Somos controlados por quem odiamos...
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Somos controlados por quem odiamos...

Enquanto dispensamos tanto tempo e energia vigiando alguém, somos literalmente "controlados" por esta pessoa (sem esta pessoa ao menos saber disso). Entenda como evitar ser controlado por quem te incomoda tanto.

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Por volta de 1791, em plena Revolução Francesa, ano em que o próprio rei Luís XVI tentou fugir da França, um filósofo, arquiteto e jurista chamado Jeremy Bentham compreendeu que o sistema prisional da época apresentava grandes falhas. Para Bentham, um sistema prisional eficaz não somente precisava abrigar os detentos, mas também puni-los severamente. Neste sentido, após se debruçar em profundos estudos psicossociais, apresentou ao mundo sua mais conhecida obra; O Panóptico.

 A palavra "Panóptico" tem sua origem etimológica à partir de duas desinências: Pan (total) e Óptico (visão). Em uma tradução livre, podemos considerar algo como: visão geral e panorâmica.

O Panóptico se tratava de um conceito prisional em que não somente o corpo do presidiário era encarcerado, mas também sua alma. Assim, as possibilidades de fuga ou impunidade quase não existiam. Este conceito logo ganhou atenção em toda a Europa e em quase todas as colônias da época.

O panóptico se desdobrou em um modelo arquitetônico em que o complexo penitenciário deveria ser construindo em formato de uma grande circunferência. Caso a unidade prisional precisasse ser expandida, novas celas deveriam ser construídas nos pisos superiores. Todas as celas, por estarem em um formato circular, ficavam uma ao lado da outra e elas eram "vazadas", ou seja: cada cela tinha duas grades; uma na parte da frente e outra na parte de trás.

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De maneira esporádica, as celas se abriam, e o prisioneiro deveria permanecer ajoelhado e imóvel com seu rosto voltado para o chão. Qualquer movimento deste detento, por mínimo que fosse, já resultava em uma execução à balas pelos sentinelas da torre.

Com o tempo, este conceito prisional ganhou grande fama, pois condicionava mentalmente os presos de que abertura das celas, ou seja, a liberdade, era a pior parte do dia.

Assim como dito anteriormente, este sistema prisional também chegou nos colonos, onde permaneceu por muitos e muitos anos. Para se ter uma ideia, Fidel Castro, em 1953, ficou preso em uma cadeia panóptica em Cuba no complexo prisional de Isla de la Juventud.

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Mas somente em 1975, muitos anos após o banimento deste violento conceito, o mundo entendeu que não somente os usuários deste sistema obtiveram profundas marcas psicológicas, mas também a sociedade global. Neste mesmo ano, o filósofo francês Michel Foucault publicou em seu livro "Vigiar e Punir" que muito embora o panóptico prisional não exista mais, ele ainda se encontra vívido no inconsciente coletivo; principalmente nas relações humanas.

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Foucault descobriu que cada ser-humano possui o chamado "Panóptico Social", lugar psíquico onde aprisionamos cada pessoa que conhecemos e somente concedemos liberdade a ela quando de alguma forma somos convencidos de que aquela pessoa merece a nossa confiança e nosso relacionamento. Não é à toa que ouvimos muito a expressão "Quem esta pessoa pensa que é? Não dei esta liberdade à ela!"

Assim que conhecemos uma pessoa pela primeira vez, ela é encarcerada em nossa prisão panóptica, e então, começamos a vigiá-la e julgá-la. De acordo com Foucault, este processo não é rápido e muito menos simples. De fato, perde-se muito tempo e muita energia psicossocial para sermos convencidos de que alguém merecerá o precioso prêmio da nossa amizade.

Isso significa que enquanto não concedemos liberdade à pessoa aprisionada, esta pessoa se torna o nosso "estressor" e então exercemos profunda e minuciosa vigilância sobre ela a ponto de nos tornarmos o "prisioneiro". De acordo com Foucault, muitas pessoas dedicam um precioso tempo de suas vidas vigiando e punindo psicologicamente as pessoas de seu ecossistema social, a ponto de serem psicologicamente controladas por seus próprios "prisioneiros". Enquanto dispensamos tanto tempo e energia vigiando alguém, somos literalmente "controlados" por esta pessoa (sem esta pessoa ao menos saber disso).

