A guerra comercial utilizada para destruir empresas brasileiras
Gráfico representando o volume de investimentos via BNDES em países - Fonte: Relatório do BNDE, página 223

A guerra comercial utilizada para destruir empresas brasileiras

Estive trabalhando por onze anos em obras e serviços de empreiteiras implicadas na lava jato. Nesse tempo exerci a função de gerente e engenheiro da qualidade. Tenho orgulho das atividades e obras em que estive envolvido. Foram executadas com muito profissionalismo e paixão. Vejo os resultados trazendo benefícios à sociedade e sinto satisfação pelo que mulheres e homens puderam realizar.

Havia problemas sim. Apesar de eu não ter uma gota de lama em envolvimento com isso, a corrupção endêmica noticiada pela imprensa, promovida principalmente pelos políticos patrimonialistas que mandam no país há 500 anos era (é) lamentável. Digo “é” porque não acredito no movimento capitaneado pela extrema direita brasileira e estadunidense, como dando fim à corrupção. Ao contrário, foi um projeto de poder travestido desse discurso moralista.

Tenho a consciência tranquila, pois quando começou a perseguição aos executivos, afirmei para mais de uma pessoa: “espero que mantenham as empresas – e os empregos”. Não só não mantiveram, como fizeram outra coisa também alertada: abertura de mercados para empreiteiras estrangeiras. As grandes empreiteiras brasileiras tinham negócios no Brasil, América do Sul, Europa e América do Norte. O financiamento do BNDES para execução de obras nos países – chamado de exportação de serviços – não era, como dizem, sustentação de “ditaduras comunistas”. O país mais beneficiado com essa prática foi os Estados Unidos. Os países estavam adimplentes; quase todos em dia com os pagamentos. Os dados são públicos no relatório do BNDES.

Essa modalidade de exportação gerou milhares de empregos no Brasil e no exterior. Fomentou uma enorme gama de subfornecedores que floresceram em áreas com obras, serviços e novas instalações construídas. Especialistas do ramo da construção pesada apontam haver cerca de 50 trabalhadores operacionais para cada engenheiro contratado. Dá para imaginar a quantidade de postos de trabalho perdidos?

Fizeram o cidadão médio extremista, acreditar que era comunismo do PT. E que tudo era corrupção desse partido, e ajuda a fundo perdido presenteando “ditaduras comunistas”. Muitas pessoas confundem relações internacionais com ideologia... mas isso é tema para outro artigo.

Outra ideia distorcida foi que o PT estava quebrando o país – com cerca de USD 400 bilhões em reservas internacionais deixados em caixa para os governos posteriores... incrível! Como a imprensa tradicional também ajudou nessa farsa! No mínimo se omitiu.

Depois desse baque, vejo agora o principal líder lavajatista, responsável direto pela quebra das empreiteiras, associando-se a uma empresa estadunidense que está atuando na recuperação judicial da Odebrecht. Um fato me deixa mais decepcionado com as elites formadoras de opinião e com o cidadão médio limitado: o apoio ao fim de coisas boas que tínhamos. Estes entendem como fim da “mamata” a perda de grandes empresas.

Resultado prático para o cidadão comum, como eu: engrossamos o contingente de 14 milhões de desempregados, outros 15 milhões desistentes de procurar emprego, e também outros tantos milhões trabalhando por aplicativos e outras atividades precarizadas. Atividades muito dignas, diga-se de passagem. Mas já tiveram a curiosidade de perguntar a formação de cada motorista de aplicativo? É gente com iniciativa, inteligência, pensamento positivo... mas sem oportunidade à vista. Antes as empresas buscavam os estudantes nas escolas... agora desesperança...

Para trazer outros exemplos, vejam como agiram outros países & pessoas nessa guerra. Na Alemanha, o departamento de estado dos Estados Unidos promoveu a mesma campanha de combate à corrupção contra a Siemens através de lawfare. Os alemães não permitiram a quebra da empresa. O objetivo final, tudo indicava, era melar os negócios da Siemens com o Irã (país sob sanções econômicas dos Estados Unidos).

O próximo exemplo é sobre Elon Musk, celebrado como empresário “brilhante”, “inovador”, “visionário”. Esse fato é até verdade. Esse cidadão disse abertamente que os Estados Unidos promoveriam o golpe necessário para atingir seus objetivos... e “lidem com isso”. Referia-se às necessidades de lítio boliviano para a Tesla, uma das empresas em que é CEO. A Bolívia sofreu um golpe militar clássico em 2019, já se sabe com apoio dos Estados Unidos. Bem, quanto às minas de lítio, você já deve ter uma ideia do desfecho... Engraçado isso não ser considerado corrupção. Golpear a democracia para atingir objetivos comerciais de corporações e CEOs “brilhantes” é notada como “ousadia visionária de pessoas superiores”. Conseguem ver o viralatismo brasileiro e de elites de outras nações vizinhas?

Muitos dos “vassalos antinacionais” vão achar ser assim mesmo. “Os mais capazes prevalecem”. O fato é que esse tipo de corrupção, na modalidade parlamentar e contratual no Brasil, só é possível pela ação antinacional de elites em seus próprios países (com vergonhoso apoio do setor médio que pensa estar convidado para a festa), em troca de vantagens econômicas individuais.

Pois então, precisamos também falar da China. Nem vou entrar no tema da democracia no estilo ocidental, porque essa é importante para os liberais e conservadores dos países do norte em seus próprios territórios, e encarada por estes como um “detalhe” para os países do sul, principalmente quando “atravessam” os interesses econômicos dos primeiros. A China tem construído sua influência internacional, principalmente na África e América Latina, com cooperação econômica e obras de infraestrutura. Os Estados Unidos, ao contrário, promovem sanções econômicas, golpes, bombardeios e intervenções militares. Se você tivesse que escolher o caminho do alinhamento, escolheria o da cooperação e da paz? Espero que a resposta seja sim.

Quero voltar a viver num país com democracia, educação e ciência, negócios, livre iniciativa conquistando espaços, criando riqueza e empregos, estado sendo indutor do desenvolvimento que tanto precisamos. Ao contrário do que pensam muitos de meus acusadores, sou capitalista, defendo a eficiência com responsabilidade social. E isso teremos com os progressistas do país. Do contrário, somente será essa dependência externa que não leva a lugar algum.

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