Solução de problemas: competências que moldam resultados

Solução de problemas: competências que moldam resultados

No campo da gestão financeira, a capacidade de diagnosticar problemas e encontrar soluções eficazes são frequentemente vistas como parte de um único processo. No entanto, ao adotar uma perspectiva mais profunda, percebemos que essas duas etapas exigem habilidades completamente distintas — e a capacidade de discerni-las é o que define um gestor financeiro verdadeiramente estratégico.

Diagnosticar um problema é uma tarefa analítica, que demanda um profundo entendimento dos dados e processos envolvidos. Um diagnóstico eficaz depende da habilidade de identificar padrões subjacentes, desvios e possíveis pontos de ruptura nos sistemas financeiros. Aqui, a rigorosa análise de dados é essencial. O gestor precisa explorar tanto os indicadores financeiros quantificáveis quanto os qualitativos, examinando métricas de desempenho, fluxo de caixa, conformidade regulatória e, por vezes, nuances culturais ou operacionais.

No entanto, é fundamental lembrar que o diagnóstico, por si só, é apenas uma fotografia do presente. Ele revela os sintomas, mas não necessariamente aponta o caminho para a cura.

Encontrar a solução exige uma abordagem diferenciada — e é onde muitos profissionais enfrentam desafios. Resolver problemas vai muito além de ajustar os pontos críticos identificados. Aqui, entra em jogo a capacidade de transformação, ou seja, a habilidade de criar soluções inovadoras e sustentáveis que não só resolvem o problema imediato, mas também fortalecem a estrutura financeira para o futuro.

Além disso, na modelagem de uma solução eficaz, é fundamental ter uma visão clara do contexto no qual ela será implementada. Isso envolve identificar os principais impactos que a solução trará para os diversos stakeholders, como áreas operacionais, fornecedores, parceiros e até mesmo reguladores. Uma solução financeira robusta deve ser capaz de gerar valor não apenas internamente, mas também considerando as implicações para as diversas partes interessadas. Sem essa visão contextual, o risco é de que uma solução tecnicamente adequada crie novos problemas ou resistências em outros pontos da cadeia.

A solução, portanto, exige uma combinação de pensamento estratégico, criatividade e foco na execução prática, sempre ancorada na compreensão do ambiente organizacional como um todo.

O perigo de confundir diagnóstico com solução: Um dos erros mais comuns que vejo entre gestores é a crença de que um diagnóstico preciso automaticamente levará a uma solução eficaz. Isso é uma armadilha. Diagnosticar o problema não é sinônimo de resolvê-lo.

Um diagnóstico incorreto pode levar a soluções inadequadas, que, no final, podem ser mais prejudiciais do que o problema original. Por outro lado, uma boa solução só pode ser construída com base em um diagnóstico sólido. A ligação entre essas etapas não deve ser desprezada: a qualidade da solução será sempre proporcional à precisão do diagnóstico. Mas são necessários gestores que compreendam profundamente as dinâmicas de ambos os processos para garantir resultados consistentes e que saibam considerar os impactos nas diversas partes interessadas.

Em última análise, o diferencial de um gestor financeiro de excelência está na sua capacidade de equilibrar essas duas competências: diagnosticar com precisão e resolver com eficácia, sempre considerando o contexto e os impactos sistêmicos. Esse equilíbrio é o que leva as empresas a superarem crises, otimizarem processos e, sobretudo, gerarem valor de maneira contínua.

 

Exemplo de diagnóstico e solução

Para ajudar na compreensão distinta desses processos, vamos imaginar um exemplo hipotético:

Problema inicial: Uma empresa do setor de varejo vinha enfrentando dificuldades no controle de seu fluxo de caixa. As vendas estavam crescendo, mas o caixa permanecia apertado, dificultando investimentos em novos produtos e a expansão de lojas.

Diagnóstico: O CFO identificou que o principal gargalo estava no prazo médio de pagamento aos fornecedores. A empresa, com prazos de pagamento mais curtos do que seus concorrentes, estava desembolsando grandes somas antes de liquidar seus estoques. Embora as vendas estivessem em alta, o caixa ficava comprometido devido a esses desembolsos antecipados.

Solução inicial (focada apenas no problema): A equipe financeira decidiu negociar prazos mais longos com os fornecedores, estendendo o período de pagamento de 30 para 60 dias. Essa medida parecia resolver o problema do fluxo de caixa, proporcionando um alívio imediato nas saídas financeiras.

No entanto, a solução teve consequências inesperadas. Os fornecedores, insatisfeitos com os novos termos, passaram a priorizar concorrentes que mantiveram prazos mais curtos e condições mais favoráveis. A empresa enfrentou atrasos nas entregas e redução na qualidade dos insumos, impactando a disponibilidade de produtos e as vendas.

Impacto nos stakeholders:

  • Fornecedores: Sentiram-se prejudicados e começaram a priorizar outros clientes.
  • Equipe de Operações: Enfrentou desafios com o planejamento de estoque e atrasos logísticos.
  • Clientes: Sofreram com a falta de produtos, impactando a satisfação e a receita.
  • Gestão de Marketing e Vendas: Viu as metas comprometidas e o crescimento desacelerado.

Solução ideal: O diagnóstico estava correto, mas a solução inicial não considerou o contexto mais amplo e os stakeholders envolvidos. Uma solução mais eficaz contemplaria uma estratégia gradual e colaborativa:

  1. Negociação gradativa com os fornecedores: Em vez de uma mudança imediata, a empresa poderia ampliar o prazo de pagamento de forma progressiva, permitindo que os fornecedores ajustassem seu ciclo operacional. Por exemplo, começando com 45 dias e expandindo para 60 dias ao longo de seis meses. Isso permitiria que os parceiros também se adaptassem, mantendo a qualidade e os prazos de entrega.
  2. Incentivos financeiros: Oferecer descontos por pagamentos antecipados ou contratos de volume para manter as relações comerciais positivas e assegurar o interesse dos fornecedores em manter o padrão de qualidade.
  3. Integrações tecnológicas: Implementar ferramentas de previsão de demanda e controle de estoque, garantindo um planejamento mais preciso e reduzindo a necessidade de desembolsos constantes.
  4. Alinhamento de ciclo de vendas e recebimentos: Reestruturar o ciclo de vendas para garantir que o recebimento de clientes acompanhe os novos prazos de pagamento dos fornecedores, equilibrando o fluxo de caixa sem comprometer a operação.

Lição aprendida: O exemplo reforça a importância de não apenas diagnosticar corretamente um problema, mas também considerar o impacto sistêmico das soluções propostas. A visão estratégica e o cuidado com os stakeholders são fundamentais para garantir soluções que funcionem tanto a curto quanto a longo prazo. O sucesso financeiro da empresa depende não apenas de medidas pontuais, mas da capacidade de gerir impactos cruzados entre diferentes áreas e parceiros comerciais.

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