Saúde mental: é hora de quebrar esse tabu!
Há doze anos, fui diagnosticado com transtorno de ansiedade. Fato que, seguido pela minha jornada de superação, mudou a minha perspectiva sobre saúde mental e a importância de acabarmos com o estigma e a discriminação de quem passa por este momento.
Na época, estava no pico da minha saúde física e em um dos melhores momentos profissionais. Me sentia um super-herói. Porém, na realidade, hoje vejo que ignorei os sinais de que algo não estava bem, hesitei em pedir ajuda e até falar sobre isso por medo de mostrar fraqueza. Foi então que meu cérebro resolveu intervir e me dar um alerta. Em um espaço de vinte e quatro horas, passei por três ataques de pânico. Esta sequência começou logo pela manhã em uma reunião de negócios. O primeiro ataque de pânico ocorreu em uma reunião de trabalho, ao levantar para me servir de café, senti tontura, falta de ar e o coração acelerado. Deitei no chão e perdi parcialmente a consciência. Não conseguia entender o que estava acontecendo. Fiz vários exames físicos que não apontavam qualquer problema de saúde. Finalmente, em uma consulta com minha médica na época, fui diagnosticado com transtorno de ansiedade e orientado a procurar ajuda psicológica e tratamento.
No processo de cura, aprendi a identificar os sinais que poderiam ter me ajudado a buscar tratamento preventivo, mas que infelizmente subestimei. Apesar dos sinais claros, não queria admitir que algo estava errado. Apresentava sinais de irritabilidade, alto nível de inquietação, hiperatividade e dormia cada vez menos horas. Com ajuda psicológica especializada e sessões de terapia, descobri que o trauma causado pela perda de dois entes queridos em um curto espaço de tempo, combinado com uma reação instintiva de bloquear meus sentimentos, criaram as condições para que o transtorno de ansiedade avançasse. Mas foi a partir desta descoberta que iniciei uma jornada de superação. Desde que comecei a falar abertamente sobre o tema e a entender causas e efeitos, me surpreendi com o acolhimento que recebi e descobri que a incidência de problemas associados à saúde mental é mais comum do que imaginamos.
Dados da OMS relatam que o Brasil é o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. Nos Estados Unidos, um em cada quatro adultos apresentam sintomas de doenças mentais a cada ano e 18% da população adulta tem um transtorno de ansiedade. A incidência é ainda mais alta em jovens, comunidades vulneráveis e pessoas com doenças crônicas. Doenças mentais, custam para a economia global um valor estimado em US$ 1 TRILHÃO por ano.
Em empresas, doenças mentais impactam gerando alto nível de absenteísmo, perda de produtividade e custos crescentes em cobertura de planos de saúde, sem citar que a saúde mental é também uma determinante de doenças físicas crônicas. A cada US$1 investido em programas de cuidado e prevenção, US$4 de custo é evitado. As empresas têm um papel fundamental no enfrentamento desta crise de saúde, mas o cenário hoje é que apenas uma em cada cinco possui algum programa interno de prevenção e tratamento.
Diante desse cenário, o que podemos fazer? Em primeiro lugar, quebrar o tabu em torno do tema. Problema de saúde mental não é fraqueza. Precisamos parar de idolatrar mitos de “super-heróis” em empresas para focar em mecanismos que criem segurança psicológica e melhor equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Temos que buscar soluções sistêmicas baseadas em dados e na ciência. É preciso redesenhar o trabalho para que as pessoas possam trazer o seu melhor dentro de níveis saudáveis de expectativas e stress. Uma possibilidade é implementar políticas que apoiem grupos de pessoas mais vulneráveis, principalmente mulheres, que têm o desafio de conciliar múltiplos papéis. Temos que promover lideranças humanizadas cuja principal competência seja a empatia.
Na Alpargatas, por exemplo, realizamos uma campanha com psicólogas para um bate-papo semanal em torno do tema. Conversamos abertamente e promovemos um ambiente de aceitação e acolhimento. Buscamos incentivar práticas que levam ao autoconhecimento, com aulas de yoga. Mas sabemos que a caminhada é longa, temos muito ainda para fazer e continuamos na busca de soluções sistêmicas para combater e prevenir a incidência de problemas de saúde mental.
Na minha jornada de cura, busquei e recebi ajuda. Tive o privilégio de receber acolhimento, aceitação e apoio da minha família, dos meus amigos e da empresa em que estava na época. Meu gestor me deu todo o tempo e flexibilidade para obter o máximo benefício do meu tratamento. A área de RH me deu acesso à terapia especializada e me acompanhou durante todo o processo. O que para muitos pode ser considerado uma fraqueza, a minha jornada de cura e autoconhecimento me fez um líder mais humano e mais efetivo. Está na hora de quebrar o tabu, desmitificar super-heróis e promover conversas e acolhimento no ambiente corporativo.
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1 aMuito bom ver o assunto "saúde mental" saindo das sombras e sendo tratado com a honestidade e seriedade que merecem!
Corporativo | Sierra Móveis Gramado
1 aQue incrível ler esse texto num dia como hoje. Estava precisando, obrigada pela generosidade em compartilhar, para que possamos repensar, desconstruir, resignificar, e seguir na busca do que nos faz crescer. Olhar pra si, e pras suas "fraquezas" é sempre uma bela oportunidade de crescimento.
Docente de Pós-Graduação | Mentora de Carreira | Palestrante | Consultora de Talentos e Longevidade | Workshop | Gestão de Pessoas
2 aParabéns pela trajetória Brilhante percorrida !
Consultoria, Crédito, Cobrança, Politicas de Crédito, Finanças, Score de Cliente, Comercial, Auditoria, Gestão áreas de negócios.
2 aImportante seu depoimento, transparente!! Somos todos iguais, do CEO aos que nos ajuda a manter a "nossa 2 casa em ordem". Superação e garra!
Verdade!