O problema de tudo isso, é que este fenômeno psicossocial pode se agravar ainda mais devido à um sentimento muito comum durante o processo de vigilância; o ódio. Este sentimento aparece pois enquanto vigiamos nosso prisioneiro social, automaticamente começamos a nos comparar com ele e consequentemente nosso julgamento se demora somente naquilo que somos inferiores; a começar pelo nível técnico intelectual.

O filósofo e economista Robert Jameson, em seu ensaio "People Will Hate You If They Can’t Control You", menciona que a maioria das pessoas sente ódio quando se depara com uma pessoa altamente inteligente - e uma das principais razões para seu desconforto é o desamparo que sentem quando percebem que ao invés de controlar esta pessoa, elas que acabam sendo controladas.

Ainda sobre o ódio, Robert Sapolsky escreveu em “Why Your Brain Hates Other People”, que quando vemos alguém que parece diferente de nós, “há ativação preferencial da amígdala”, o que significa que a região do cérebro associada ao medo e à agressão aumenta. Essa reação visceral e emocional pode desencadear um padrão de antipatia de longo prazo quando é validado pelo sentimento de ódio. E se você perceber que esta pessoa o machucou, seu ódio por ela se torna racional.

Nossos sentimentos negativos em relação a alguém ficam mais fortes à medida que as experiências ruins com essa pessoa se acumulam, e esses pensamentos negativos acionam a reação de lutar ou fugir em nossos corpos. Como AJ Marsden, professor assistente de psicologia do Beacon College em Leesburg, Flórida, afirma, "nossa resposta de lutar ou fugir é a maneira do nosso corpo de lidar com um estressor".

Marsden também diz: "Infelizmente, nosso corpo não consegue diferenciar um estressor real (sendo perseguido por alguém com uma faca) e um estressor percebido (algum prisioneiro social que você odeia). ” É por isso que ver as postagens de seu agressor do ensino médio pode fazer você sentir a ansiedade de ser intimidado novamente: suas associações de ódio da pessoa acionam sua própria necessidade de se proteger. Com o tempo, essa resposta coloca estresse em nossos corpos, condicionando-nos a sermos mais céticos em relação aos relacionamentos sociais e confiar menos nas pessoas; acabamos nos transformando em pessoas de alta confiança, mas não conseguimos confiar em quase ninguém. Isto sim, é uma prisão.

Diante destes fatos, podemos afirmar claramente que somos controlados por quem odiamos. Embora qualquer ser-humano seja suscetível a esta condição, há meios práticos de evitar cair nesta cela. De acordo com Amy Gallo, editora colaboradora da Harvard Business Review e autora do Guia HBR para Lidar com Conflitos, existem, pelo menos, 6 dicas práticas de como agir quando você eventualmente sentir ódio de um colega de trabalho:

 1. Gerencie sua reação: Sua resposta ao seu odiado colega de trabalho pode variar de um leve desconforto a uma hostilidade absoluta. Gallo diz que o primeiro passo é administrar. Ele sugere que se há alguém que é irritante ou abrasivo, não pense em como a pessoa age, pense em como você reage. É muito mais produtivo se concentrar em seu próprio comportamento porque você pode controlá-lo. Para controlar seus gatilhos, Gallo aconselha que você pratique um método de relaxamento diariamente. Isso "aumentará sua capacidade de lidar com o estresse, o que significa que a pessoa irritante não é mais irritante", diz ele.

2. Guarde o seu desgosto para si mesmo: Enquanto trabalha com seu descontentamento, evite a tentação de reclamar de outros colegas de trabalho. Não encurrale ninguém perto do bebedouro e diga: "Há algo na Jessica que eu não gosto, você não concorda?" Todos nós temos a tendência de buscar a confirmação de nossas próprias opiniões, mas também devemos resistir a ela. Além disso, reclamar de alguém em seu escritório pode refletir negativamente em você. Você pode ganhar uma reputação de um profissional medíocre ou ser rotulado como o difícil. Se você achar que precisa desabafar, escolha sua rede de suporte com cuidado. O ideal é escolher pessoas fora do escritório.

