Governança por Valor: ampliando a percepção de valor

Governança por Valor: ampliando a percepção de valor

A Governança por Valor redefine a sustentabilidade nos negócios ao conectar a criação de valor aos pilares econômicos, sociais e ambientais. Essa metodologia transforma o modo como as empresas geram resultados, atendem às partes interessadas e garantem a perenidade de suas operações. Em um cenário onde a sustentabilidade e a adaptabilidade se tornam essenciais, a Governança por Valor posiciona-se como uma abordagem estratégica indispensável para a perenidade e competitividade organizacional.

1. Diferença entre valor e dinheiro

Embora frequentemente confundidos, valor e dinheiro são conceitos distintos que demandam uma separação clara no contexto empresarial. O dinheiro é o resultado mensurável das operações de um negócio, enquanto o valor é o núcleo estratégico que sustenta essas operações.

O valor é o princípio; o dinheiro, a consequência.

Quando a empresa é capaz de criar valor para suas partes interessadas, o resultado financeiro se manifesta como um reflexo desse impacto positivo. No entanto, restringir a percepção de sucesso ao dinheiro pode levar a decisões que sacrificam o potencial de geração de valor em longo prazo, prejudicando a sustentabilidade do negócio. Por exemplo, um cliente que percebe valor em um produto ou serviço está mais propenso a se fidelizar, recomendá-lo e, assim, impulsionar receitas. Por outro lado, empresas que focam exclusivamente em dinheiro podem negligenciar os pilares que sustentam seu sucesso a longo prazo.

2. Entendimento da cadeia de valor de um negócio

A cadeia de valor de uma empresa, de acordo com Michael Porter, é o conjunto de atividades e processos que transformam recursos em produtos ou serviços de valor para o cliente, aqui vamos ampliar esse conceito tratando não apenas dos clientes, mas das partes interessadas que impactam significativamente o negócio e não apenas do aspecto interno, mas  de uma interação bilateral. Trata-se, portanto, de uma via de mão dupla, onde as necessidades e expectativas das partes interessadas moldam e são moldadas pelas operações da empresa.

  • A interação com as partes interessadas é essencial.

Um fornecedor que entende as expectativas da empresa pode oferecer insumos de melhor qualidade ou soluções mais inovadoras. Por outro lado, uma empresa que ouve seus clientes pode ajustar seus produtos para atender às demandas do mercado, criando uma relação de confiança e co-criação.

Modelar processos para alcançar objetivos estratégicos exige um alinhamento profundo entre os interesses da empresa e os de seus interlocutores, garantindo que os objetivos sejam mutuamente benéficos e sustentáveis. Para tal, é necessário:

  1. Identificar as partes interessadas principais.
  2. Compreender suas necessidades e expectativas.
  3. Modelar os processos internos para alinhar objetivos organizacionais aos interesses externos.

3. Os desafios de manter valor

A geração de valor não é um evento isolado ou pontual; é um processo contínuo, que exige consistência e alinhamento estratégico. No entanto, mantê-lo é ainda mais desafiador, pois envolve a adaptação constante às mudanças internas e externas. Isso ocorre porque a percepção de valor se constrói ao longo do tempo, com base em consistência e repetição.

  • Geração de valor não é um evento único.

Não basta impactar positivamente uma vez. É necessário um conjunto contínuo de ações que demonstrem compromisso e alinhamento com os interesses das partes relacionadas. Por exemplo:

  • Colaboradores precisam ver oportunidades reais de desenvolvimento e alinhamento cultural.
  • Acionistas buscam retornos financeiros consistentes e crescentes para os seus investimentos.
  • Manutenção exige adaptação.

Em mercados dinâmicos, expectativas mudam. Empresas que não conseguem evoluir acabam perdendo relevância. O desafio está em alinhar as mudanças às capacidades organizacionais.

4. Ampliação da percepção de valor

Uma gestão eficaz reconhece que o resultado financeiro é consequência de uma série de esforços bem-sucedidos. Empresas que ampliam sua percepção de valor entendem que possuem diversos ativos – financeiros e não financeiros – que precisam ser gerenciados.

Ativos não financeiros representam recursos intangíveis que, embora não possam ser diretamente mensurados em valores monetários, desempenham um papel estratégico fundamental na geração de valor para as empresas, alguns exemplos:

  • Relacionamentos: Parceiros estratégicos, clientes fidelizados, redes de fornecedores que contribuem para a eficiência e a inovação.
  • Cultura organizacional: Equipes engajadas são catalisadoras de inovação e resultados.
  • Reputação: A credibilidade da marca impulsiona confiança e parcerias de longo prazo.

Gerenciar esses ativos com o mesmo rigor que os financeiros, potencializa resultados e garante sustentabilidade.

5. Monitorando a geração de valor

A criação de valor deve ser gerenciada com rigor e intencionalidade. Um framework estruturado ajuda a identificar e monitorar as interações entre a empresa e suas partes interessadas. A Governança por Valor propõe um modelo baseado em quatro etapas:

  1. Impacto da empresa nas partes interessadas - Quais são os efeitos das ações empresariais sobre cada grupo?
  2. Impacto das partes interessadas na empresa - Como cada grupo contribui para o sucesso organizacional?
  3. Percepção atual de valor - Como as partes interessadas enxergam o valor entregue pela empresa?
  4. Metas de valor a serem alcançadas - Quais são os objetivos para aprimorar ou ampliar o impacto positivo?

Esse framework permite que empresas não apenas avaliem, mas também ajustem suas estratégias de maneira contínua e dinâmica, falaremos mais sobre o framework quando abordarmos o papel na governança na geração de valor.

Conclusão

Adotar uma percepção ampliada de valor transforma a maneira como as empresas gerenciam seus processos, tomam decisões e traçam suas estratégias. Essa abordagem integra múltiplas dimensões de valor – financeiras e não financeiras – alinhando as operações da empresa às expectativas das partes interessadas e às demandas do mercado.

No planejamento estratégico, a adoção da metodologia de Governança por Valor altera profundamente sua construção. Ele parte do mapeamento do valor para as partes interessadas, que se desdobra no estabelecimento de objetivos e metas alinhados às expectativas internas e externas. Na tomada de decisões, a análise de impactos multidimensionais eleva a qualidade das escolhas organizacionais, garantindo que sejam sustentáveis e consistentes com os objetivos de longo prazo. Já na modelagem de processos, além da integração de ativos financeiros e não financeiros, a incorporação de indicadores assegura que os esforços da organização estejam concentrados em atividades que realmente gerem valor ao negócio, evitando desperdícios e promovendo eficiência.

Essa visão ampliada não apenas promove uma gestão mais robusta, mas também posiciona a organização como uma referência em um ambiente corporativo cada vez mais dinâmico e exigente. Incorporar o conceito de valor como um elemento central na estratégia empresarial é o caminho para empresas que buscam prosperar, inovar e garantir sua sustentabilidade em um mercado interconectado e desafiador.

Nos próximos artigos, continuaremos explorando como a Governança por Valor oferece ferramentas práticas para transformar a gestão e maximizar resultados.

Mauricio Nunes

Chair na Vistage Brasil, Executivo e Consultor | Ajudando CEOs a tomar melhores decisões

1 m

Excelente!

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