O que você faria se fosse a Coca-Cola?

O que você faria se fosse a Coca-Cola?

Nem gols, nem grandes jogadas. Ao menos até aqui, as duas imagens que roubaram a cena na EURO 2021 foram o acidente (quase) fatal de Christian Eriksen e o boicote velado de alguns atletas a Coca-cola.

Para o primeiro caso, felizmente, já temos uma solução: o meia dinamarquês foi ressuscitado, teve um desfibrilador implantado e seguirá com saúde. Já o segundo tópico, que deve ter causado verdadeiros palpitações na gigante americana de refrigerantes, a solução ainda parece distante.

Afinal, não é todo dia que um dos maiores jogadores da história do futebol - e um dos maiores influenciadores digitais da atualidade - coloca o seu produto literalmente de lado para o mundo todo ver.

Tudo aconteceu na coletiva de prévia ao jogo entre Portugal e Hungria, na segunda-feira (14/6). Em um momento rápido e ainda antes de começar a falar, o luso tirou duas garrafinhas de Coca-Cola da sua frente, pegou uma de água e disse: “água, não Coca-Cola”. Algo que poderia ser encarado de forma até certo ponto ingênua, mas que mexeu no bolso e na imagem da companhia.

Primeiramente porque, em menos de 24 horas, a ação da Coca-Cola passou de US$ 56,10 (R$ 280,7) para US$ 55,22 (R$ 276,3) - causando uma perda instantânea de R$ 20 bilhões no valor da marca. Segundo, e talvez ainda mais importante, porque CR7 iniciou um movimento entre os atletas.

Autor de dois gols na vitória de 3x0 da Itália sobre a Suíça, Manuel Locatelli repetiu o gesto e retirou as “Coquinhas” da bancada. E, se tudo continuar a acontecer da forma que imaginamos, o gesto pode ser visto novamente muitas vezes ainda nesta EURO.

A pergunta que não quer calar, portanto, é: “o que você faria se fosse a Coca-Cola?”

Óbvio que comprar uma briga com uma personalidade que conta com 500 milhões de seguidores nas três principais redes sociais (Facebook, Instagram e Twitter) não parece algo sustentável. Por outro lado, ser patrocinador máster de um evento esportivo de grande porte exige um investimento tão milionário quanto. E aí, pra onde correr?

Ao meu ver, a solução passa por três pontos principais: (1) demonstrar respeito a todas as opiniões, (2) abusar das redes sociais para expor projetos sociais da empresa e (3) buscar novos formatos dentro das competições.


(1) Respeito é bom, e todo mundo gosta

Antes de mais nada, o comportamento de Cristiano Ronaldo faz todo sentido visto o seu perfil: uma atleta obstinado, maluco por performance e que entende que a alimentação faz parte disso. Logo, para ele, refrigerantes não fazem bem. É gosto e opinião - que, aliás, podem mudar, uma vez que o próprio craque já fez campanha do refrigerante para a Copa do Mundo de 2006.

Da mesma forma que ele retirou as Cocas da bancada, poucas horas depois o treinador russo Stanislav Cherchesov fez o inverso. Tão logo chegou à sua coletiva de imprensa, o bigodudo abriu o refrigerante com uma calma impressionante e o bebeu com deleite absoluto em temperatura ambiente.

Podemos condenar um e aliviar para o outro? Temo que não.


(2) O institucional entra em campo

Para qualquer empresa, entrar em temas educativos nas próprias redes sociais costuma ser algo complicado. Falar de medidas e acordos então… Mas já que o tema está em alta, por que não?

Não faz muito tempo, a Coca-Cola anunciou que 30% de seus produtos haviam sofrido redução de açúcar e que 80% das marcas do portfólio da empresa apresentavam versões com baixa ou nenhuma caloria. Além disso, a nova receita da “Coca-Cola Sem Açúcar” faz coro a esta adaptação.

Se as ações são reais e o momento pede por elas, o ideal é postar. Seja na voz da própria marca ou de outros influenciadores.


(3) Muito além do backdrop

Se a principal questão aqui é a correlação entre a imagem dos atletas e o produto, por que não desistir de deixá-lo no balcão? A marca já está em um backdrop digital, nas placas de campo, nas transmissões multiplataforma, em todas as propriedades digitais do torneio…

O patrocínio de eventos esportivos pode (e deve) ir muito além da visibilidade pura e rasa. O mesmo, aliás, se aplica a Heineken que, mesmo exibindo sua versão Zero, também teve sua garrafa retirada da coletiva por ninguém menos que Paul Pogba - que é muçulmano e, portanto, não ingere nem propaga a ingestão de bebidas alcoólicas.

É óbvio que todo patrocinador quer ter a maior atenção possível - e adoraria que todos os envolvidos agissem como o treinador russo -, mas, já que não dá, pode simplesmente retirar o seu produto dali caso o entrevista ache melhor. De novo: liberdade de escolha.


De qualquer forma, este é um quebra-cabeças difícil de se solucionar. A Coca-Cola tanto tem o direito de acionar a UEFA quanto pode tentar reverter (ou abrandar) esta situação com outras atitudes. Os memes não param de sair, a decisão está na mão deles e anseia por pressa.

Mas levando-se em conta que, se conselho fosse bom a gente vendia, este texto fica por aqui. E se você quiser ler tomando Coca, Heineken ou água mineral, fique à vontade :)

Rosangela De Assis

Tecnologia em Recursos Humanos

3 a

O que a Coca-cola vai fazer,não patrocina.

Texto dinâmico, bom de ler e cheio de lições.

Po, que texto lindo é fácil de se ler. Parabéns.

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