Por que o samba não nasceu na Noruega?
Olá!
Estamos chegando com mais uma edição da Lellolab News, nosso espaço de reflexão e debate sobre a vida em comum. Com esta edição abrimos um novo ciclo temático: vamos falar da relação entre as cidades e a cultura.
Por que o samba não nasceu na Noruega?
É uma pergunta esquisita, mas ela nos leva ao centro do tema desta edição: o fato de que para a cultura, o território importa (esta breve fala do professor Rogério Haesbaert da Costa explica melhor isso).
E como aqui o nosso recorte territorial é sempre a cidade, vamos falar sobre movimentos culturais que nasceram em contextos urbanos específicos e que carregam nas suas produções muitas características das cidades onde nasceram.
O Manguebeat de Recife
De modo muito sintético, o Manguebeat foi um movimento cultural musical que surgiu na década de 1990, na cidade de Recife, Pernambuco. O termo é uma junção das palavras "mangue", ecossistema típico da região, e "beat", do inglês, que significa batida.
O manifesto 'Caranguejos com cérebro', um dos pilares do Manguebeat, escrito por Fred Zero Quatro, da banda Mundo Livre S/A, explica bem a relação direta entre o movimento e o Recife.
“Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruindo as suas veias. O modo mais rápido, também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife.
Em meados de 91, começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de ideias pop. O objetivo era engendrar um circuito energético, capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama.”
O rock de Brasília
Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude foram bandas que colocaram Brasília no patamar de cidade referência para o rock brasileiro. No início dos anos 1980, com a capital tendo sido inaugurada há cerca de 20 anos, Brasília era uma cidade que ainda estava sendo inventada. E aí dois pontos bem explicados neste documentário e nesta reportagem ajudam a entender a relação do rock com a cidade.
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A Poesia Concreta de São Paulo
A poesia concreta brasileira é tão essencialmente urbana que não tem um manifesto — tem um plano piloto, termo emprestado do urbanismo. Publicado em 1958 por Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos, fundadores e expoentes do movimento no Brasil, esse plano piloto explica que a poesia concreta é “tensão de palavras-coisas no espaço-tempo. estrutura dinâmica: multiplicidade de movimentos concomitantes”.
É uma expressão da metrópole, daí que não poderia ter surgido em outro lugar senão em São Paulo, nossa cidade mais cosmopolita.
É a esse movimento que pertence o poema “Cidade, City, Cité”, de Augusto de Campos, um poema sobre a metrópole universal que, escrito ao mesmo tempo em inglês, francês e português, encavala radicais para representar com exatidão de forma e conteúdo as metrópoles.
Deu pra entender? Esse palavrão, na verdade, é o agrupamento de radicais que somam ao sufixo cidade: “atro+cidade”; “cadu+cidade”; “capa+cidade”...
Tem mais algumas histórias boas da relação entre cultura e cidades: