Travessia
Silvio Passarelli- CEO -Silvio Passarelli Luxo e Cultura e Curador Sênior Futuro Compartilhado.

Travessia

Mais do que especular sobre os efeitos no tecido econômico do isolamento, quero deter-me numa exploração dos efeitos pessoais deste afastamento.

Para muitos, a situação é absolutamente nova. A maioria das pessoas não é dada a pensar abstratamente no cotidiano de suas vidas…

Compromissos sobre compromissos.

Hábitos arraigados.

Redes sociais pasteurizadas e nada mais…

Quando por circunstâncias alheias à nossa vontade, você se encontra consigo mesmo, na tranquilidade de uma ação coletiva de resguardo, começam a surgir em sua mente as grandes questões que evitou por grande parte de sua vida.

A primeira delas é quem é você de verdade? De onde você veio e para onde irá depois da morte, tema incômodo mas tão presente nos tempos de pandemia.

Depois você começa, como quem nada quer, ferir os temas da transcendência, questionando esta religiosidade difusa e oportunista, que pelo pretexto do dia a dia atribulado você “empurrou” por décadas.

Na sequência, emergem imagens do seu comportamento no dia a dia. 

No consumo, na vaidade, na gula, na solidariedade, no compartilhamento etc.

Até que começam a acontecer imagens patéticas, como a do sofisticado edifício italiano onde se viam pessoas aplaudindo, emocionadas, enfermeiras e médicos que ignoravam até há 4 semanas atrás.

Medo! Este é o sentimento que vai se infiltrando na mente dos isolados, que nem mesmo a inconsequência de certas “blogueiras” e “influencers” consegue atenuar.

Não posso deixar de me lembrar do compositor Belchior, que tinha, em muitas de suas canções, uma dialética relação com o medo.

Falava de um “fantasma escondido” no porão e dava a este medo ancestrais toques de realidade.

Sim, o mundo não será igual depois do covid-19. Não apenas porque algumas empresas deixarão de existir mas, porque, muitas pessoas terão sofrido grandes transformações interiores, e, como agentes econômicos, se comportarão pautadas pela nova escala de valores.

Numa analogia, atravessar o isolamento é como fazer o “Caminho de Santiago” pulando num único pé.

Não conheço Santiago. Não acredito em pessoas do mal; elas estão adormecidas porque, na necessidade, ou no glamour ofertado por Ns sistemas, aderem à comportamentos sem mesmo perceber o quão de daninho existe neles. O ser humano, é por si só, massa falida, no que diz respeito às resistências corporais, por mais que se cuidem, tudo é em vão, chega o fim. Eu me lembro que na maior de minhas agonias existenciais, achei arrimo num banco de uma igreja... claro, minha capacidade de pensar estava reduzida ao problema que me matava, aos poucos. Hoje, estou eu, como dizem, "cuspindo no prato que comeu"(?). Voltando à consciência, vejo que nada na vida é em vão... Mas, chega um certo momento que temos que escolher o que é, digamos, o que seja proveitoso para um fim proveitoso... Daí, deparamos com a questão: o que será que tem do outro lado? Jovens costumam "dançar em meio aos caos, pateticamente vi, lá na Espanha, pessoas dançado, e não normal, com câmaras na mão, "se lambendo", digamos assim, eu costumo ouvir musica, tirando delas algo de filosófico... Imagino que todos já sonharam com um castelo...até o castelo da vaidade é um, sob areia movediça, quem nunca? Noite anterior fui deitar e pensei, se eu fosse dona de muitas empresas, se eu fosse rica, será que eu também não teria comportamentos quão vaidoso quanto alguns têm? Ai, voltei e vi que eu fui muito jovem, e me vi diante de possibilidades de "sair da linha", em meio a uma vida infernal... NÃO AQUI FALANDO DE CONDUTA, "MAL" DE PESSOAS BEM SUCEDIDA, CADA UM SABE O QUE É MAL, AOS SEUS PRÓPRIOS OLHOS..., mas, não saí, e por que? O castelo tem duas características, ou é de areia, ou um dia teremos que abandonar-lo... Eu sou muito chata, reconheço... Eu tive uma vida dura, e essa dureza, talvez me fez "rígida", em relação à saber o que realmente vale a pena. Eu recebo críticas, as vezes, de familiares, do tipo: vai viver... vai sorrir, vai fazer isso vai fazer aquilo... Eu faço tudo isso, mas, sei, que eu tivesse, "saído do caminho"... como dizer ao filho: Faça o que eu faço... Professor, eu não estou apontando dedos para ninguém, mas, a travessia é diária, e dói, imensamente dói, porque a gente nunca pode baixar a cabeça e dizer as pessoas que a gente ama, ou quer que elas entendam o porque da nossa dureza, não se importe com o fim, até porque, como já ouvi, "a vida é curta"... Como posso garantir algo, se nem sei o que tem do outro lado? Nos momentos de dor é que quem nos critica saberá que a "nossa chatice"... é prevenção, da "covid 19"... Aproveito para dizer que, fiz muitos amigos por ai, apesar deles não saberem que são meus amigos, e amigo que é amigo não empurra o outro na areia movediça... Então, algumas vezes meus familiares, me entendem... talvez só porque eles sabem que precisa de um ombro para chorar, juntos... que os amigos, espero que os meus amigos que não sabem que são, meus, me entendam também. Forte abraço. E esses caminhos de Santiago? ESPERO FAZER-LOS... APRENDER MAIS E ME DAR MAIS CHANCES, DE, SE PRECISO FOR, "CUSPIR NO PRATO QUE COMI", AFINAL DE CONTAS, MUDAR PARA MELHOR É COMO SEPARAR O JOIO DO TRIGO, É DESEJAR SER TRIGO... Forte abraço!

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