RECTITUDINE DESINTERESSADA
1º LIÇÃO
Há tempos que em momentos de espiritualidade cotidiana, ao ler a Sagrada Escritura, sobretudo, e também outros Livros Sagrados de outras Religiões, como o Bagavaguita e o Alcorão, Deus tem insistentemente me indicado uma reflexão específica: a RETIDÃO. Nos variados dicionários de nosso vernáculo é passível de encontrar a definição de retidão nestes termos:
1. Característica, condição ou atributo do que ou de quem é reto; 2. (Figurado) Conformação demonstrada por um senso de integridade, de justiça, de quem possui um caráter integro e se comporta a favor da razão, da lei, do dever; honestidade ou integridade; 3. (Figurado) Particularidade daquele que segue os preceitos da lei. (Etm. do latim: rectitudĭne)
Na Sagrada Escritura, reto é quem obedece e progride na Lei de Deus. Este ano de 2019, numa dinâmica inicial dos trabalhos educacionais a serem realizados, foi sugerida que escutássemos uma palavra de apoio de alguém, disséssemos a nossa e indicássemos uma à outra pessoa. Eu referendei a palavra de 2019 com o termo retidão.
Eu não estou entendendo que seja um pedido divino por eu não ser assim, porque já compreendo que estamos sempre aquém do que Deus deseja, mas Ele também está a nos olhar além do que somos. Esse olhar prospectivo de Deus é um sinal de sua infinita misericórdia. Como já me referi, há mais de dois anos venho lendo sobre este tema e acabei por pesquisar o uso da retidão nos textos sagrados e a primeira passagem que me deparei foi
Deuteronômio 9,5
Não é por causa de sua justiça ou de sua retidão que você conquistará a terra delas. Mas é por causa da maldade destas nações que o Senhor, o seu Deus, as expulsará de diante de você, para cumprir a palavra que o Senhor prometeu, sob juramento, aos seus antepassados, Abraão, Isaque e Jacó.
O livro da Lei descreve que a retidão humana não é condição de mudar a nossa situação ontológica diante de Deus. Tem muita gente que acha que a nossa vida de busca de santidade é a marca de como estamos diante de Deus, e não. A vida de santidade é obrigação, é dever moral. Ela não me faz melhor ou pior do que ninguém, diante do Criador. O autor sacro justifica a infidelidade e maldade de outras nações para dizer que Deus agirá em favor do seu povo. Esta justificativa tem mais uma conotação de crítica a uma espécie de sentimento donatista, piedoso justificante.
Neste sentido, qual a primeira lição da retidão?
Ser reto, íntegro, justo, consciente do dever pelo dever, na observância da lei, na prática da honestidade e integridade não nos justifica por si só. Não nos torna melhores do que ninguém, mesmo os “desviados”, ou injustos. O reto não se compara. Ser reto é um dever de consciência que não “cobra juros”, pois é desinteressado de premiação. Ser reto é o principio da justificação como dom, graça e participação, exatamente nesta ordem, e de santidade, que liberta do julgamento e isolamento e convoca para a solidariedade.
2º LIÇÃO
Após alguns dias sem rever o escrito e não produzir texto, a vida em si, na sua dinamicidade, tem me proposto sentido pra praticar a retidão em várias situações. Percebi neste interim que a ação da consciência não pode ser compreendida somente com boas intenções literárias, ou ingenuamente na ideia de um dia “está tudo bem... tudo bem disfarçado”. Retidão, transparência não se disfarça. A sua vivência é um desafio que exige esforço de todo individuo. No texto sagrado abaixo, renovo a minha disposição de escrever e viver a retidão do Senhor!
2 Samuel 22:21
O Senhor me tratou conforme a minha retidão; conforme a pureza das minhas mãos me recompensou.
O texto de Samuel parece inicialmente contradizer a primeira lição. Deus nos trata conforme a nossa retidão. Deus nos trata conforme a pureza de nossas mãos! Duas situações interessantes de analisar e de comparar com o que já foi dito na primeira lição. Retomando a ideia essencial – “Ser reto, íntegro, justo, consciente do dever pelo dever, na observância da lei, na prática da honestidade e integridade não nos justifica por si só. Não nos torna melhores do que ninguém, mesmo os “desviados”, ou injustos. O reto não se compara. Ser reto é um dever de consciência que não “cobra juros”, pois é desinteressado de premiação. Ser reto é o principio da justificação como dom, graça e participação, exatamente nesta ordem, e de santidade, que liberta do julgamento e isolamento e convoca para a solidariedade”. No fim do mês de fevereiro deste ano, 2019, conversando com minha esposa Josiane, ela me dizia que Deus era bondoso e misericordioso com a gente porque eu, vejam só, eu, era bom! Eu tentei antetisar sua ideia dizendo que a natureza de Deus é imutável, e conforme os sinóticos Ele é bom para os bons e para os maus. Enfim, a retidão da consciência influência o olhar de Deus sobre os homens? Eu sinceramente não vejo consistência nesta ideia da potência das obras. Pra mim, desde muito tempo, as obras da fé, da esperança e a caridade efetiva é uma “obrigação” (no sentido do verbo sollen) da consciência. Nem tudo é subjetivo. Há sim o certo e o errado. E há “certos”, “errados”, porque há culturas, há morais! Mas a ética não pode ser individual. A capacidade ética é a chance de os homens questionarem a moral. Querer, poder e dever são verbos no infinitivo que precisam se entrelaçar para que a vida possa ter um sentido de retidão. Há quem diga que o adequado é o caminho. Nem tudo que é adequado a gente quer. Nem tudo que é adequado a gente pode. Nem tudo que é adequado a gente deve. Adequado também é uma convenção circunstancial. Os verbos ou a ideia de adequado pode justificar muita coisa, mas não o ético, a retidão. A obrigação sem forçosidade é um sim da consciência ao que é bom em si mesmo. Entender que estamos fazendo o bem que deve ser feito e que isso não acarreta mérito é o desafio da 2º lição. Fizemos o que devíamos fazer, somos servos inúteis.
Lucas 10,17
Assim também vós, quando fizerdes o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.
Neste sentido, entendo que a retidão externa, a pureza dos sentidos e da vida são em suma testemunho de uma vida exemplar de Deus em nós. É uma graça e ao mesmo tempo uma situação de tentação. Nós podemos querer ser mais do que somos. A nossa inutilidade não apaga a “faísca” divina em nós. A presença de Deus irradiada em nossas ações de transparência confundem os que não são do bem, mas querem demoníacamente dividir onde estão. Deus é imutável e bom. E nós devemos ser também pessoas da transparência, da ética, da observação do que se tem que ser feito, mesmo não sendo adequado!