Quem Sou



           Como qualquer ser humano que procura falar sobre si, mergulho no espelho mágico da minha vida a procura do eu que me habita, tento fazer uma viagem sobre quem sou e mostrar através de poucas palavras o daguerreótipo da história que há em mim.  Mas como não sou poeta e ainda arredio em falar sobre a minha pessoa, fico confuso, apanho e sofro com as palavras na busca dessa definição. Na tentativa de encontrar este  autorretrato, sinto-me como se estivesse dentro de um labirinto, com os olhos vendados e de mãos e pernas atadas. E por mais que procuro e me esforço, não encontro à saída.

Amigos, mas como é difícil falar da gente mesmo! Acho que é muito mais fácil falar da vida alheia. Bom..., se não acho a saída e mesmo assim tenho que falar e escrever sobre quem eu sou, mesmo que seja na escuridão do labirinto, penso que o melhor é liberar a imaginação e deixar as coisas fluírem naturalmente. Mas como fazer isso? Eis a questão! Faço tentativas mil, começo a escrever algo, nada interessante! Logo entra em cena o meu lado crítico e de censura sobre  tudo o  que escrevo, chego a pensar que tudo está ridículo. Deleto aquilo que escrevi e tento recomeçar um novo texto, sem sucesso, é claro! Peço ajuda divina, que nunca chega. Como eu preferia estar falando e escrevendo sobre a vida alheia, o desemprego, as mazelas de nossos políticos, a crise que assola o país, a decepção com nossos governantes, a violência, a corrupção, o jogo de futebol do meu time ou da seleção, a minha solidão e a carência de amor, etc, etc, etc. No entanto, tenho que escrever sobre eu mesmo. Que castigo!

Mas escrever é preciso, e ainda por cima, sobre quem eu sou. Busco socorro à minha memória, recorro àquilo que ainda está registrado nela e tento me lembrar dos meus valores e defeitos, daquilo que as pessoas pensam e falam de mim e dos conceitos emitidos por elas...... mas,  logo percebo que minha memória e eu não somos perfeitos. Ambos temos falhas e defeitos. Por isso, volto à estaca zero.

Após tanta agonia e ficar tentando escrever isto ao aquilo, concluo que o melhor é seguir o ciclo natural da vida e a sapiência da mãe natureza, que é manter a simplicidade e não fugir da realidade e da verdade. Neste caso, penso que o melhor é esquecer as regras, a rigidez da gramática e da linguística, a formalidade das coisas, os ditames e conceitos que a vida e a sociedade nos impõem, e voltar no tempo, como se fossemos uma criança, com sua pureza e inocência, aonde as regras e conceitos perdem seus valores e,  desta forma,  escrever o que vier à cabeça. Assim, embarco numa viagem ao túnel do tempo, na esperança de que nela, posso encontrar quem eu sou: recordar de fatos, passagens, momentos, relacionamentos pessoais e interpessoais que fizeram e fazem parte das emoções que vivi, para a partir daí, tentar mostrar o meu eu. Quase nada encontro! Não sei se é porque a timidez me impede de falar sobre quem eu sou, ou se é porque a vida nos condicionou e nos ensinou a falar mais da vida dos outros do que da  nossa própria vida.

Sabe, eu até acredito que,  assim como as outras pessoas têm, eu também tenho algo de bom, como também de ruim em mim. Facetas  essas, que até são comentadas por muitas outras pessoas. Talvez por isso, prefiro deixar que elas falem sobre quem eu sou.

Mas, como aqui não posso deixar com que elas possam falar por mim, e pela parte que me cabe, meio que parafraseado o meu  poeta  preferido - Pablo Neruda, digo que sou mínimo de olhos, de visão aguçada, escasso de cabelo, crescente de abdômen, mediano de pernas, amarelo de pele, fraco de cálculos, confuso de palavras, de mãos ternas e macias, de caminhar agitado, apaixonado pelas matas,  estrelas,  mares, animais e as  mulheres, amigo de meus amigos, tímido nos salões e na conquista do amor, iniciante no saber, administrador horrível, desprovido de bens materiais, incansável nos bosques, sossegado na alegria, trabalhador invisível, persistente desordeiro, aventureiro costumaz, combatente dos regimes, crédulo nos ideais, arredio prá dormir, devoto das mulheres, carente de amores, romântico por natureza, apaixonado sem nunca ser correspondido, sozinho por maldição, parceiro das crianças, sonhador indomável, jornalista por profissão e doido por justiça.

Figueiredo Filho: Jornalista, Assessor e Consultor em Comunicação, com pós-graduação em Gestão de Comunicação Organizacional e Eventos;  em História, Sociedade e Cultura e também em Política Econômica.


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