Táticas de guerra contra pandemias
A epidemia do covid-19 é comumente denominada de “guerra com contra o vírus”, o que em parte é verdade. Estamos em uma guerra científica e tecnológica contra um inimigo invisível e contra o qual ainda não temos armamento nem munição adequada. Trata-se de uma guerra inusitada, onde a vitoria será dada não por um general nem pelo presidente da república (enquanto comandante em chefe das forças armadas), mas sim pelo cientista que descobrir uma cura ou uma vacina eficaz (essa frase, que adotei, foi me dita pelo Prof.Dr. Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciência).
Já que estamos em guerra, e os gestores públicos parecem perdidos e inseguros nas suas decisões, porque não olharmos as técnicas de guerra adotadas por quem mais entende desse assunto: os militares. É interessante que os lideres gostam de citar Sun Tzu (“A arte da guerra”), mas no momento de crise, não aplicam os ensinamentos seculares escritos por aquele líder militar.
Para fazer frente a uma eventual guerra, que é uma situação extrema de crise, os militares adotam as seguintes premissas:
1) Preparam planos de ações para todos os cenários de guerra e os revisam periodicamente. Se possível, fazem simulações e exercícios militares para manter a prontidão e a capacidade de reação de toda a tropa;
2) Mantém uma estrutura de comando militar firme e consistente em todos os níveis da tropa que permite ações rápidas e eficientes;
3) Estabelecem uma liderança reconhecida pela tropa e que assume as responsabilidades e responda pelas suas decisões, sejam elas corretas ou erradas;
Uma estrutura de comando militar firme pode reduzir a confusão, natural em momentos de crise, e permitir tomadas de decisão mais rápidas. Contar com análise prévia de cenários reduz o estresse da decisão e possibilita reduzir o caos e acelerar as decisões. Esses princípios da liderança militar ajudam a manter a tropa (colaboradores) focada nos objetivos e motivada na realização das ações definidas pela liderança.
Numa guerra, o comando militar estabelece várias equipes com tarefas específicas. São elas:
a) Equipe de Inteligência. Responsável por coletar informações de inteligência, analisando as condições internas e externas e testando hipóteses e cenários.
b) Equipe de Operações. Responsável pela realização das ações planejadas.
c) Equipe de Planejamento. Responsável por criar e analisar cenários e recomendar à liderança estratégias e ações que, se aprovadas, serão executadas pela equipe de operações.
d) Equipe de Comunicação. Responsável por manter um fluxo de informações adequadas e unificadas para todas as partes interessadas externas e internas.
Com base nessas táticas militares, nos espanta descobrir que no Brasil (e em boa parte do mundo) não tenhamos planos prévios de combate a epidemias (e por tabela, para guerras biológicas), nem uma liderança única que assuma as decisões e suas consequências, e nem um plano de comunicação eficiente que divulgue e motive a população a executar um conjunto ordenado de ações para o combate da epidemia. Assim, temos tudo para perder essa guerra! Uma pena.