O nascer de uma mentorada

Vestida com um apropriado traje de escritório e um sorriso confiante de quem está feliz por ter sido aprovada no período de experiência em uma das multinacionais mais desejadas da época, me dirigi com passos firmes à sala de uma das minhas lideranças - provavelmente receberia uma nova tarefa para realizar.

Com toda energia e ambição de uma jovem de vinte e poucos anos que quer crescer na carreira, me dedicava disciplinadamente para ser a melhor assistente possível para os três líderes a quem me reportava.

A sorte acompanha os competentes – assim aprendi.

Para a minha surpresa, no entanto, a conversa tinha outro tema: um feedback sobre minha atuação. “Você precisa organizar melhor o seu trabalho. A administração pessoal do seu tempo não é adequada. Vejo que está sempre com interrupções durante o dia, e também tem isso e aquilo, e mais tal...”

Aquela informação inesperada foi um choque para mim. Perdi a voz, literalmente.

Pensava ser muito eficiente ao parar o que estava fazendo para atender prontamente às solicitações dos líderes, mas estava totalmente enganada. Um sentimento de injustiça me invadiu.

Muitas reflexões vieram à minha mente: O que estou fazendo não é bom? Como não percebi isso antes? Mas se eu fui efetivada não era porque estava indo bem? O que é bom, então? O que é ser competente? Como este feedback pode impactar minha carreira? Como lidar com este turbilhão de pensamentos e sentimentos? Como devo agir?

Decidi pedir ajuda e conversei com aquele que se tornaria um dos meus melhores mentores. S.M. me ouviu com empatia (com aquela rara escuta ativa que só os evoluídos possuem), ampliou a visão que eu tinha sobre o fato, me apresentou outras perspectivas e juntos planejamos uma estratégia de ação.

No dia seguinte, logo que cheguei à empresa conversei com a minha líder, disse que havia refletivo sobre o feedback e apresentei uma proposta para desenhar um plano de aprendizado para as competências que eu precisava desenvolver e um plano específico de trabalho semanal, e alinhar toda manhã com os três líderes a agenda do dia. E assim foi feito. 

Logo após o almoço, a líder me chama e solicita uma nova demanda. Cuidadosamente verifico o plano de trabalho acordado na primeira hora do dia, e, constatando que aquela tarefa não estava incluída na agenda semanal, respondo: “Posso agendar para realizar na semana que vem ou prefere trocar por alguma atividade da lista?”

A reação da líder com a minha nova postura, foi de surpresa com a rápida mudança de disponibilidade comparada aos dias anteriores.

Sorri por dentro, celebrando uma vitória pessoal. A comemoração discreta podia até parecer “você quem pediu”, mas na verdade eu celebrava muitas conquistas internas.

Alí nascia uma mentorada.

Aprendi que um mentor pode me conduzir a outro patamar profissional.

Aprendi que as bases de poder são intercambiáveis quando você tem um acordo entre as partes.

Aprendi que autoridade não é só construída baseada em cargos e títulos.

Aprendi a ter coragem de dizer “Não” e ainda com uma abordagem propositiva.

Aprendi que a autoconfiança e a autoimagem são construções internas que impactam externamente de forma quase mágica.

Aprendi que planejamento, disciplina e estratégia elevam os resultados.

Aprendi que a mentoria pode mudar a minha vida.

Eu acredito que a velocidade da minha evolução profissional é reflexo dos mentores que me acompanham desde o início da minha carreira. Seus direcionamentos, conselhos e orientações me deram base, norte e segurança para enfrentar os tantos dilemas que surgiam e ainda surgem no caminho. 

Meu conselho? busque um mentor.

Quanto antes você tem um mentor, mais chances de alavancar o seu aprendizado e consequentemente suas decisões – os quais impactarão no seu crescimento pessoal e em sua trajetória de carreira ou na evolução do seu negócio.