Liderança segundo Adenor: 10 motivos que explicam a surreal evolução nos resultados da seleção brasileira de futebol
Como bom leitor e grande interessado no tema liderança, costumo analisar as situações cotidianas que ilustram a influência da gestão em resultados de equipes de trabalho.
Um caso típico destes está ocorrendo na seleção brasileira de futebol masculino.
Uma equipe que estava correndo sérios riscos de não se classificar para a próxima copa do mundo e passou a estar a praticamente classificada com boa antecedência, após seis vitórias em sequência.
Com praticamente o mesmo grupo de jogadores e exatamente o mesmo espaço de tempo para treinar que tinha a gestão anterior, Adenor Bachi, ou o Tite (como é mais conhecido), conseguiu reverter drasticamente os resultados da seleção.
Refletindo um pouco acerca do seu modelo de liderança, rapidamente chegamos a 10 motivos que explicam a surreal e improvável melhora nos resultados da equipe, após Adenor assumir a função de técnico. Reflitamos acerca deles:
1. Respeito aos liderados: de todos os sentidos do ser humano, a audição talvez seja a maior dificuldade que temos, de modo geral. E Tite sabe usá-la como poucos. Ele ouve os atletas, e isso o ajuda muito em duas frentes: desenvolver uma estratégia sólida para a equipe (com base nas informações que recebe) e fazer o seu liderado se sentir valorizado e respeitado. Quando se fala em respeito aos liderados, logo associamos àquela máxima do “corrija em particular e elogie em público”. Mas Adenor foi mais além que isso, dando valor ao ponto de vista de seus atletas.
2. Envolvimento de outros técnicos: Adenor já admitiu que costuma telefonar para os técnicos dos jogadores que convoca, e pedir a opinião deles sobre maneiras de utilização dos mesmos. Novamente a habilidade de ouvir fica explícita. Com um número maior de informações, a taxa de acerto nas tomadas de decisão acerca da equipe tende a aumentar.
3. Meritocracia: uma das maneiras de engajar uma equipe é mostrando que o resultado pelo bom desempenho será recompensado. Tite escala em sua equipe titular os atletas que dão melhor resultado, e sempre que alguém que não vinha sendo aproveitado se destaca, o mesmo ganha oportunidade. Isso gera uma alta competitividade interna, pois o atleta sabe que se melhorar o desempenho, será valorizado através da titularidade nas partidas.
4. Estratégia: ao final do jogo contra a Argentina (vencido por 3x0 em 10/11/2016), Adenor disse que estudou as possibilidades ofensivas que Messi era capaz de desenvolver e, baseado nisso, armou uma estratégia para reduzir a sua ação. Ou seja, ele estudou, fez a análise, planejou uma estratégia e executou. Resultado: o melhor jogador do mundo praticamente não apareceu na partida.
5. Preparo e atualização: muito antes de assumir o cargo de técnico da seleção, Adenor se preparou, fazendo atualizações na Europa e conhecendo modelos de gestão de equipes de futebol. Como em qualquer função, o preparo faz total diferença na efetividade dos resultados.
6. Valorização do coletivo: Adenor defende a ideia de que o coletivo é mais importante que as individualidades dentro do grupo. Costuma citar a frase: “o coletivo potencializa o individual, nunca o contrário”. E os números mostram que isso de fato ocorre: antes de Tite, Neymar era tido como o grande destaque individual do elenco de jogadores. Após Tite assumir, Gabriel Jesus passou a ser o goleador da equipe nas eliminatórias e Neymar, porém, marcou mais gols na competição do que na gestão anterior (quando dizia-se que o time dependia dele). Ou seja, os demais jogadores estão se destacando, e o principal está rendendo mais do que rendia anteriormente. É a força da coletividade aumentando o rendimento individual.
7. Promove inovações: além de estrategista, Tite busca soluções táticas novas dentro do próprio grupo de jogadores, alternando funções e posições na equipe. No jogo contra o Peru (vencido pelo Brasil por 2 x 0, em 15/11/2016), ele colocou o Renato Augusto, que tem a função de meio-campo, jogando de ponta ofensivo. Este tipo de inovação nas funções da equipe não só surpreende os adversários, como faz com que os jogadores não entrem em zona de conforto, ou seja, eles precisam treinar novas situações de jogo para dar resultado. Neste caso, deu tão certo que o atleta em questão até mesmo marcou um gol.
8. Uma base afetiva sólida: dizem que técnicos ao estilo paizão agradam jogadores em geral. No caso do Adenor, ele tem bases afetivas sólidas. Expõe seu amor pela mãe, esposa e família publicamente. Ele sabe reconhecer o valor das pessoas que o apoiam em sua trajetória. E, tenha certeza, isso é transmitido ao seu grupo de forma natural, que percebe que tem um líder humano, simples e acessível.
9. Ouve opiniões externas: as entrevistas coletivas de Tite fogem à regra de técnico na defensiva contra uma enxurrada de ofensivas da imprensa. É um verdadeiro debate técnico sobre a partida, o sistema de jogo e futebol. Isso porque ele sabe que a imprensa também estuda sobre o assunto, e tem contribuições a fazer. Sabedor deste fato, ele ouve as opiniões externas, promove a troca de ideias e, consequentemente, é muito respeitado por isso.
10. Vibração: a clássica cena de Tite correndo para abraçar os jogadores e comemorar um dos gols do Brasil contra a Argentina no dia 10/11/2016 mostra o estilo nada apático do técnico liderar sua equipe. Vibrar é uma maneira sutil de passar a mensagem: “vocês (equipe) fizeram exatamente o que treinamos”. No mundo corporativo há maneiras de se fazer isso, com um pouco mais de discrição: um elogio, um feed-back positivo ou qualquer outro ato que valorize o trabalho realizado pela equipe.
Analisando os dez tópicos mencionados, notamos que as habilidades comportamentais (desenvoltura para conduzir a equipe, saber se relacionar com o grupo, sua postura e caráter, entre outras) tem tanta influência quanto o conhecimento técnico do treinador.
Pode ser um pouco cedo para afirmar quais serão as conquistas do trabalho de Adenor na seleção brasileira. Mas uma coisa é certa: em tão pouco tempo ele já nos ensinou boas lições sobre liderança.