Retrospectiva 2020: inteligência emocional e autocompaixão
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Retrospectiva 2020: inteligência emocional e autocompaixão

Estamos na última semana de 2020, ufa! Alguém duvidou que chegaríamos até aqui?

Bom, eu tive uma vaga dúvida bem no início da pandemia, quando emoções como medo, insegurança e angustia me faziam acordar religiosamente todos os dias de madrugada. Ainda bem que aos poucos esses sentimentos foram passando e deram espaço para outros sentimentos que me ajudaram a seguir com mais tranquilidade esse ano difícil.

Iniciei 2020, e, como de costume, fiz uma lista de resoluções de ano novo. Cheia de otimismo e superstições que me são característica. Logo nas primeiras semanas de janeiro fui buscar aquele que tem sido o item mais negligenciado nos meus planejamentos estratégicos e metas anuais: um cuidado maior com meu corpo espiritual e minha mente.

Isso era janeiro de 2020 e o primeiro movimento para atender o quesito MENTE, foi iniciar uma terapia cognitivo comportamental. Quem iria imaginar que poucas semanas depois a pandemia chegaria com força total em terras brasileiras? E que ela mexeria ainda mais com nossa mente, emoções, crenças, hábitos e com o nosso corpo físico, consequentemente. Que ano para definir como meta o cuidado com a mente, não é?

Iniciei essa jornada com apoio de uma profissional e os meses foram passando. Depois de 5 meses eu resolvi seguir a minha jornada sozinha, fazendo leituras que ajudassem a preencher minha mente de boas ideias e sentimentos.

Nesse ano percebi que eu e muitas pessoas próximas precisaram exercer a autocompaixão para conseguir ter forças para seguir em frente, fortalecendo sua autoestima e sua coragem para perseverar naquilo que acreditam.

Uma das leituras mais interessantes que fiz esse ano e escrevo aqui para não esquecer de voltar mil vezes nesse livro todas as vezes que a mente começar a me levar por um caminho de autocrítica negativa, é o livro Mindfulness e autocompaixão: um guia para construir forças internas e prosperar na arte de ser seu melhor amigo.

Os autores, Kristin Neff e Christopher Germer possuem ampla experiência no assunto: Kristin é Ph.D e pioneira em estudos na área de compaixão. Professora, palestrante, autora de livros e criadora junto com Germer do curso “The power of self-compassion”. Christopher também é Ph.D e possui uma clínica especializada em psicoterapia baseada na compaixão, é autor de livros e palestrante.

Mas o que é a autocompaixão, afinal? E por que ela é tão importante para nós, seres humanos, que exercemos múltiplos papéis na sociedade?

A autocompaixão é a habilidade de se perdoar, de aprender a se aceitar com as imperfeições e ser menos autocrítico consigo mesmo para ter resiliência necessária para prosperar. Curiosamente, esses conceitos pareciam estranhos nas primeiras leituras e tive uma certa resistência ao assunto no primeiro contato. Mas, com o tempo, fui entendendo que ter autocompaixão não significa ser passivo perante as situações, mas sim, ter equilíbrio entre a autocrítica construtiva e fundamental para o nosso desenvolvimento e a autocrítica que traz ansiedade, estresse e não é positiva para nossa saúde mental.

O livro me mostrou que a autocompaixão pode ser aprendida, assim como tantas outras habilidades importantes para nossa vida pessoal e para o mundo dos negócios, como liderança, negociação e a inteligência emocional. Na verdade, entendo hoje a autocompaixão como um elemento fundamental da inteligência emocional, pois cultivando ela, podemos nos tornar melhores para nós mesmos e para nossos colegas, nos tornando mais empáticos as questões do outro.

A autocompaixão em 2020 foi mais do que nunca necessária! Nesse ano, muitos planos não saíram do papel, muitas rotas precisaram ser replanejadas, muitos negócios deixaram de existir, todos os relacionamentos humanos foram afetados de alguma forma pelo “novo normal”. A autocompaixão é necessária nesses momentos em que nos culpamos por não ter alcançado um resultado X, por não termos feito a tarefa Y, não ter sido tão produtivo como imaginamos, por não ter criado um negócio novo, por ter fracasso em alguma empreitada, por não ter tido coragem de mudar coisas importantes por medo e insegurança, ou por coisas tão simples quanto não ter assistido as lives XPTO, por não ter cozinhado comidas saudáveis todos os dias e por uma série de coisas que só você sabe e se pressionou por não ter feito.

Não ter feito todas essas coisas te fez criticar a si mesmo?

A fisiologia da autocrítica estudada pelo Paul Gilbert, criador da terapia focada na compaixão, aponta que quando criticamos nós mesmos acessamos o sistema de ameaça-defesa. Isso significa liberação de cortisol e adrenalina para nos prepararmos para fugir, lutar ou congelar. Esse é o mecanismo que os Homo Sapiens aprenderam em um momento de vida em que a proteção do corpo físico era vital. Hoje, no mundo que vivemos, a maior parte das “ameaças” tem origem psíquica, em questões ligadas a autoimagem e autoconceito.

Como espécie em evolução eu me convido e te convido a ativarmos outros mecanismos mentais. A autocompaixão é essa resposta ao sistema de fuga-luta-congelamento. Em um trecho bem bacana do livro, os autores fazem uma analogia apontando que a luta (é a autocrítica), a fuga (o isolamento) e o congelamento (a ruminação) - esses três componentes são opostos aos elementos que precisamos cultivar com a autocompaixão, que são: autobondade (permitir que sejamos amorosos conosco como somos com terceiros em momentos difíceis. É menos sobre recriminação e mais sobre carinho consigo mesmo), a humanidade compartilhada (todos os seres humanos são uma obra aberta e estão em constante evolução e aprendizado. Todos falham e cometem erros. Muitos de nós sentem as mesmas emoções boas ou ruins. Você não está sozinho e nada acontece apenas com você) e o mindfulness (Presença. Se abrir para viver a realidade do momento presente).

2020 trouxe uma oportunidade para pensarmos sobre esses assuntos além de estimular uma renovação dos valores humanistas essenciais, como a generosidade, a solidariedade e a gratidão. Ele trouxe também um apelo por um olhar holístico sobre a relação entre os seres humanos e a natureza. Afinal, a crise sanitária a qual vivemos tem estreita relação com a forma pela qual pressionamos os ecossistemas naturais em prol do desenvolvimento econômico a qualquer custo. Sabemos que sem uma sociedade e um planeta saudáveis, nossa economia não prospera.

Vamos buscar desativar todos os sistemas de ameaça-defesa para iniciarmos 2021 ativando os sistemas de cuidado de si, dos outros e do planeta que vivemos?

Essa é a última semana do ano e senti vontade de compartilhar essa reflexão. Talvez a melhor descrição sobre mim é que eu sou uma pessoa curiosa, questionadora e apaixonada por conhecimento. Não sou especialista em psicologia, tampouco posso dizer que esse foi um ano ruim pra mim. Estou em busca de melhorar como ser humano e buscando conhecimento a partir da ciência e da fé.

Um grande abraço e que você tenha um 2021 cheio de saúde e realizações.

Jonatan Machado

Desenvolvedor | Mentor | Scrum Master

4 a

Muito bom o texto, Thaís Nunes. Fiquei curioso para ler o livro.

Sensacional!

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