ATÉ BREVE , MINHA "PEQUENA GIGANTE".
E hoje, não será fácil escrever!
Na semana passada, minha querida mãe, Rosangela Toscano Ferreira, nos deixou de maneira repentina. Sei que não há momento para perder uma pessoa tão querida, mas receber uma ligação as 05:23 da manhã, do celular da sua própria mãe, dizendo que você precisa correr para casa dela, não é algo habitual, e ninguém está preparado para isso, ainda mais quando a pessoa estava bem e estável, sem problemas graves aparentes.
Eu vou escrever aqui, para deixar registrado, porque minha mãe tem muito a ver com minha formação pessoal, mas também com a formação profissional, e vou puxar pela memória alguns momentos marcantes que essa "Pequena Gigante" me ensinou de maneira mais indireta do que direta, alguns ensinamentos que podem servir para a vida e mundo corporativo também.
Puxando aqui pela memória, lembro que minha mãe ficou grávida com cerca de 19 anos, e acredito que os planos não eram esses e não foi planejado. Somos 3 irmãos por parte de Mãe, e 5 por parte de Pai. Para tornar a situação ainda mais crítica, meu pai Victal Ferreira Filho, já tinha uma filha de 2 ou 3 anos, de uma relação anterior, ele jovem também com a mesma idade da minha mãe, não foi planejado também.
Não tinham casa, não tinham carro, não tinham nada material, de familia simples, nenhum dos 2 seriam herdeiros também.
Então, começa aquela saga de onde vamos morar, junto com quem, ou no fundo da casa de quem, e lá foram morar no fundo da casa da minha Vó , esperando nascer meu irmão mais velho, Victal. Creio que as familias fizeram aquela pressão básica, engravidou agora tem que ficar juntos, pois creio que quase ninguem quer casar com 19 anos e já com filho, sem ter onde morar.
Minha Mãe fez até 8ª série do ensino fundamental e Técnico em Raio X ou algo assim. Não sei como funcionava, nem sei se era Técnico mesmo, o fato é que estudou relativamente pouco. Ela trabalhou um tempo como Técnica nessa área dela, no hospital, mas em 2 anos, logo venho Eu, para me juntar a familia, e pouco tempo depois , menos de 2 anos, meu irmão Caçula André vem se juntar a nós. Falta de informação , orientação, ou seja o que for, o fato é que 3 filhos em prazo de 5 anos, não é planejado e raramente estão preparados para isso.
Desde então, ela se tornou uma dona de casa , mas empreendedora. Mudamos dos fundos da casa da Vó Maria Helena, para os fundos de um Grêmio Recreativo da empresa que meu pai trabalhava. Isso mesmo, uma casa emprestada pelo Clube da empresa Relógios Brasil. De lá, fomos para casa da minha bisavó Jacira, morar na casa dela por um tempo, em seguida mudamos para casa da minha Vó Germana, e após alguns anos desse muda para lá e para cá, meu pai conseguiu alugar uma casa, trabalhando em 3 empresas diferentes, dia e noite, e finais de semana ( como motorista de onibus de turismo ), as coisas iam melhorando.
Meu pai não era ausente, na minha memória, sempre muito presente. Mas de fato, trabalhava bastante, e acabava sobrando para minha mãe cuidar de 3 filhos pequenos, 2 ou 3 cachorros, passarinhos, coruja, galinhas, tartatugas, coelhos, papagaio, e tudo mais que passou pela nossa vida . Ela cuidava da casa, de nós 3, da filha do meu pai Luciana (minha irmã, mas de outra mãe ), acredito que tenha passado por situações bem difíceis nessa jornada.
Somente agora, refletindo um pouco, paro para pensar o quanto esse jornada foi desafiadora, mas o que não me lembro, mesmo puxando na memória, foi de ter visto ela reclamar. Não me lembro, mesmo.
