Nota semanal - 9 a 13 de dezembro
Cenário Doméstico
Nesta semana, no Brasil, tivemos a divulgação de dados importantes relacionados à inflação. O IPCA de novembro mostrou um avanço de 0,32%, acumulando alta de 4,87% nos últimos 12 meses. Essa dinâmica reforça os desafios que enfrentamos no controle de preços. Em resposta, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, alcançando 12,25% ao ano, acima das projeções de mercado, que esperavam um aumento de 0,75 ponto percentual. Essa decisão visa conter a inflação, mas traz impactos consideráveis: encarece o custo do crédito, o que pode frear o consumo e os investimentos, ao mesmo tempo em que atrai capital estrangeiro, fortalecendo o real. No entanto, esse movimento também eleva o custo da dívida pública, pressionando o orçamento do governo e impactando setores como o imobiliário, devido ao aumento nos custos dos financiamentos habitacionais.
Além disso, o Copom sinalizou possíveis novas elevações na Selic, o que, combinado com a troca de comando no Banco Central em janeiro de 2025, gera incertezas quanto à continuidade da atual política monetária.
No âmbito da atividade econômica, tivemos uma surpresa positiva com o IBC-Br de outubro, que cresceu 0,10%, superando as expectativas de uma retração de 0,20%. Esse dado reflete uma certa resiliência da economia, mesmo em um cenário de aperto monetário e inflação elevada. Embora esse resultado sugira espaço para medidas mais duras de controle inflacionário, ele também destaca o desafio de equilibrar crescimento econômico e estabilidade de preços. A manutenção desse ritmo de crescimento pode exercer pressões adicionais sobre a inflação, exigindo um ciclo mais prolongado de juros altos. Por outro lado, a arrecadação fiscal tende a se beneficiar, aliviando um pouco as pressões no orçamento governamental.
Outro dado importante foi o crescimento de 1,1% no setor de serviços em outubro, acumulando 6,3% nos últimos 12 meses. Esse segmento, responsável por cerca de 70% do PIB brasileiro, continua a mostrar sua relevância, especialmente apoiado por um mercado de trabalho aquecido e aumento da renda. Esse desempenho contribuiu significativamente para a alta de 0,9% no PIB do terceiro trimestre de 2024. Contudo, essa expansão robusta também pode intensificar as pressões inflacionárias, exigindo monitoramento atento.
Ainda no âmbito doméstico, as vendas do varejo surpreenderam positivamente, com crescimento de 0,4% em outubro, acumulando alta de 6,5% nos últimos 12 meses. Apesar de indicarem uma recuperação consistente, impulsionada pelo mercado de trabalho e maior renda disponível, a recente elevação da Selic para 12,25% deve influenciar negativamente o consumo nos próximos meses, ao encarecer o crédito e reduzir o poder de compra das famílias.
Cenário Internacional
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, os últimos dados de inflação (CPI) indicaram uma variação mensal de 0,3% em novembro, ligeiramente acima dos 0,2% registrados no mês anterior. Por outro lado, a variação anual permaneceu em 2,7%, consistentemente com os níveis observados em outubro.
A grande novidade foi a desaceleração nos preços de serviços, que haviam exercido forte pressão durante o ano. Especificamente, o índice de aluguel equivalente ao proprietário (OER), que representa 27% do CPI total, apresentou sua menor alta mensal no ano, caindo de 0,40% para 0,23% em novembro. Essa desaceleração é significativa, dado o peso desse componente na inflação geral.
Por outro lado, o índice de preços ao produtor (PPI) veio acima das expectativas, com alta de 0,4% em novembro (consenso era 0,2%), levando o PPI anual a 3%. O núcleo do PPI subiu 0,2% no mês, acumulando 3,4% em 12 meses. Esses dados mistos levantam dúvidas sobre o ritmo real de convergência da inflação para a meta de 2,0% do Federal Reserve. Contudo, ao observarmos outros indicadores macroeconómicos, surge a expectativa de que a inflação possa voltar a apresentar aceleração.
