E aí, você tem?
Prageralver: fundo preto escrito quinta sem tbt, na cor branca e amarelo. Ao lado a imagem de Ruth, mulher negra, com cabelos curtos e vestido azul.

E aí, você tem?

O mês de Novembro nos inunda de pautas voltadas a consciência negra, evidenciando dores, mas também mudanças positivas que atingiram as pessoas negras.

Nem tudo são flores, mas também podemos e devemos dar luz aos grandes movimentos que pessoas têm feito para revitalizar a imagem da população negra na sociedade, nos desassociando de posições de subserviência, incompetência e inferioridade.

Primeiramente, por que fala-se muito das pautas raciais no mês de Novembro?

Porque no dia 20 de novembro (de 1695) foi registrada a morte de Zumbi dos Palmares, um dos grandes líderes e símbolo de luta contra o racismo presente na sociedade brasileira. É uma data onde as pessoas de fato celebram a união de povos para a busca da liberdade e igualdade de direitos das pessoas negras.

E por que não falamos com essa mesma intensidade no mês de maio?

Porque a liberdade assinada no dia 13 de maio 1888 foi uma movimentação política, após muito empenho das pessoas escravizadas e de grupos abolicionistas pressionando os 'senhores', além da forte pressão que a Inglaterra e outros países colocavam em Portugal (e consequentemente no Brasil), por seus tratados econômicos. Nessa época existiam 3 grandes discussões em torno da escravização de pessoas negras.

  1. Os escravistas, que defendiam a manutenção da escravidão;
  2. Os emancipacionistas, que buscavam a somente libertação jurídica dos escravos (o que de fato se deu); 
  3. E os abolicionistas, que apoiavam não apenas a libertação, mas a concessão de direitos às pessoas escravizadas, com sua plena inserção na sociedade (o que nunca aconteceu).

Até chegarmos a Lei Áurea, uma série de leis e compromissos foram firmados, com pequenos avanços para a população escravizada, mas sem uma real reparação sob os danos gerados e nenhum suporte de inclusão social (tabela 1).

Tabela 1 - Fonte Politize


Por isso, o 13 de maio não é uma data para celebração ou agradecimento. Nessa data deve-se refletir sobre tudo o que foi causado a população negra e o quanto uma decisão meramente política ainda respinga na sociedade, em forma de discriminação e violência, já que o objetivo nunca foi retratar ações ou 'reparar' danos.

Muitas pessoas ainda pensam como escravistas, outras pensam como emancipacionistas, por isso é ainda fato recorrente, vermos cenas de assédio e discriminação de pessoas negras, pelo fato de existirem, não aceitando seu posicionamento ou ascensão social. Essa é uma discussão sobre soberania e poder, portanto não importa se a pessoa negra tem educação, bens ou fama.

A abolição de fato, segue sendo construída no dia a dia, com gerações e gerações de pessoas negras e pessoas aliadas se unindo em prol de direitos, respeito e oportunidade nos espaços de poder. Mas essa é uma pauta que não deve ser discutida apenas no mês de Novembro. É preciso estar atento e ativo a todo momento.


Mas como a consciência pode ser internalizada, materializada e percebida no dia a dia?

  1. Vá além do aprendizado que a escola te trouxe sobre a história do Brasil e sua diversidade de povos. A ampliação de consciência te levará a perceber que o que "sempre foi assim" não é sinônimo de estar correto.
  2. Ative o modo consciente de pensar e reflita sobre a ausência ou pouquíssima presença de pessoas negras em diferentes meios sociais e posições de liderança. Como você passa a decidir intencionalmente para promover essa mudança?Lembre-se que ter empregados negros a sua volta não é evidencia de não ser racista, isso apenas reforça o papel de subserviência e soberania imposta desde o período escravagista.
  3. Reflita sobre a naturalização da violência e exclusão de pessoas negras em diferentes meios. Não deveria ser normal naturalizar pessoas negras como suspeitas, menos competentes ou vê-las sendo violentadas dia a dia sem nenhum questionamento. Isso é parte do viés estrutural imposto na sociedade."Segundo estudos realizados pelo IBGE, [1] o acesso de diferentes grupos populacionais a bens e serviços básicos, tais como saúde, educação, moradia, trabalho e renda, tem sido desigual.  Em relação ao mercado de trabalho, nos cargos gerenciais, negros ocupam 29,5% dos cargos e brancos 69%. No que tange à situação de empobrecimento da população, pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza, dos que recebem menos que US$ 1,90 por dia, 9% são pretos, 11,4% são pardos e 5% são brancos. Dos que recebem menos que US$ 5,50 por dia, 34,5% são pretos, 38,4% são pardos e 18,6% são brancos......as pessoas negras representaram 77% das vítimas de homicídios, com uma taxa de homicídios por 100 mil habitantes de 29,2. E entre os não negros (soma dos amarelos, brancos e indígenas) a taxa foi de 11,2 para cada 100 mil" (Fiocruz)


Além dos diferentes fatos que nos emocionam dia a dia (ao menos emocionam os que não se encontram no modo automático), os dados evidenciam o tamanho da desigualdade entre os povos.

Retomando o título: Para sairmos desse lugar, é preciso consciência sobre a população negra.

E aí, você tem?


Vamos falar sobre ações práticas nas próximas conversas, mas deixe aqui suas dúvidas e atitudes ou programas que aplica ao seu redor ou no mundo corporativo.


Começa por você, mas só avança no coletivo! Vamos?

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