A real democracia

A real democracia

A hermenêutica política originou-se na Grécia, desde o surgimento da democracia à monarquia, inflamados por eruditos debates entre Platão e Aristóteles, um defendia a representação do mundo das ideias na figura de um rei, o outro uma reforma educacional denominada paideia. Mas o pilar estrutural da ratio grega é a maiêutica socrática, emergir a luz na psiquè dos cidadãos.

Desde que o homem é homem há a sinergia do poder, o que Michel Foucault, acertadamente dizia a respeito do macro e micro-física do sistema; que significa que as instituições representativas, como a Assembleia e o Senado, são reflexos da sociedade em questão, um vínculo originário ao homem e seu contrato, legitimando a soberania de um Estado. Para Thomas Hobbes, na sua obra “The Leviathan”, o homem é uma potência, ligado por desejos e interesses, mas, essencialmente, um ser propenso a ser corrompido pelo meio social, Homo Homini Lupus, somos o lobo de nós mesmos, não há harmonia. Agora, em contrapartida, no conceito de Jean Jacques Rosseau, o homem, em nome do bem-estar social, abdica do seu direito individual natural em prol do coletivo, criando um status quo de igualdade, fraternidade e liberdade.

O modelo sistemático de sociedade foi arquitetado pelo pensamento de Nicolau Maquiavel, no livro “o Príncipe”, que escreveu para a família italiana Médici, lá, asseverava que a sociedade é interligada pela virtù e fortuna do monarca, as suas vontades e sua legitimidade ao poder é explicada pelo direito divino de Bossuet. Logo tornava nula a participação social para decisão de determinado Feudo ou região.

A participação política começou em meados da terceira geração dos Direitos Humanos, na qual vislumbrava o direito como uma luta social, conforme Rudolf Von Ihering, na qual se encontra em eterno movimento entre a maioria e a minoria. E para uns deterem direitos ao voto, ao porte de arma, a igualdade, por exemplo, consequentemente uns perderão; funciona como um pêndulo, que a corda quebra ao lado com maior pressão. A única forma de relacionar a todos no governo é por intermédio da representação direta, sem imiscuir à direita ou esquerda, um pensamento mais transcendental, unido pelo humanismo de Da Vinci.

A democracia é um modelo com muitas críticas, pela sua inoperância de evitar uma autocracia totalitária, como podemos ver no documentário “democracia em Vertigem”, mesmo assim, ainda a ideologia liberal é a mais acolhedora aos anseios da maioria, porém, espera-se que não se esqueça da vontade da minoria, logo não pode ser visto como um mero modelo entre “Freund y Feind”[1], “amigos e inimigos”, que os fins justificam os meios.  

No mundo contemporâneo, com o advento do computador e da era digital, houve uma união maior entre os povos, não fisicamente, mas nas suas relações sociais, como interação e informação; e isso é o progresso ativamente retratado por Zygmund Baumam, asseverava que a modernidade se tornou líquida, não há mais paredes concretas, territórios, o real é ligado ao digital por segundos, e essa velocidade foi chamada de fenômeno de Paralaxe[2].

Conclui-se que a participação política do século XXI tende a ser mais objetiva e direta, que cada indivíduo pode se expressar abertamente, uma democracia do dever ser, mostrando suas ideias em prol do bem comum. E as redes sociais podem ser consideradas um marco desse ativismo, já que o povo não mais cessará sua atuação no quimérico voto, e sim, será considerado o começo de um trabalho conjunto, como se fosse um grande fórum online legisferante, que cada um opinará sobre um possível projeto de lei à uma emenda constitucionaL. Uma utopia democrática.

Henrique Checchia Maciel

26/07/2019

[1] Freund y Feind – “ Amigo e Inimigo” - Pensamento de Carl Schimitt no seu livro “Nomos da Terra”.

[2] Teoria de Jean Baudrillard



Excelente Henrique, parabéns .

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