ZENÃO ENSINA A VIVER
Zenão foi um sábio grego que viveu cerca de três séculos antes de Cristo. Orador de talento, ensinava ao ar livre, como era hábito à época. Tinha o costume de reunir seus alunos sob pórticos recobertos de pinturas, construções comuns na Grécia daqueles tempos. Não demorou para que ele e seus discípulos passassem a ser conhecidos como estoicos, em grego, “aqueles do pórtico”.
Zenão logo ganhou fama e seguidores, encantados com o que o sábio ensinava. Até o imperador romano Marco Aurélio virou seu discípulo. Mas, afinal, o que pregava de tão sedutor esse bom filósofo? Algo muito simples, que todos sabemos, mas frequentemente esquecemos: que o homem é um ser atribulado ora pelos arrependimentos do passado, ora pelas preocupações com o futuro. E que, preso ao que passou e ao que está por vir, esquece do presente, o único lugar que realmente lhe pertence.
“Enquanto se espera viver, a vida passa”, dizia Sêneca, um dos maiores discípulos de Zenão. Ensinamento, que, quase dois mil anos depois, seria replicado pelo grande filósofo Pascal: “Jamais nos mantemos no tempo presente e por isso jamais vivemos, mas apenas esperamos viver.” Sábias palavras.
“Jamais nos mantemos no tempo presente e por isso jamais vivemos, mas apenas esperamos viver.”
Os ensinamentos dos estoicos continuam válidos hoje, porque fazem lembrar da fugacidade da vida. Da incerteza que paira sobre a existência de todos nós. Não nos deixam esquecer que o presente é, ao final, a única graça que temos. E que não convém desperdiçá-lo.
Isso não significa que devemos deletar o futuro de nossa vida, dando de ombros para o amanhã. A vida se constrói, também, sobre nossos planos. É preciso pensar no dia seguinte, por certo. Mas isso não demanda adiar a felicidade, colocando a vida sempre em uma eterna espera. “Na véspera de não partir nunca pelo menos não há que se arrumar as malas”, disse o grande poeta Pessoa. Quantas vezes, pelo medo do futuro ou pela prisão do passado, deixamos de arrumar nossas bagagens e aproveitar a estrada do presente?
“Na véspera de não partir nunca pelo menos não há que se arrumar as malas”
Zenão morreu aos 72 anos, na vida simples que sempre pregou. Nenhum dos escritos que deixou, sobreviveu. Mas seus ensinamentos, felizmente, passaram de geração em geração pela boca de outros filósofos. Ensinamentos que forjaram, ao longo do tempo, uma verdadeira sabedoria.
Uma sabedoria que continua a nos lembrar do valor do momento presente. Do inexorável curso do tempo que a tudo engole. Uma filosofia que segue sussurrando aos nossos ouvidos uma verdade tão singela quanto inescapável: cada segundo é, e será sempre, um eterno nunca mais.
Do livro FELICIDADE, editora Cipó, 2017.