3. Considere se é você, não eles: Depois de ter suas reações sob controle, pense sobre o que você não gosta na pessoa. Existe algo específico que o desencadeou? É que ela é apenas diferente de você? Ela lembra seu pai? Você gostaria de ter o emprego dela? O ciúme e outras emoções negativas podem nos fazer avaliar erroneamente e maltratar os outros. “Quando alguém está se saindo melhor do que nós, tendemos a desprezá-lo”, diz Gallo. As diferenças podem nos tornar tendenciosos. “Nossa pessoa favorita no mundo somos nós mesmos. Quanto mais diferente alguém for de nós, mais chances teremos de ter uma reação negativa a ele ”, diz Gallo. Concentre-se nos comportamentos, não nos traços, que o irritam; isso o ajudará a discernir os estereótipos da verdadeira antipatia. Comece com a hipótese de que a pessoa está fazendo coisas de que você não gosta, mas é uma boa pessoa. Ao compreender melhor o que o está te incomodando, você também poderá ver seu papel nisso. É provável que você é parte do problema. Seja honesto consigo mesmo sobre sua parte no problema. E fique atento aos padrões. Se em todo lugar que você vai há alguém que você odeia, é um mau sinal.

4. Passe mais tempo com eles: Uma das melhores maneiras de começar a gostar de alguém que você não gosta é trabalhar colaborativamente com esta pessoa em algum projeto. Isso pode parecer insano, pois é provável que você queira sair correndo da sala gritando sempre que a pessoa estiver lá. Mas, trabalhando juntos, você pode entendê-la melhor e talvez até desenvolver alguma empatia. Você pode sentir compaixão em vez de irritação. Você pode descobrir que há razões para suas ações: estresse em casa, pressão de seu chefe ou talvez ela tenha tentado fazer o que você está pedindo e falhou. Passar mais tempo com seu suposto inimigo também lhe dará a oportunidade de ter experiências mais positivas. Mas antes de se inscrever para liderar a próxima força-tarefa com alguém de quem você não gosta, lembre-se de que há uma exceção: Se for alguém que viola seu senso de moral, "cair fora" não é uma estratégia ruim.

5. Considere fornecer feedback: Se nenhuma das opções acima funcionou, você pode dar algum feedback ao seu colega. Pode ser que o que a incomode seja algo que regularmente a atrapalhe como profissional. Não presuma que a pessoa sabe como está se saindo. Claro, você não deve começar uma "tese acadêmica" sobre tudo o que ela faz para irritá-lo. Concentre-se nos comportamentos que ela pode controlar e descreva como eles afetam você e seu trabalho juntos. Se compartilhado com cuidado, você pode ajudá-la a desenvolver maior autoconsciência e aumentar sua eficácia. Mas proceda com cautela. Se você acha que ela pode ser aberta e você pode ter uma conversa civilizada focada em questões de trabalho, então vá em frente e vá com calma. Mas se esta for uma pessoa que você suspeita que será vingativa ou louca, ou que irá transformar a situação em um conflito pessoal, não se arrisque.

6. Adote uma atitude de indiferença: Em situações em que você está realmente preso e não pode fornecer feedback, a recomendação é que você pratique a fina arte do distanciamento emocional ou de não dar a mínima. Ao ignorar respeitosamente os comportamentos irritantes, você neutraliza o efeito sobre você. Esse tipo de reformulação cognitiva pode ser eficaz em situações em que você tem pouco ou nenhum controle.

 Por fim, no final do dia, não é sobre controlar e ser controlado, ou não fazer papel de idiota... é poder desfrutar uma vida plena e conseguir ao máximo colocar o foco e energia naquilo que realmente é relevante para nossa vida profissional, pessoal e que nos traz paz...

Ana Karina L.

Head of FP&A @VillaresMetals | Plant Controller Manager | Cost & Business Controller | P&L Strategy | Risk & Internal Controls | Digital Transformation | Compliance | Enterprise Risk Management | Audit

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Excelente reflexão!

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