A Realidade da inflação

A Realidade da inflação

Na divulgação da inflação de fevereiro, o governo federal expressou sua preocupação com o marcante aumento dos preços dos alimentos. Este súbito alarme é desprovido de justificativa. Desde a posse em janeiro de 2023, era de conhecimento da atual gestão que a inflação vinha apertando o cinto dos brasileiros, afetando com maior intensidade os estratos mais vulneráveis da população.

A escalada inflacionária, sobretudo no que tange aos preços dos alimentos, não é um fenômeno abrupto ou inesperado. A crise da Covid-19 exacerbou essa tendência, tornando insustentável qualquer alegação de surpresa ou espanto por parte das autoridades. Tal reação pode ser interpretada como uma tentativa de mascarar a inércia governamental frente a problemas cruciais que afligem a nação.

Não é necessário ser um especialista para notar a inflação galopante que assola o país. Qualquer trabalhador assalariado pode atestar o peso crescente dos custos de vida, com os preços dos alimentos ascendendo mês a mês. Estranha-se, portanto, a aparente negligência do governo federal em antever tal cenário.

Uma análise dos últimos quatro anos revela um panorama ainda mais alarmante. Entre 2020 e 2023, a inflação acumulada, medida pelo IPCA, atingiu 28,5%. No que se refere especificamente aos gastos com alimentação no domicílio, o incremento foi de 45,1%. Tais números evidenciam que o problema não é recente e que atribuí-lo a administrações passadas ou tratá-lo como uma novidade são estratégias que desviam o foco de responsabilidades imediatas.

O governo Lula, já familiarizado com as adversidades estruturais e conjunturais do país, deveria ter implementado políticas públicas eficazes desde o início de seu mandato para aliviar o sofrimento dos mais afetados. No entanto, as ações concretas para conter a escalada dos preços e melhorar as condições de vida da população foram insuficientes.

Os dados são implacáveis: apenas para citar alguns exemplos, o arroz branco teve um aumento de 89,8%, o feijão preto de 48,2%, o tomate de 143,1%, o açúcar cristal de 100,4%, e os ovos de galinha de 78,7% nos últimos quatro anos. Estes aumentos não são frutos de um único mês de descontrole, mas sim de um processo cumulativo que se estende desde janeiro de 2020.

Diante desse quadro, cabe questionar: o que foi feito pelo governo federal nos 14 primeiros meses de mandato para reverter ou ao menos mitigar essa tendência? A inércia observada contraria a expectativa de ação urgente diante de um problema tão palpável e cotidiano para a população brasileira.

Chega-se, então, ao ponto mais alto desta reflexão, evocando uma frase emblemática que marcou os discursos do presidente Lula em seus primeiros mandatos: “nunca antes na história deste país”. Infelizmente, esse lema hoje ressoa com uma ironia amarga, à medida que o governo parece mais preocupado com questões geopolíticas distantes do que com as adversidades enfrentadas diariamente pelos seus cidadãos.

É imperativo que o presidente e sua equipe recalibrem suas prioridades, limpando as lentes de sua visão social para perceber a realidade que se desdobra bem diante de seus olhos. A necessidade de uma visão menos míope, mais atenta às urgências locais, nunca foi tão premente. A população merece e espera por respostas concretas, não por retórica vazia ou promessas não cumpridas. O governo deve focar na melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos em vez de se perder em falácias populistas ou preocupações externas que desviam a atenção do essencial: o bem-estar do povo brasileiro.



Rogério Ribeiro - Economista formado pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (FECEA), atual campus de Apucarana da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). Mestre em Economia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio na UNIOESTE - campus de Toledo.

É professor do colegiado do curso de Ciências Econômicas da UNESPAR - campus de Apucarana desde 1992. Foi chefe do Departamento de Economia e coordenador do curso de Ciências Econômicas.

Atuou como coordenador administrativo de 2002 a 2010 e de 2010 a 2014 foi diretor da FECEA. De janeiro de 2014 a dezembro de 2020 foi Pró-reitor de Administração e Finanças da UNESPAR.

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