares, já que o ensino público não parecia suficiente, situação que muitas vezes se mantém até os dias de hoje.

Pagar para estudar se tornou um costume, algo que não nos faz reclamar, mesmo diante de todo o investimento levantado para a educação pública, dinheiro esse que desaparece sem deixar vestígios. Pagamos escolas particulares, compramos livros de pesquisas caríssimas, estudamos em faculdades privadas e pagamos por pós-graduações e mestrados. Enfrentamos árduos períodos de nossas vidas dispondo grande parte dos salários na educação, conciliando a rotina de trabalho com os estudos e geralmente se adaptando à realização de atividades durante a noite ou a madrugada.

Do outro lado da mesa estão os professores. Eles não são pagos para educar as crianças dos outros, de fato, e também não recebem para gostar delas. Seus salários nem sempre são altos o suficiente pela carga de trabalho que eles acabam por receber, corrigindo provas em horário de descanso e preparando exercícios e planos de ensino durante as férias. Eles não ganham adicionais por crianças bem instruídas, mas são advertidos por crianças reprovadas ou com riscos de reprovação, o que acaba por desmotivá-los. Um ensino fraco faz com que todos passem, o que é bom para as escolas, e um ensino de qualidade acaba por segurar alguns alunos, o que é proibido. Talvez seja necessário apenas repensar o método de ensinar e aprender, mas isso daria muito trabalho e eles, infelizmente, não são pagos para isso.

Como o dinheiro influencia na educação? Seria essa a nossa fatídica verdade, em que ricos aprendem e pobres oscilam nas camadas do aprendizado? Não existiria mesmo um caminho diferente para as crianças e os professores? O que estamos perdendo ao aceitarmos a ideia de que a educação de qualidade será sempre cara?

Enfrentamos alguns mitos que precisavam desmoronar para o aprimoramento do ensino e do aprendizado, e não de seus valores. Inicialmente, entender que o preço de um curso não define sua qualidade, e sim o esforço do aluno e do educador. Um professor de escola pública que realmente ame sua profissão terá alunos mais dedicados, engajados emocionalmente com a tarefa de aprender, do que um professor de escola particular. Um pós-graduado que lute por suas turmas causará mais impacto do que um doutorado que já não se incomode com o ensino em si. Esforço e dedicação são mais importantes do que o preço das mensalidades.

Em seguida, precisamos acabar com o preconceito e as ideias centrais sobre cargas horárias. Estudar mais não sigifica estudar melhor. Podemos pagar uma fortuna por um curso de 480 horas e rivalizarmos com um estudante que aprendeu as mesmas habilidades em um curso de 40 horas ou menos. O ensino não se mede por tempo, mas sim por transformação, por engajamento, por assimilação de conteúdo e, principalmente, por prática. Aceitar 200 horas de teoria é eficiente, mas não se equipara a 10 horas de prática, dependendo das situações. Economize tempo e estude melhor, só assim terá tempo de estudar outras coisas e melhorar em diversos aspectos, não se prendendo à faceta de que cursos com menos de quatro anos não equivalem a uma graduação, entre outros pensamentos similares.

Também temos de compreender que a educação hoje não é mais absurda. O e-learning nos trouxe facilidade, inovação e disponibilidade a ensino de qualidade, nos horários que pudermos estudar e por preços cada vez mais acessíveis. Trabalhadores com noites livres podem assistir suas aulas pela madrugada ou logo ao acordar, estudantes do período matutino podem complementar-se com vídeos e podcasts no início da tarde. Os valores são agradáveis, isso sem citar as diversas opções gratuitas que existem por aí. Estudar não é mais uma questão de valores, mas sim de opção, de interesse e de procura. Todos podem aprender, basta sentar-se em algum lugar e fazer uso de um computador, pessoal ou público, ou de um smartphone com acesso a internet.

Por último, mas não menos importante, temos os educadores e a síndrome do "não sou pago para isso". Educar é uma profissão, sim, mas é muito mais do que isso. Você está desenvolvendo pessoas, e as marcas deixadas em seus alunos refletirão na sociedade em que você mesmo viverá em alguns anos. Caso tenha um filho pequeno, seu filho pode vir a estudar com um dos alunos que você formou. Isso parece bom? Tem de parecer. Educadores são pagos para educar, não importa o que isso custe. Não sustento a ideia de que devam se contentar com salários muitas vezes injustos e sorrir, mas ainda assim, ainda que as coisas estejam caminhando lentamente para uma melhoria, é preciso levantar a cabeça e ensinar, pois a culpa nunca será dos alunos.

Crianças e adolescentes precisam de um herói em sala de aula. Elas levarão o educador para sempre, seja ele um campeão capaz de ensinar como viver e como ser feliz, seja ele um ser que vive apenas de reclamações acerca do salário baixo e das injustiças do governo. A matemática que você ensinar será como eles lidarão com seu dinheiro futuramente, as lições de gramática podem criar os escritores do amanhã. Ensinar ciências pode tornar apto um possível desenvolvedor para a cura de enfermidades ou o descobridor de grandes coisas no ramo da astronomia ou da biologia, quem sabe. Tudo pode causar impacto na vida desses alunos. Inclusive o ato de não se importar com eles.

E ao ensino de adultos, não devemos nos esquecer de como aprendemos. Se você, educador, em algum momento teve um professor que tenha revolucionado sua forma de ver o mundo, seja como ele. Isso faz diferença na vida das pessoas, modifica objetivos, cria sonhos e muda o mundo. Se não teve um educador assim, se não teve boas aulas ou se não teve acesso a uma grande mudança, mas mesmo assim chegou onde chegou, sabe como isso é necessário, portanto, ofereça aos seus alunos o que não teve. Aprenda com eles e os ensine de verdade. Essa pode ser a sua forma de vingança.

Se não somos pagos para isso, quem será? Deixar de educar um aluno é incentivar um futuro que poderia ser promissor a ruir. Os herdeiros do amanhã precisam estar preparados para grandes mudanças, e elas virão, e a responsabilidade por tal preparo é de todos nós. Eles podem estar interessados ou não, mas é nossa responsabilidade engajá-los, mostrar a eles que existe um caminho melhor através do conhecimento, que podemos, sim, mudar o mundo.

E por que não encerrar com um pequeno clichê? Nas palavras de Derek Bob: "se você acha que a educação é cara, tente a ignorância." Esse valor, certamente, nenhum de nós é capaz de pagar.

 

O Andarilho Sonhador está com um projeto de artigos sobre conhecimento, aprendizado, criatividade, inovação e outros assuntos do tipo, o qual se vincula aos selos Gestor de Sonho e Luna Corporation, também partes do blog. Participe do projeto com comentários, críticas e sugestões. Espero inquietar os pensamentos e ajudar na capacitação e no desenvolvimento de todos. Até a próxima!

 

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