Que tal ter um analista de equity research in residence?

Que tal ter um analista de equity research in residence?

No mundo das startups e de venture capital, existe a figura do empreendedor in residence. O termo se refere a um profissional com larga experiência em criar empresas ou em um setor específico que busca transferir essa sua vivência e seu conhecimento para empreendedores menos experientes ou para gestores de fundos de venture capital. 

Fiquei refletindo se não faria sentido para uma empresa, mesmo para as não-listadas, ter um profissional experiente fazendo o papel de analista de equity research in residence, dedicado a buscar entender profundamente a empresa, o setor onde ela opera e, principalmente, trazer ideias de oportunidades de a empresa criar valor de forma sustentável.

Se determinada empresa gostar da ideia, mas estiver relutante em contratar alguém de fora, tenho certeza de que haverá algum profissional já na empresa que conseguirá exercer as funções do analista.

Ao contrário do que muitos pensam, a principal função de um analista de equity research não é definir se uma ação é um BUY, um HOLD ou um SELL.

Isso faz parte da liturgia da função, mas um dos principais erros dos analistas é focarem sua mensagem na recomendação.

Quais benefícios uma empresa teria ao ter um analista de equity reseach in residence?

Ao listar abaixo algumas das características que um bom analista de equity research deve ter, os benefícios ficarão claros.

O bom analista é aquele que conhece profundamente o setor que cobre e é capaz de ver oportunidades onde outros não veem.

O bom analista precisa ter coragem para ir contra o consenso de mercado se isso for o que ele/ela acredita.

O bom analista dedica um tempo considerável para montar seu modelo de avaliação da empresa analisada. Entretanto, ele sabe que modelos são uma representação da realidade. Portanto, tem suas limitações. Seus outputs devem ser analisados sempre com um olhar de conservadorismo.

O bom analista reconhece que são nas questões qualitativas que uma empresa será capaz de convencer seus stakeholders da sua capacidade de criar valor de forma sustentável e, portanto, ser uma empresa longeva.

(na minha visão, para empresas se tornarem longevas, elas precisam ser capazes de criar valor de forma sustentável para todos os seus stakeholders)

O bom analista é um pensador crítico. Ele não acredita em afirmações sem fundamentos. Ele sabe fazer perguntas provocadoras de forma que seu interlocutor não se sinta intimidado.

O bom analista pensa estrategicamente. Ele entende que estamos em um país onde poucos acreditam em longo prazo. Mas ele sabe que criação de valor é um processo longo e gradual. Portanto, só faz sentido como algo que será medido ao longo do tempo.

O bom analista conversa com diversos tipos de interlocutores: investidores institucionais locais e estrangeiros, pessoas físicas com investimento em empresas do setor, executivos de empresas concorrentes, funcionários, clientes etc. Ele consegue ter uma visão abrangente de o que os stakeholders pensam da empresa sendo analisada.

O bom analista é criativo. Ele vai buscar se diferenciar usando ferramentas e/ou buscando informações diferentes daquelas usadas pela maior parte do mercado.

Não será com preço-alvo e recomendação que o analista irá se diferenciar.

Gostaria de ver os seguintes temas sendo analisados de forma independente por analistas de research:

Inovação

Como a empresa está organizada para lidar com o tema inovação? Quem é o responsável por definir a estratégia e executar os investimentos em inovação? Qual tem sido o retorno destes investimentos? Que outras métrica de desempenho são usadas em inovação? A empresa possui área de corporate venture capital? Se sim, qual a estratégia e quais tem sido os resultados alcançados?

Composição do Conselho de Administração

Será que a composição do Conselho está alinhada com o objetivo da empresa de criar valor de forma sustentável? Se não está, qual competência falta?

Alocação de capital

Como tem sido feita a alocação de capital nos últimos anos? Será que as prioridades estratégicas definidas estão sendo reconhecidas na alocação de capital?

Investimentos em ativos intangíveis

Estudos recentes têm mostrado que as empresas com mais investimentos em ativosa intangíveis são aquelas que tem maior potencial de crescimento de longo prazo. Quanto do plano de investimentos da empresa será alocado em ativos intangíveis? Como a empresa acompanha o retorno sobre o investimento em intangíveis?

Criação de valor para os acionistas e demais stakeholders

Nos últimos anos, a empresa tem sido capaz de criar valor para seus stakeholders? Se não foi capaz, o que precisa ser mudado para que, daqui para frente, haja uma reversão deste comportamento?

Após ler esse artigo, ainda estás em dúvida se ter um analista in residence seria positivo para a empresa?

Se estás em dúvida, me coloco à disposição para conversar sobre o tema e dar mais subsídios e exemplos de como este profissional ajuda a criar valor.  

Excelente artigo Sérgio. Acho que os membros do Conselho têm em parte essa função

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