Tenho visto muitos colegas jornalistas querendo outro rumo na vida

Tenho visto muitos colegas jornalistas querendo outro rumo na vida

Estamos na metade do mês, e ainda tenho um mundo de coisas para resolver. Não, não falo de comprar presentes, enfeitar a casa, organizar tudo para as festas de fim de ano. O tema aqui são os projetos inacabados: o artigo científico que preciso redigir, o curso sobre oratória a concluir, o livro (quer dizer, os livros) a terminar, os estudos iniciados e…

Reticências significam que ainda há mais a ser dito, a ser falado, tratado. Indicam uma pausa, uma sugestão, uma omissão. Na lista que iniciei lá em cima há muito, muito mais. Sim, temos o costume de fazer balanço de um ano quando outro se aproxima. Rever a relação do que foi projetado e não concluído também é uma oportunidade para avançar; seja dobrando a meta a ser atingida; seja riscando tudo do caderninho (ou da agenda do celular) e buscando novos desafios.

A chegada de um novo ano nos leva ainda a outros caminhos. E já escuto a musiquinha de fim de ano da TV Globo: “Hoje é um novo dia de um novo tempo que começou. Nesses novos dias, as alegrias serão de todos, é só querer”.

Querendo bem, muitas vezes vem. E tenho visto muitos colegas jornalistas querendo outro rumo na vida. Uns, com maior habilidade para telas e relacionamento interpessoal, já migraram (ou pensam em migrar) para o universo dos influenciadores. Outros têm investido mesmo em nova profissão: de psicólogos a terapeutas ocupacionais, passando por professores e empreendedores, há de tudo um pouco.

Minha leitura (e há até pesquisa que referenda o que digo) é que meus colegas estão cansados da vida que levam — e sem perspectiva alguma para lidar com o atual mercado. Jornalismo nunca deu muito dinheiro para a maioria das pessoas que escolheram tal profissão, é certo. Mas já foi mais divertido atuar em redação. Sim, foi; atente para o verbo no passado.

De uns anos para cá, porém, ganha força a lógica do jornalista multitarefa, polivalente; prevalece o modelo de redação multiplataforma. “Polivalente”, “multitarefa” e “multiplataforma” são palavras bonitinhas, mas que escondem, na verdade, a exploração da categoria. Todo mundo precisa fazer mais, entregar mais, devotar-se mais à empresa onde trabalha: fazendo textos, áudios, vídeos, tudo ao mesmo tempo agora, mas a remuneração continua uma merreca.

Não é de hoje que os jornalistas precisam ter mais de um emprego para poder pagar as contas. Comprar casa própria, então? Esqueça! Com os atuais salários, tal sonho virou utopia. Para quem está lendo este texto e é de outra área, sugiro que faça uma pesquisa para saber qual o piso dos jornalistas. Ao descobrir, tenho certeza de que vai pensar: “Não acredito que só ganham isso”?

Jornalistas andam arrumadinhos, falam bonito, escrevem bem, mas penam laudas e laudas para conseguir umas moedinhas e manter o estilo. “Ah, mas eu acreditava que esse pessoal ganhava bem”, alguém pode me dizer. Pois é: quando eu era criança, também acreditava em lendas e personagens irreais, como a Fada dos Dentes, o Coelhinho da Páscoa e o Papai Noel...

(Coluna publicada originalmente no jornal A União, edição e 15 de dezembro de 2024)

Sueli de Sá

CEO da Personalle Assessoria de Eventos Corporativos | Gestora de Comunicação | Comunicação Organizacional | Relacionamento com a Imprensa

5 d

Excelente reflexão 👏👏👏👏👏

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