Além de dona de casa, minha Mãe vendia de tudo. Tupperware, Avon, Hévea, catálogos dos mais diversos, roupas de Monte Sião, de Jacutinga ,produtos de Serra Negra, "muambas" do Paraguai que ia buscar nas viagens com meu pai. Mexendo aqui no celular dela por esses dias, vi que estava conversando com uma representante de cosméticos, e acho que ia vender algo novamente. Ela nunca parou, mesmo quando não precisava mais fazer isso pela questão financeira, ela não conseguia ficar parada. Acho que é porque ela gostava de gente mesmo.
Meus pais conseguiram dar entrada em uma casa, e lá foi nosso paraíso por muitos anos, e quando iam vender a casa, eu comprei, porque queria manter a memória intacta.
As reuniões na minha casa eram frequentes, amigas, vizinhas, clientes, parentes, o tempo todo tinha gente na minha casa, comprando ou vendendo alguma coisa. Além dos diversos animais citados acima, que pareciam um zoologico, o comercio rolava solto. Era obra no quintal (meu pai modificou a casa inteira, sempre que esteve por lá ), e vendas. na sala, na cozinha, no quarto, em todos os lugares.
Essa veia comercial nos picou né, de certa forma. Ela montou uma barraquinha de doces na frente de casa, pois era caminho para escola. Não podia dar certo, né, com 3 ou 4 crianças pequenas e muitos vizinhos amigos, mais comíamos do que vendíamos. Vendemos Geladinho ( chup chup, sacolé, din din, que nome for ). Vendemos Bombons. Vendemos ovos de páscoa. Vendemos Pipas. Acho que esqueci algo, mas acho que vendemos também.
Ela comprava e vendia as coisas de casa também, nossos móveis e eletronicos, enquanto meu tio pintava os carros no quintal, reformava com jornal embaixo da massa, e vendia os carros. Tinhamos um mina de água no fundo do quintal, deveriamos ter engarrafado e vendido água, mas isso não fizemos.
Um dia cheguei em casa , não tinha nenhum móvel na sala. Somente almofadas para sentar no chão. Não tinha TV, não tinha estante, não tinha sofá nada, ela vendeu tudo.
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Quando fomos crescendo, ela ia vendendo nossas coisas de quando eramos menores, e eu ficava bastante bravo com isso. Sou apegado, guardo as coisas ( isso puxei do meu Pai), e quando sumiam, sabia que ela tinha vendido, e ficava contrariado. Mas logo passava, ela era assim, e fazia sorrindo, sempre.
Minha mãe quem pegava chinelo , cinta e tudo o mais que tinha por perto para nos repreender. Meu Pai, só dava bronca e já tremíamos, mas era minha Mãe quem nos ensinava o que não deveríamos fazer. E não há nada de mal nisso, se ela estivesse aqui, poderia me bater á vontade, que sei que tinha o objetivo de nos ensinar algo, e não ligo a mínima para esse "mi, mi, mi" de hoje em dia que pais não podem colocar a mão em filhos. Eu não morri, estou aqui , e me fez crescer.
Minha Mãe também passou por mais uma fase dificil, meu Pai teve uma filha fora do casamento, e veio a Renata , nossa irmã. Somente hoje consigo entender que deve ter sido muito dificil passar por isso, e eu nem me lembro direito, pois ela não fez nenhum alarde. Procurou resolver as coisas direto com meu Pai, sem deixar aquilo nos afetar. Algo que eu, não conseguiria fazer. Imagino o quanto mais eles passaram juntos e as dificuldades, e que nunca deixaram transparecer para nós , as crianças.
Minha infância foi incrível, minha adolescencia também, obrigado Mãe por tudo que fez por nós nessa época.
Quando adultos, meus pais quiseram mudar para o litoral. Foi um choque para mim, ia "perder" minha familia ? Então foram, para Mongaguá, casinha simples, mas que ficamos muito felizes quando compramos, nossa primeira casa na praia. Tudo incentivado por ela, que era a empreendedora da familia.
No litoral, meus pais brigaram e se separaram. Ela foi para um lado, e sumiu por um tempo, ele foi para outro, e se casou novamente. Mais uma vez fico imaginando, minha Mãe, sem estudo , sem ter trabalhado formalmente, sem renda, sem herança ou bens materiais (tinham vendido a casa ) , vagando por aí, perdida, sem rumo. Não consigo me colocar no lugar dela, é bem dificil imaginar.
