SunsetDDB: a fusão entre nostalgia e realidade

SunsetDDB: a fusão entre nostalgia e realidade

Quando veio a tona a notícia de que a DM9 se fundiu com a Sunset, dando origem a SunsetDDB, o mercado publicitário ficou atônito. Como uma das marcas mais tradicionais do segmento poderia sumir assim, do nada? Na minha opinião, a resposta está dentro da pergunta: porque não foi do nada.

Saudosismo é bom e todo mundo gosta. O primeiro ponto importante é separar a saudade do business. Nos últimos dias li dezenas de relatos de ex-funcionários lamentando o “fim da DM9” – e posso garantir que a gigantesca maioria deles tinha cunho infinitamente mais pessoal do que profissional.

Quem se manifestou, em geral relembrou o que foi bom: os amigos e casais que ali nasceram, as missões bem sucedidas, o aprendizado junto a profissionais de alto calibre, até mesmo as festas e happy hours inesquecíveis. Isso é gostoso, é natural e se chama saudosismo.

Fazendo uma analogia, é o que acontece muitas vezes depois de um longo tempo em que terminamos um relacionamento ou mesmo quando um ente querido falece. Lembrar somente do que é bom nos conforta e torna o momento de dor algo instantaneamente mais leve para nossa cabeça e coração.

A Síndrome de Estocolmo da propaganda. É natural que queiramos pensar sempre no que foi bom, antes de relembrar o que foi ruim. Ficar no quentinho é mais gostoso do que descobrir os pés em uma madrugada gelada. E aproveitando que falei em madrugada... quantas você, ex-DM9, já não passou na agência?

Em 3 anos de agência, eu perdi as contas das vezes que vi o dia amanhecer pelos grandes vidros da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 5013. Ao invés de canto de pássaros, o aspirador de pó; ao invés de café da manhã, energético; ao invés de banho, a mesma roupa de ontem. Isso tudo sem distinção de dia da semana ou datas comemorativas – era trabalhar e ponto.

Cansei de ouvir relatos de colegas que não viram os filhos a semana toda, de casamentos que acabaram, de aniversários perdidos, viagens canceladas, planos refeitos. Meus pais, que nunca palpitaram na minha vida profissional, até hoje se arrepiam quando eu vos lembro da Dê-Eme-Nove.

Isso sem falar na quantidade de assédios de todos os tipos que já vimos, sentimos e até fizemos em todos os nossos anos por lá, não é mesmo? Mas todo mundo fica bom depois que morre, então...

Não é só sobre a DM9, é sobre o mercado. Mas antes que pareça que estou covardemente metralhando o lugar que me deu uma visibilidade profissional gigantesca e me ensinou através de mestres que guardo no coração e no meu hall de amigos, existe outra constatação importante: a DM9 é apenas um exemplo dentro do cenário todo.

As madrugadas, assédios e arrepios fazem parte do cotidiano da grande maioria de agências de São Paulo. Bem como os projetos bacanas que colocamos na rua, aqueles Cannes (fantasmas ou não) que buscamos na Riviera Francesa, os brindes, risos e amores que conhecemos. O ponto é o quanto essa balança faz sentido.

Pós-planilha das agências e com a ajuda de movimentos femininos e LGBTQI fortes, hoje já podemos falar mais claramente sobre abusos de todos os tipos – inclusive o machismo velado (não apenas em agências, mas também em empresas e veículos).

Com meus 22 anos, lá em 2007, confesso que a balança trabalho-vida fez muito sentido. Eu me entreguei àquela experiência como um marinheiro se entrega ao mar e vivi tudo que tinha pela frente, dos portos mais bonitos até as piores tempestades. O que não tenho mais tanta certeza é se, hoje, com os mesmos vinte e poucos, eu toparia entrar nas mesmas agências que eu sonhava no começo do século.

Até porque, ao cursar publicidade, os estudantes não precisam mais necessariamente pegar a pílula vermelha (agências) ou azul (empresas) antes de ingressar na Matrix. Existem mais possibilidades dentro do mercado de comunicação, sejam novos veículos ou cargos que surgiram mundo afora e que, sim, podem ser ocupados por publicitários.

É uma mudança de negócio, mas também de pessoas.

