O futuro do mercado de investimentos em startups

O futuro do mercado de investimentos em startups

Ao longo de 2021, o ecossistema brasileiro de startups passou por um cenário positivo sem precedentes em termos de funding. No ano passado, foram mais de US$ 9,4 bilhões captados em investimentos, valor 2,5 vezes maior em comparação ao registrado em 2020, e o maior desde o início de uma série de estudos conduzidos pela Distrito a partir de 2011. 

Tais resultados pareciam um sinal de que 2022 poderia apontar para uma escala ainda mais exponencial nesse cenário de crescimento. Dentro de um contexto de desafios, no entanto, o primeiro semestre do ano enfrentou uma queda de 44% no montante de investimentos – ao todo, cerca de US$ 2,92 bilhões foram direcionados para startups do país. 

Claramente, temos um mercado que, apesar do avanço, ainda precisa de maior maturidade e no qual a incerteza – que faz parte de qualquer movimento empreendedor mais arrojado – exige dos negócios digitais preparo e planejamentos estratégicos bem estruturados. 

Para isso, conforme apontei em texto publicado recentemente, é primordial, primeiramente, que os empreendedores tenham clareza da motivação por trás de sua busca por investimentos – de modo que possam, assim, escolher seu investidor, e não o contrário. 

Além disso, dentro de um mercado ainda como muita “espuma” – termo para negócios e conceitos sem sustentação na realidade – e também altamente competitivo, é essencial que os empreendedores saibam vender suas ideias de negócio, contando com um plano de desenvolvimento para o longo prazo. 

Ademais, em um momento de instabilidade para a atração de capital no Brasil por meio dos modelos tradicionais de venture capital, é interessante que as startups tenham em mente outras opções para a captação de recursos. E a boa notícia é que algumas tendências interessantes nesse sentido têm se apresentado no país.

No presente artigo, destaco três movimentos que podem ser mais uma porta de expansão para as startups. Confiram!

Equity crowdfunding

Esse mecanismo funciona como uma “vaquinha” online, possibilitando, assim, que um conjunto de investidores, sejam eles físicos ou jurídicos, financiem startups – normalmente em fase inicial – em troca de participação no negócio. 

Dessa forma, os investidores desse tipo de aporte são remunerados conforme o desempenho da empresa investida ou a partir de sua venda total ou parcial. Nesse modelo, em termos de retorno, também é possível que títulos conversíveis de dívida se convertam em participação societária no futuro. 

Além disso, o equity crowdfunding, como um instrumento de financiamento coletivo, permite que pessoas invistam a quantia mínima de R$ 1000,00 fator que abre caminho para um grande volume de investidores, além de representar uma possibilidade de diversificação da carteira de investimentos. 

Receita previsível

Empresas que contam com modelos de negócio que geram receita mensal com fluxo mais recorrente – mas que precisam de capital para escalarem o negócio de modo mais ágil e exponencial – podem recorrer ao financiamento de receita previsível, no qual, basicamente, a empresa conquista crédito com base no capital de giro e pode aumentar o valor dos aportes à medida que vai crescendo.

Nesse modelo, a receita do negócio é seu ativo e garantia, e o pagamento do crédito é realizado durante a operação do negócio, oferecendo assim uma via interessante para negócios digitais que, por exemplo, trabalham com modelos de serviços mensais ou plataformas SaaS.

Venture debt

Em ascensão no mercado brasileiro – com novos players entrando na competição –, o venture debt representa um instrumento de dívida, o qual possibilita que a startup não precise abrir mão de participação na empresa em seu estágio inicial. Isso porque esse modelo se baseia em financiamentos baseados em dívidas não conversíveis, no qual os fornecedores de capital se tornam credoras e não sócias do negócio, uma diferença básica em relação a investimentos de equity. 

Trata-se, portanto, de um empréstimo de capital, que evita a diluição da propriedade da empresa, e pode ter muito valor principalmente para startups que não possuem garantias ou um giro de caixa suficiente que possa ser utilizado para um empréstimo em moldes tradicionais. Nos Estados Unidos, por exemplo, é um mecanismo já bem estabelecido, que auxiliou no desenvolvimento de gigantes da tecnologia, como Facebook, Uber e Spotify. 

Em um cenário como o atual, é crucial que as startups entendam as opções existentes e quais delas se adequam melhor ao estágio atual do negócio – e, claro, a seus objetivos como empresa. Além disso, os empreendedores devem se acostumar com obstáculos no meio do caminho, algo inerente a esse ecossistema e, em última instância, ao próprio ambiente do empreendedorismo.  

Afinal de contas, se mares calmos não fazem bons marinheiros, é muitas vezes a turbulência que nos faz continuar nessa viagem desafiadora e, ao mesmo tempo, fascinante.

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