Plástico: um dos grandes desafios da sustentabilidade
Um dos grandes desafios para as empresas que buscam contribuir com a sustentabilidade do planeta é otimizar o uso e o tratamento do plástico, que, como podemos perceber em nossas rotinas, permanece muito presente na vida da sociedade.
Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a produção de plástico subiu de 2 milhões para mais de 400 milhões de toneladas nos últimos 70 anos. A instituição alerta que esse índice só tende a crescer até 2060, caso medidas efetivas não sejam tomadas. E os dados alarmantes não param por aí.
De acordo com pesquisa recente divulgada pela revista Environmental Science and Technology e publicada no Brasil pelo Um Só Planeta, o número de microplásticos encontrados no fundo dos oceanos triplicou em 20 anos, afetando especialmente os seres vivos marinhos que ingerem essas partículas. O material está presente em diversos produtos usados pela população no dia-a-dia, como em roupas, embalagens e brinquedos.
Nesse cenário, fica evidente que, apesar das medidas já realizadas por muitas empresas como uma forma de tentar minimizar o impacto causado pelo plástico ao meio ambiente, ainda há muito a ser feito para se garantir avanços mais efetivos.
A reciclagem, uma das ações mais relevantes quando se pensa em sustentabilidade, enfrenta desafios quando se trata do plástico. Uma análise do panorama de reciclagem no Brasil foi compartilhada recentemente pelo Valor Econômico e citou, por exemplo, que as ações com esse foco não têm sido tão eficazes por não ocorrerem em larga escala, ou seja: grande parte dos materiais enviados para o processo de reciclagem não são reaproveitados, já que a maioria contém plástico flexível ou alumínio.
A Fundação Ellen MacArthur, por sua vez, revelou que, entre 2019 a 2020, houve um crescimento de 5% no uso anual de plástico flexível em todo o mundo, como é o caso das sacolinhas, o que, evidentemente, culmina em um aumento da produção.
O atual desafio é tamanho que, na Europa, empresas já começam a entrar no radar de ambientalistas por não reduzir, de fato, o impacto ambiental dos resíduos plásticos, e não atenderem às cada vez mais rigorosas leis implementadas no continente visando à proteção ambiental.
Por onde andam as soluções?
Mas, então, como investir e pensar em soluções que mudem também a forma de consumo da sociedade? Alguns caminhos nesse sentido vêm sendo apontados no período recente.
Um ponto relevante é a necessidade de desenvolvimento de políticas públicas que limitem, principalmente, o uso dos “plásticos problemáticos”, que impedem a reciclagem em grande escala e causam tantos danos ao meio ambiente. Também por essa esfera passam discussões como a de que as empresas custeiem os processos de reciclagem de seus produtos visando todo o ciclo de vida útil, método chamado de Responsabilidade Estendida do Produtor (EPR) e que já é adotado em alguns países europeus. Conforme destacou o Valor Econômico, no Brasil existe uma proposta semelhante e empresas como a Unilever, que é signatária do Global Commitment, apoiam a ideia.
Em janeiro, três organizações mundiais anunciaram uma aliança inédita para barrar o avanço da poluição plástica no planeta, conforme noticiou a revista IstoÉ Dinheiro. A Global Plastic Action Partnership (GPAP — Parceria Global de Ação Plástica, em tradução livre), do Fórum Econômico Mundial; a Iniciativa de Plásticos da Fundação Ellen MacArthur; e a ONG internacional de ação climática WRAP reuniram suas iniciativas e criaram um conjunto de programas que deve chegar a mais de 20 países, em uma ação que se alinha às diretrizes do Tratado dos Plásticos, que tem previsão de entrar em vigor em 2025 e consiste em um instrumento Internacional juridicamente vinculativo para acabar com a poluição pelo material.
Também no mês passado, a EXAME destacou o aporte de US$ 30 milhões do Fundo de Investimentos de Impacto do BTG Pactual recebido pela BioElements, empresa chilena de bioplásticos - produzidos com matéria-prima natural e que podem ser descartados como lixo orgânico, compostado em um processo de três a seis meses -, que deverá apoiar a expansão comercial da empresa no Brasil e no México.