A incrível geração que fez o que todas as outras fizeram: evoluiu. Dividimos a história humana por gerações por um motivo bastante simples: porque em algum momento, graças a todas as mudanças proporcionadas por décadas de acontecimentos, as pessoas mudam. E costumam mudar em blocos, como em um nado sincronizado da vida.

Acontece que, como o mundo está cada vez mais rápido, as gerações também têm mudado mais rápido. Vem daí o nosso cansaço precoce com os Geração Z (ou Gen Z, aqueles nascidos em meados de 90 em diante) que, de tão propagados e lembrados em estratégias de marketing, acabaram empapuçando os mais velhos. Acontece que são esses em breve maiores de idade que estão mudando muitos hábitos cotidianos nossos – inclusive aí a vida em agências.

E muito embora nós, das gerações passadas, gostemos de classifica-los como mimados ou a “turma do mimimi”, a real é que vamos trabalhar todos juntos. Logo, precisamos entendê-los e achar a medida certa. Daqui a cinco anos, talvez, as pessoas não queiram mais trabalhar em troca de pizza, cerveja, mesa de ping pong e vídeo games. E aí a tarefa de atrair os talentos será toda nossa, bem como foi de nossos chefes 15 ou 20 anos atrás. É do jogo.

Porque enquanto entendemos como conviver com consultorias, startups, tortas orgânicas e produtos caseiros sem lactose, o mundo está andando. Evoluindo. E aqui pouco importa se pra melhor ou pior; as coisas evoluem com ou sem a nossa concessão. Custe o que custar, doa o que doer. Sempre foi assim e seguirá sendo; sempre teve gente assim e seguirá tendo.

Ou seja, Inês está morta. O fato é que eu não acredito que as agências irão morrer. Mas irão mudar como nunca mudaram nos últimos 70 anos, 43 dos quais a DM9 esteve muito viva. Terão que “agenciar” menos e “transformar” mais. Fazer, de fato, a diferença.

Vamos ter que olhar planilhas, sim. Vamos ter que entender o outro lado do balcão também. Vamos ter que deixar o dedo no pulso dos clientes, entendendo quais as mudanças necessárias não somente no ano, mas na tarde de hoje. Vamos ter que mudar hábitos que conhecemos desde sempre.

Senão vamos seguir perdendo contas e consumidores, perdendo audiência e relevância, cortando pessoas e projetos. Senão vamos ver ainda mais finais e fusões, cercados por pacientes terminais e confusões. Senão não teremos mais o sonho de trabalhar em outras DM9’s.

E aí vamos ter que lembrar saudosos não de um lugar, mas de uma profissão que tanto amamos e de uma vocação que tanto nos orgulhamos: criar.

👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼 bravo!

Escola de Esgrima Abel Melián

Técnico de Esgrima na Escola de Esgrima Abel Melián. Ltda.

6 a

Parabéns Fabiano. Fiquei muito feliz com a notícia do emprego.

Daniela De Piccoli

Redatora/copywriter/especialista em copy/comunicação. Mercado financeiro.

6 a

Muito bem colocado. O modelo de trabalho nas agencias há 20 ou 30 anos está completamente obsoleto hoje, ixe6m para as redações de jornais e revistas...e estamo vendo o buraco pra onde esses veículos foram. Abs.

Fabio Pereira Faroni

Crio site, logos, materiais gráficos, faço edição de vídeo e trabalho com redes sociais.

6 a

Eu trabalhei por um bom tempo em agências. E no começo eu também tive um grande sonho de trabalhar na DM9 ou em uma das grandes agências aqui de SP. Mas a tal da vivência me surpreendia a cada dia e a cada ano que passava. O sonho de trabalhar em uma agência grande foi se desfazendo quando eu vivia a realidade do método de trabalho. E foram vaaarias conversas com diretores de arte, criação, a turma da finalização, planejamento...enfim...todos unânimes sobre a forma de trabalho. Talvez um dia mude, mas eu decidi não esperar a mudança e eu mudei. Montei uma agência, porém pequena e se eu precisar de ajuda caso o volume de trabalho aumente, eu prefiro contratar um freelance do que montar uma agência. Se esse plano vai dar certo, não sei. Mas até lá, uma boa e nova ideia vai surgir para mantermos o que é de mais importante em nossa área: a criatividade.

Marcelo Sales

CEO (e Fundador) na Tudo é acessibilidade

6 a

Lucas Mendes sobre o almoço de hoje... :)

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