Brasil e a economia zumbi
São Paulo, 24 de julho de 2022
A sociedade brasileira fez uma opção pela comodidade. O lado bom é que aqui sempre se acomodou tudo. Por isso, não temos guerra, revoltas, e o que prevalece é um sentimento de otimismo aparente, o tal do “país do futuro”, que nunca chega. Mas continuamos a acreditar nisso. Esse é o tom, às vezes mais, às vezes menos como nos dias atuais.
A sabedoria popular ensina que crises vem e vão, e o que vale é o “carpe diem”, o churrasco, o encontro com os amigos, e o futebol para alegrar, ou não, o fim de semana etc. Esse é o brasileiro médio.
É de se esperar que esse brasileiro médio não vai ligar muito para estatística. É chato! E sem importância, ao menos para ele. E para nossos líderes nacionais está bem, pois não altera o “status quo”. Não falo de individualismo, mas de comodismo, já que a sociedade está acomodada. Então está tudo bem, seguimos com a política do “pão e circo”.
Mas a estatística diz o contrário. De acordo com o IBGE, somos 215 milhões de pessoas. Contudo, 90% das pessoas têm renda abaixo de BRL 3500,00 por mês, e com a média deste grupo por volta de BRL 1500,00. Se você ganha BRL 29000,00 (antes do imposto de renda! ☹), está no top 1%. Fonte: PNAD contínua – IBGE liv101709_informativo.pdf (ibge.gov.br) .
O que se pode consumir com 3500,00 por mês após dedução do mínimo para se viver (eletricidade, água, telefone, condomínio, transporte, alimentação e vestuário)? Pior ainda quando se sabe que a média destes 90% da população é aproximadamente BRL 1500,00.
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O que se entende é que o Brasil possui 215 milhões de pessoas, sendo que 193 milhões são zumbis, que estão na luta para sobreviver, ou ser feliz no seu “carpe diem”. Zumbis no sentido de ganharem para pagar as contas básicas, ou nem isso, e depois não resta mais o que decidir ou o que fazer. Não podem mais decidir o que consumir, viraram zumbis do consumo.
Me coloco na cadeira de um CEO no headquarters de uma multinacional em qualquer país desenvolvido. Qualquer investimento em produção, expansão, ou lançamento de produto teria como alvo somente 10% da população, talvez um pouco mais. Isso explica nossa base manufatureira; é de produtos de baixo poder aquisitivo, há demora em lançamento de produtos de maior valor agregado, que vem em versões com “downgrade”, e há tremenda falta de investimento no país.
Não estou nem falando de juros altos, descontrole governamental (risco país), inflação, insegurança jurídica e incertezas se contratos serão cumpridos. Isso vem antes. É a base de qualquer Business Plan. Se não há retorno no investimento por falta de volume, não há o que se fazer. Sorry!
E essa falta de retorno traz menos investimentos e menos competição. E já aprendemos que a competição é a única forma de se obter produtos melhores e mais baratos. É só analisar produtos de maior valor agregado que fica evidente. Um notebook de marca vendido aqui terá sempre configurações mais modestas que o correspondente notebook em países desenvolvidos e a um preço muito mais alto. Pior ainda quando se fala em bens de luxo. Tome um Porsche 911 GTS (modelo de entrada) que custa BRL 1 milhão aqui. O mesmo modelo é vendido a USD 100K nos EUA, ou seja, dólar = BRL 10? Na verdade, quem quiser, que pague. Não existe escala para pagar o investimento e / ou nem competição para baixar o preço, fruto da falta de poder aquisitivo da grande maioria dos brasileiros.
Problema definido. Qual seria a solução? É só melhorar o poder aquisitivo, melhorar a renda do brasileiro médio. Mas como se faz? É só dar qualificação e educação. Maior qualificação resulta em maior salário e maior poder aquisitivo. Então por que não faz? Bem, a execução sempre falha, não só pela corrupção e incompetência no sistema educacional brasileiro, mas principalmente porque o brasileiro possui essa cultura de “comodidade”. Ela impede a população de querer mudar e de cobrar seus líderes e impede os líderes deste país de quererem sair do “status quo”. Sem falar na falta de conhecimento cívico da população que a impede de agir. É um círculo vicioso dos mais perversos. No fim, o Brasil se tornou aquele estudante acomodado que precisa tirar 5.0 na prova para passar de ano e estuda o mínimo para tirar 4,75 e passar no arredondamento.
Imaginem o impacto econômico em trazer 30 milhões de pessoas para a faixa de 5000,00. Os investimentos e geração de emprego seriam gigantescos comparado a hoje. Talvez a proliferação de cursos profissionalizantes seria um passo para preparar a próxima geração para voos maiores. É um pequeno passo de dimensões imensas. Contudo, o cenário eleitoral deste ano não mostra nenhum candidato endereçando este problema. Pior ainda, nem a população cobrando uma solução neste sentido. Ainda parece que seremos o país do futuro, por muitos anos a vir.
Finance Executive | Consulting & Investiments | Board Advisory | Board Member | CFO | Finance Director
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