Entre as ações de reaproveitamento, o mercado da moda, um dos que enfrentam grandes desafios para se alinhar à sustentabilidade atualmente, avança com exemplos positivos, como a criação de tecidos duráveis, aproveitando o plástico encontrado nos oceanos, como é o caso do Econyl - um dos maiores fornecedores de fibra plástica oceânica, tem 50% de seu produto criado a partir de redes de pesca e tapetes pós consumo e já é utilizado por marcas como Prada e Stella Mccartney.
Outro exemplo vem da Outerknown, marca de roupas criada pelo surfista Kelly Slater com o objetivo de reciclar garrafas plásticas e redes de nylon. A marca, que faz parte do conjunto Kering, proprietário de grifes famosas como Gucci, Balenciaga e Saint Laurent, tem a dinâmica da logística reversa, na qual as peças depois de desgastadas podem ser reaproveitadas para se transformar em outros modelos de roupas.
Em outro segmento, o iFood, que avança com a implementação de diversas práticas voltadas à sustentabilidade, alcança resultados importantes e contribui para a redução da poluição por plástico apostando em embalagens biodegradáveis, feitas de papel, em suas operações de delivery. Com isso, o iFood entregou cerca de 290 milhões de pedidos sem itens plásticos, reduzindo em média 600 toneladas do material que seria descartado.
As ações mostram que é possível pensar em soluções eficazes que podem mudar a forma de produzir e consumir plástico no mundo.
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“Acreditamos que os regulamentos EPR podem favorecer a mudança de patamar na luta contra os resíduos plásticos, já que impulsionam os sistemas de reciclagem, ajudam a fechar a lacuna entre as embalagens que são tecnicamente recicláveis e as que são realmente recicladas, garantindo que o dinheiro seja investido nos lugares certos, responsabilizando as empresas pelas escolhas de embalagens que fazem e, como resultado, permitem um ciclo na economia.”
Suelma Rosa, diretora-sênior em reputação e assuntos corporativos para América Latina e Brasil da Unilever
“No momento atual, o foco da atuação empresarial no Brasil está em pensar no ciclo de vida do produto e de embalagens, visando produzir o menor impacto ambiental possível, reduzir os custos nas cadeias de produção e atender às exigências legais impostas à performance dos seus produtos e ao seu destino final.”
Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI
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Supermercados tiram nota ‘razoável’ em pesquisa ESG - e governança é ponto fraco: De acordo com estudo feito pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e a consultoria KPMG, o setor supermercadista brasileiro atingiu um nível “razoável” em critérios ESG, o que, conforme a metodologia da pesquisa, indica que as práticas ESG são adotadas por 25% a 49% dos supermercadistas pesquisados. As melhores notas do setor apareceram na área social e as piores, nos critérios de governança. No pilar ambiental, por sua vez, as melhores notas dos supermercados foram nos critérios de eficiência energética, gestão de resíduos e certificação ambiental das instalações. No geral, as notas alcançadas foram consideradas melhores do que o esperado pela própria Abras.
Cannes quer estimular sustentabilidade nas inscrições de 2023: Visando ter uma edição mais sustentável em 2023, a organização do Cannes Lions anunciou a adoção de critérios de sustentabilidade não-obrigatórios em suas categorias, em um esforço para que as agências e marcas que inscrevem seus trabalhos no Festival relatem as emissões de carbono geradas por aquela peça publicitária. De acordo com a organização, os dados não serão utilizados como critério para a definição de prêmios, mas, sim, para compilar as melhores práticas em torno de ações sustentáveis e responsáveis na indústria da comunicação, em um esforço para informar as melhores práticas e apoiar as ambições do Ad Net Zero. A novidade chega após protestos na edição de 2022, quando ativistas buscaram pressionar a indústria a respeito dos riscos da publicidade de empresas poluentes.
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Corporate Sustainability/ESG Consultant, Professor Associado na FDC - Fundação Dom Cabral, Advisor Professor at FDC
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