João Pedro tinha um sonho…

João Pedro tinha um sonho…

Há muitos outros como ele no Brasil, reféns de uma educação pública de péssima qualidade

Publicado no MBL NEWS em 8 de setembro de 2020 às 13h33

João Pedro tinha um sonho: ser advogado e representar pessoas que não podiam pagar sua defesa. Mas João Pedro nasceu em Pau D'arco, no Pará, distante mais de 800 km de Belém. Deixa eu te contar um pouquinho mais da história dele.

A loteria da vida

João Pedro era esforçado, e tentava aproveitar ao máximo o que a escola pública lhe proporciona. Estudava muito, mas as faltas constantes de seu professor de português e a dificuldade para chegar à escola atrapalhavam seus planos.

As condições de ensino também não ajudavam: das 12 escolas da cidade, apenas 1 tinha biblioteca. 2 tinham internet, mas só 1 contava com banda larga. 

Não havia computadores para nenhum dos 1.500 colegas em Pau D’arco, e nenhuma das escolas contava com esgoto via rede pública.

Se ele conseguir a proeza de se formar no ensino médio (coisa que mais da metade não consegue no Pará), ele sequer sabe fazer cálculos de regras de 3, ou porcentagem, assim como 99% dos alunos do ensino público no Pará. 

Eu não errei a conta: 1 em 100 aprendeu matemática por lá nas escolas públicas espalhadas pelo estado.

Se ele tiver muita sorte, vai fazer parte do seleto grupo de 1 em 10 que aprendeu português por lá. Veja: 90% dos alunos no Pará que saem da escola não sabem português adequadamente.

Mesmo assim, ele tem poucas chances no mercado de trabalho, pois a escola não o preparou.

Ficção ou Realidade?

Apesar de João Pedro ser um personagem fictício na minha história, os indicadores educacionais apresentados são todos reais.

Há muitos outros como ele espalhados pelo Brasil, reféns de uma educação pública de péssima qualidade e que não gera igualdade de oportunidades.

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Me causa estranheza o barulho causado pelo artigo de Daniel Barros, no qual é discutida a necessidade de aproximar escola do mercado de trabalho

Uns dizem que o objetivo da escola não é esse, mas sim formar o jovem para a vida. Com esses dados educacionais, que formação é dada, afinal?

É óbvio que iniciativas como o novo Ensino Médio são ótimas para direcionar melhor o jovem no mundo atual. O mercado de trabalho é o caminho para que esse jovem comece a ter sua própria renda e possa usufruir de mobilidade social.

Não precisamos necessariamente seguir a Alemanha que tem 50% dos jovens no Ensino Superior e a outra metade em cursos técnicos profissionalizantes.

No Brasil, apenas 20% chegam a faculdade. E os outros 80%? Muitos deles acabam na estatísticas dos nem-nem (nem estudam, nem trabalham).

Se tivermos políticas públicas que reduzam esses números e preparem melhor o jovem para o mercado de trabalho, estaremos no caminho certo. O que não dá é para aceitar essa visão romantizada da educação sem olhar os dados, que mostram continuamente o nosso fracasso com o modelo atual!

Este artigo foi publicado no MBL NEWS em 8 de setembro de 2020 às 13h33

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