Perdendo Oportunidades, Ganhando Problemas

Perdendo Oportunidades, Ganhando Problemas

O mundo está em pandemia e no Brasil não é diferente. Estamos enfrentando, junto com toda a humanidade, a pior crise de saúde dos últimos 100 anos, que culminará na pior crise econômica mundial da história! Mas, não satisfeito com o alarmante cenário, o governo brasileiro está, também, tendo que lidar com uma crise institucional entre o presidente e basicamente todo o resto dos atores políticos nacionais.

O Brasil reagiu muito bem a crise, impressionantemente bem, diga-se de passagem. Tivemos aqui no país uma ação rápida em política de afastamento social, como tentativa de alongar a curva de contaminação e evitar que o sistema público de saúde fosse sobrecarregado. Junto às ações de restrição, o constante planejamento e auxílio do ministério da saúde junto a Estados e Municípios está sendo fundamental para desenvolver capacidade de ação para o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrentar esta crise. As ações são extremamente importantes para que, até o momento que escrevo, a curva de mortes do Brasil não esteja entre as piores do mundo.

Da mesma forma que o ministério da saúde, o ministério da economia está fazendo trabalho importante para evitar que se instaure um caos econômico e social no país. Bilhões de reais já foram disponibilizados para as pessoas mais pobres do Brasil, assim como pacotes de empréstimos, com direito a mudança na legislação para que o governo possa emprestar diretamente à empresas sem passar por bancos (Pacote Mansueto). Este mecanismo, já utilizado por países como os Estados Unidos (Quantitative Easing), garante que o dinheiro não “emposse” nos bancos em momentos de incerteza, o que aumenta juros, impossibilitando empréstimos e a chegada do dinheiro à parte produtiva da economia, principalmente as pequenas e médias empresas.

Já o presidente da república criticou boa parte das políticas iniciais para o combate ao covid-19. Ele tem uma opinião muito diferente dos outros entes de governo, inclusive seus ministros, sobre o que este vírus significa e como o Brasil deve se comportar perante ele. Segundo o presidente, não há com o que se preocupar. Esta é apenas mais uma doença, e deveríamos focar no impacto econômico e na resposta brasileira no pós-crise de saúde. Com sua preocupação exorbitante, e correta, com a economia, entendendo que qualquer resultado econômico do Brasil será culpa sua, para o bem ou para o mal, o Presidente arrisca suas fichas políticas na tentativa de manter a economia o mais robusta possível. Esse comportamento pode muito bem ser correto, já que historicamente na América Latina o resultado econômico é o melhor preditor para manutenção de governos.

No entanto, o Presidente, e sua equipe de planejamento político, parecem não levar em consideração que a crise econômica é mundial e não pode ser combatida unicamente pelo Brasil. Nosso país, como sempre, depende fundamentalmente do mundo para crescer, visto nossa dependência de commodities e o próprio plano de desenvolvimento baseado em exportação que o atual governo pretende desenvolver. Logo, devido a características estruturais e de planejamento atual, o Brasil não vai conseguir fugir da crise mundial e o crescimento econômico não deveria ser plataforma deste governo até o final de 2021, quando as melhores projeções de recuperação da economia mundial se encontram. Assim, já que a economia está fadada a crise, pelo menos neste ano Bolsonaro teria uma desculpa para o crescimento pífio que se aproxima. Apostando neste entendimento, o presidente poderia se aproximar do combate efetivo à crise de saúde, fazer alianças que rendam para o futuro, mostrar para a nação que ele está dentro deste combate e, junto aos seus comandados, liderando-os, ganhar notoriedade pela resposta a crise e, com isso, adquirir capital político.

Porém, até agora, o Presidente encontra-se isolado, sem conseguir melhorar a economia do país e sob ameaça de perder ainda mais popularidade. Perdeu até aqui todas as lutas políticas que traçou, perdeu o apoio político dos governadores que ainda o apoiavam, a Câmara e o Senado querem manter distância dele, seus próprios ministros o vêem com ceticismo, principalmente após sua última derrota envolvendo o ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta. Mais além, ao ameaçar demiti-lo e não fazê-lo, Bolsonaro perde credibilidade e passa a imagem de que se perdeu no controle de seus próprios comandados, que estão ganhando popularidade ao responder de forma tão efetiva ao covid-19, seja na área da saúde ou na economia.

Assim, por falta de visão estratégica ou por pura convicção, parece que Bolsonaro não vai sair melhor do que entrou da pior crise desde a segunda guerra mundial. No futuro próximo, com a economia fadada ao fracasso e a contínua teimosia de não se aliar aos próprios aliados, pode perder a eleição de 2022 para um forasteiro qualquer, como ele mesmo em 2018. Falta saber quem vai se valer do vácuo de poder e liderança que cria o presidente.

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