Nós, os 3 filhos, procuramos apoiar os 2, Pai e Mãe, já estávamos casados , com filhos, com nossos problemas também. Até que conseguimos encontrá-la, ela voltou a morar na praia, reformamos por lá, ela teve os relacionamentos dela, os amigos novos locais, e procuramos apoiar da forma que podíamos.
E, claro, ela voltou a vender as coisas dela, manter a casa cheia de gente, e sempre muito presente. Passados os anos, meu Pai teve alguns problemas de saúde, separou da outra esposa, se desfez dos negócios dele, e pediu para ir morar com minha Mãe, e não é que ela aceitou ? Em casas diferentes , no mesmo quintal, pela história que tiveram juntos, optaram em ficar próximos novamente, se juntos, não sei, mas próximos, com certeza.
Então voltamos a conseguir visitar nossos Pais novamente, juntos. Para os filhos, isso sempre é muito bom. Meu Pai teve diversas complicações no coração, diabetes, AVC, e precisava de cuidados, e foi minha Mãe que , apesar de tudo que passou , estava lá , junto com ele, quando o mesmo veio a falecer , dormiu e não acordou, em 2020.
Ela morava numa casa, não queriamos que ficasse sozinha, então compramos um Apto na Praia Grande, em região mais adensada, com comercio perto, local que ela adorou ( porque tinha muita gente ), e mais seguro. Ela também teve AVC, Ataque cardíaco, Stent no coração, Enfizema pulmonar ( fumante a vida toda ), mas era forte e passou por isso. Tomava remédios que eu nem conseguia contar, mas continuava sorrindo, indo com seus amigos no forró, e de certa forma, unindo a familia ainda.
Ela tinha uma cachorra enorme , que ficava no quintal da casa, quando mudou para Apto, levou e e colocou na varanda. A cachorra sofreu um pouco essa mudança, mas minha mãe não abriu mão dela , apesar das dificuldades, pois ela não conseguia levar para passear, a cachorra puxava demais e era muito forte, e não podia ver um cachorro que queria correr para cima.
Ela me perguntava de tudo, de meu trabalho, da minha filha, da familia, dos vizinhos, sempre queria saber de tudo. Ela não parava de falar um minuto, e bem que eu queria que ela estivesse aqui falando sem parar, não iria me incomodar mais.
Estávamos próximos , e a senhora parecia bem. E agora se foi.
Mãe , dona Rosangela Toscano Ferreira, espero que eu tenha demonstrado em vida, o quanto amava a senhora. Se não o fiz, vou rezar aqui toda noite, para que saiba disso, pois sei que está olhando por mim. A senhora me levou no Mc Donald´s com 14 anos, e ao inves de me dar um lanche, me deu um emprego, e foi um presente que demorei a reconhecer.
Mãe , não sei quanto tempo ficarei por aqui nessa vida, mas não será fácil sem a senhora. Espero que esteja por perto, que me faça sentir sua presença. E espero encontrá-la em breve , seja lá quando for, mas vou atrás disso.
Tenha absoluta certeza, que lhe amo mais do que tudo, espero ter demonstrado isso, e continuarei aqui reforçando isso no meu coração .
Gostaria de saber se está bem. Fale comigo quando puder. Beijos de um de seus "AMORES", como gravava nosso nome no celular.
Gestora Comercial | CFA/CRA/TRANSAÇÕES DE TÉCNICO IMOBILIARIA/CRECI
2 aMeus sentimentos Ivan
Analista de rede de telecomunicações
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Superintendente de Gestão e Operações na Saga Malls | Araguaia Shopping | Gestão de Portfólio e Liderança de Equipes de Alta Performance
2 aMeus sentimentos Ivan!
Gestora em TI &Perfil no Linkedin/Especialista em Posicionamento para Gestores e Executivos de Carreira no Linkedin/Consultora de Perfil Linkedin /Especialista em Analise & Reestruturação de perfil
2 aMeus sentimentos ! E principalmente Parabéns por honra tanto está grande mulher e seu grande legado .