O menino autista, de 2 anos, dopado por funcionários na creche Espaço de Desenvolvimento Infantil Renée Biscaia, em Cosmos, na Zona Oeste, passou a frequentar, nesta quarta-feira, uma nova unidade municipal, em Paciência. No local, ele será acompanhado por um moderador — profissional especializado que o auxiliará durante as atividades propostas.
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A mãe da criança conta que pediu um mediador para estar junto ao filho na antiga creche, mas a solicitação foi negada. Ela relata que ainda está tentando criar um vínculo de confiança com a nova local.
— Ofereceram uma pessoa para ficar com ele porque antes não tinha uma pessoa especializada no cuidado dele, né? Tínhamos solicitado, eles disseram que não era necessário e agora foi oferecido a ele. Nessa nova creche a gente foi muito bem acolhido, apesar de a gente ainda estar criando um vínculo novo de confiança, né? Que eu acho que vai demorar um pouco — relatou ela ao GLOBO.
Segundo a mãe, depois do ocorrido, ela vai tentar acompanhar ao máximo o filho na nova creche, até que ele esteja confortável:
— Eu hoje o acompanhei a todo momento, ele não ficou sozinho. Ele fez uma adaptação e vai fazer por mais alguns dias, mas mesmo assim nessa adaptação eu vou estar com ele. Eu até conversei com as professoras, expliquei, né? Vou ficar com ele até o momento que eu achar necessário estar presente na escola.
Ela conta que escolheu esta creche por ser uma unidade antiga na região e por ter sido bem recomendada. O primeiro contato com a mediadora, diz, foi positivo:
— No primeiro contato, ela foi carinhosa, tentou estimular ele nas brincadeiras, tentou colocá-lo nas atividades. Ela disse "olha, estou conhecendo ele, quero que ele me conheça, pegue confiança". Porque as crianças autistas têm isso, precisam criar um vínculo com a pessoa. Amanhã é o segundo dia, vamos ver como vai ser a adaptação.
A Prefeitura do Rio afastou os funcionários da creche Espaço de Desenvolvimento Infantil René Biscaia. Segundo a Secretaria municipal de Educação, as duas professoras que estavam na sala de aula no dia em que um remédio controlado teria sido dado à criança foram destituídas, e uma sindicância, instaurada.
Ainda em nota, o órgão afirmou que "há uma investigação da Polícia Civil em curso com o apoio da Secretaria para avançar nas apurações". Procurada, a corporação informou que as diligências estão "em andamento na 36ª DP (Santa Cruz)". Segundo a nota, "os agentes estão ouvindo testemunhas e requisitaram imagens de câmeras do local". Nesta quinta-feira, as professoras prestarão depoimento.
Nesta quarta-feira, a mãe da criança compareceu a uma reunião com o secretário municipal de Educação do Rio, Renan Ferreirinha, para mais esclarecimentos sobre o caso.
— Ele explicou para a gente sobre a sindicância, disse que já estava correndo da maneira que tem que ser feita e que as partes já começaram a ser ouvidas. Que não havia afastado antes os profissionais porque, de fato, ele não tinha tudo que fosse necessário. Foi decidido por eles que, de início, pelo menos as duas profissionais que tiveram um contato direto com meu filho até o momento em que peguei ele (foram afastadas) — contou.
Entenda o caso
Os pais da criança procuraram a polícia para registrar que, no dia 16 de junho, perceberam que o menino estava prostrado, sem conseguir andar normalmente ou segurar a mamadeira. O caso foi revelado pelo RJ 2, da TV Globo, na última segunda-feira.
A mãe relatou que o filho apresentava um cansaço incomum e falta de coordenação motora. Preocupados, os pais levaram a criança para a emergência do Hospital municipal Rocha Faria, em Campo Grande. O casal afirmou que o menino chegou a ficar desacordado durante o trajeto até a unidade de saúde.
A criança foi submetida a uma lavagem estomacal e recebeu medicação. Segundo a família, o médico sugeriu que procurassem a polícia, pois os exames indicavam que o menino poderia ter sido dopado. No boletim médico, a situação foi classificada como intoxicação aguda.
A família registrou a ocorrência na 35ª DP (Campo Grande). A delegacia assumiu a investigação num primeiro momento; depois, ela foi repassada para a 36ª DP. No entanto, de acordo com os pais da criança, a Polícia Civil não pediu nenhum exame.
O delegado Edezio de Castro Ramos Junior, titular da 35ª DP, disse ao RJ 2 que os investigadores apuram se a criança foi dopada e a intenção da pessoa ao ministrar o remédio:
— Se for constatado que ele foi dopado, é uma situação bastante grave. Mas não podemos, de maneira açodada, falar qualquer coisa para não atrapalhar as investigações. Queremos entender o que aconteceu com a criança. É preciso saber a intenção da pessoa em ministrar a medicação e se teve a ministração.
Exame em clínica particular
Os pais levaram o menino a uma clínica particular, onde foi realizada uma análise laboratorial que detectou 0,18 miligramas de Zolpidem em seu organismo. Esse medicamento de uso controlado é um agente hipnótico indicado para o tratamento de insônia de curta duração. Na segunda-feira, os pais compareceram à 10ª Coordenadoria Regional de Educação para solicitar a transferência do menino para outra unidade escolar.
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*Estagiário sob supervisão de Carmélio Dias
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