O modelo GDPNow do Fed de Atlanta projeta um crescimento do PIB de 3,2% para o quarto trimestre, Com o consumo familiar representando cerca de 60% do PIB, sua contribuição é um pilar fundamental para o crescimento econômico projetado de 3,2% no quarto trimestre, indicando um potencial aumento significativo no nível de atividade econômica durante esse período. Outros indicadores, como o índice de confiança do consumidor, que subiu de 107 para 111 pontos após a eleição de Donald Trump, possivelmente impulsionado pela expectativa de políticas econômicas favoráveis ao crescimento, como a redução de impostos e o aumento do investimento , que geraram otimismo no mercado. reforçam a ideia de uma economia ainda mais robusta no longo prazo. Além disso, as possíveis medidas políticas, como tarifas mais altas sobre produtos importados, combinadas com um mercado de trabalho estável, também contribuem para a construção de um cenário pessimista em relação a trajetória da inflação. Apesar do otimismo com o crescimento econômico, esse crescimento econômico pode atuar como um fator que alimente pressões inflacionárias. Por exemplo, um aumento no consumo das famílias, incentivado pela maior confiança do consumidor e um mercado de trabalho aquecido, tende a elevar a demanda agregada, pressionando os preços. Desafiando assim a trajetória de convergência da inflação para a meta.
A expectativa é de que o Fed reduza os juros em 0,25 ponto percentual na reunião de dezembro. No entanto, com a persistência inflacionaria e os futuros riscos que podem gerar inflação pode levar o comitê a adotar uma postura mais cautelosa nas reuniões subsequentes, podendo interromper o ciclo de cortes de juros até que haja maior clareza sobre o equilíbrio entre crescimento econômico e controle do índice de preços .
Zona do Euro
Essa semana foi movimentada na Zona do Euro. O Banco Central Europeu (BCE) anunciou o quarto corte consecutivo na taxa de juros desde junho, confirmando o que muitos analistas já esperavam: a instituição começa a abrir mão de sua política monetária restritiva para lidar com a desaceleração econômica.
A decisão vem acompanhada de projeções econômicas revisadas. O BCE agora espera uma inflação de 2,4% em 2024, reduzindo para 1,9% até 2026, o que deve finalmente alinhar os preços à meta de 2%. Já o crescimento do PIB foi revisto para baixo, indicando que a economia da região deve crescer apenas 0,7% no próximo ano, com melhora gradual nos anos seguintes.
O que chama atenção é a mudança de tom do BCE. Christine Lagarde enfatizou que a recuperação econômica deve ser impulsionada por salários mais altos e novos investimentos empresariais, mas alertou que atritos no comércio internacional ainda podem frear esse avanço. É um momento desafiador para a Zona do Euro, mas há sinais de que, com o tempo, a região pode encontrar equilíbrio entre crescimento e estabilidade de preços.
Ásia
Na Ásia, os dados econômicos desta semana mostraram um Japão superando algumas expectativas, mas ainda lidando com incertezas. O PIB japonês cresceu 0,3%no terceiro trimestre, com alta anual de 1,2%. Apesar de positivo, esses números vieram abaixo da leitura preliminar, o que reforça os desafios enfrentados pela terceira maior economia do mundo.
Já na China, o superávit comercial saltou para US$ 97,44 bilhões em novembro, sustentado por um aumento de 6,7% nas exportações. Por outro lado, as importações caíram 3,9%, sinalizando que a demanda interna está mais fraca. É interessante notar como a economia chinesa ainda se apoia fortemente em sua base exportadora, mas precisa resolver desequilíbrios internos para garantir um crescimento mais sustentável.
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No geral, tanto Japão quanto China continuam mostrando resiliência, mas é evidente que há ajustes necessários para enfrentar os desafios econômicos no médio prazo.
Equipe
Renan Silva, CGA
Guilherme Sales, CGA
Kaio da Fonseca – Research
Catharina Viotti – Research
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