O que ninguém ( Ou poucos ) viu(ram) na Ucrânia !
O mundo está atento para a Ucrânia e o imbróglio entre Rússia, OTAN/EUA, separatistas e o temor de uma guerra na região. Contudo, num primeiro olhar até parece uma questão de criança birrenta, onde ninguém quer abrir mão do "direito" de brincar com aquele brinquedo ( muitas vezes sem graça ) e que pouco tem a oferecer, hipoteticamente esse mimo é a Ucrânia. E aí mora o perigo, pois muito mais interesses ocultos estão envolvidos naquela região, o que torno o brinquedo caro e atrativo ! E, para compreender basta apenas unir pontos como já escrevia Steven Jobs, em sua autobiografia.
Primeiramente se a OTAN fosse um perigo real, a Rússia teria usado seu "jus sperneandi" na Lituânia, Estônia e Letônia, três países fronteiriços, ex-membros da antiga URSS e atualmente membros desta organização militar ocidental, ou até mesmo na Polônia ( muito mais estratégica )! Até porque com o potencial atômico estabelecido, distâncias são meras convenções, tendo em vista que os mísseis atuais, tem velocidades hipersônica e independem da OTAN ou do inimigo estar a 5 metros da fronteira ou a 5 mil quilômetros.
Não há santo e nem mocinho nessa história, sendo o principal protagonista os aspectos econômicos e os interesses que impactam ou não em determinadas regiões. Na geopolítica mundial, nem tudo paira absoluto sobre o Petróleo e seus componentes, como o gás russo. Gás que alimenta a Europa no inverno, que é viável e até então essencial economicamente para o "velho continente".......mas além deste, há um outro aspecto que tem sido marginalizado e deixado de lado !
Qual ??????? Vos digo que o motivo é o mesmo que quase derrubou o governo do Casaquistão há poucos meses atrás e, preocupa a hegemonia americana na região de Eurásia. Pois, há um terceiro ator, ou como se fala em gestão de projetos "stakeholder" nessa questão, como um tigre, caminha silencioso e tem se sobressaído muito, não só no cenário geopolítico, mas no econômico, um dragão voraz do oriente chamado China. Como num jogo de xadrez, atores globais como China, Europa, Rússia e EUA disputam novos mercados, e nesse tabuleiro os fins justificam os meios ( Maquiavel ), nem que para isso usem e interfiram em países satélites, com o intuito de marcar presença, se proteger e abrir mercados.
Se antes os EUA eram um dos principais atores econômicos, com influência na Europa, África e Ásia, hoje com a estreita parceria entre Rússia e China correm o sério risco de perder a hegemonia. A nova guerra fria não se faz apenas nos campos militares, espaciais e tecnológicos, também se faz na expansão comercial. Ok, mas qual o papel ucraniano nessa guerra híbrida ?
O mesmo que quase derrubou o governo do Cazaquistão em janeiro de 2022, e tem nome e endereço : NOVA ROTA DA SEDA. Um mega projeto sino-russo que com vários ramais econômicos pretende unir os principais centros comerciais chineses à Europa, Oriente Médio e com isso estender a influência chinesa e russa não só na Eurásia, mas igualmente na África e América Latina.
No mapa abaixo é perceptível a importância não só do Cazaquistão, mas da Ucrânia também na concretização dessa rota, como podemos ver, haverá não só redução de custos, mas o desvio do comércio para uma região menos problemática em relação as anteriores. O deslocamento comercial para essa rota, prejudicará fortemente EUA e Reino Unido, que hoje possuem forte influência nas outras duas. Nessa nova geopolítica, a Europa faz um papel ambiguo, pois a rota é extremamente interessante para o continente, como também é interessante que gasodutos continuem fornecendo gás barato e viáveis economicamente para a indústria europeia. Este caminho seguro e menos burocrático para assegurar petróleo, gás e produtos a União Europeia, se contrapõe a maciça presente dos componentes do bloco como membros da OTAN. Deste modo, grosseiramente pode-se dizer que os Europeus rezam ao mesmo tempo para Deus e para o Diabo, pois jogam duplamente para não ficarem nem mal para um lado e nem mal para outro lado.
Percebam que a atual rota marítima ( linha azul ), além de longa e cara passa por uma área de influência anglo-americana ( Arabia Saudita, Índia, Taiwan, Egito e outros ) e necessita passar pelo "chifre da África" que é uma região perigosa e com pelo menos 3 conflitos ( Iêmen, Sudão e Somália ). Já a Oasis Route ( linha rosa ) precisa passar por algumas regiões instáveis e conturbadas politicamente e militarmente ( Afeganistão, Iraque, Síria, Israel, etc...). Contudo a "Stepp Route" (em verde ) passa por países que se controlados pelos russos ( estados fantoche ) garantem a China e a própria Rússia, monopolizar de forma segura uma rota comercial onde rodovias, ferrovias e os portos do Cáspio garantem : economicidade, deslocamentos menos propensos a instabilidades políticas e quebra do monopólio marítimo. E nesses quesitos a Criméia e o Mar Negro, garantem não só aos Russos, mas igualmente aos chineses acesso a Europa Mediterrânea sem ter de disputar ou depender do Mar da China. E a restante do território ucraniano acesso ferroviário e rodoviário as outras regiões do continente europeu.
Ainda ficou com dúvidas ? Olha esse outro mapa !
O mapa acima, além de mostrar a intrincada rede de escoamento do projeto chinês e dos vários ramais de conexão com a rota da seda, mostra mais uma vez que tanto o Casaquistão, como a própria Ucrânia são essenciais logisticamente. O principal ponto a ser evitado é a instabilidade do Oriente Médio e a grande influência que EUA e Reino Unido exercem nos países da região, muitos ex-colônias britânicas e profundamente dependentes do apoio militar americano. Sem falar da Turquia, uma incógnita nesse tabuleiro, mas que tem aspirações de estender sua influência para algumas regiões onde hoje é Síria e Iraque. Com isso percebemos que as duas ex-republicas soviéticas são pontos estratégicos em relação implementação da nova rota da seda. Reduzindo custos, distâncias e dando acesso ao estratégico ao gás russo.
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Em todos os mapas, os caminhos mais estáveis para o fluxo comercial entre Ásia e o Mundo passam atualmente por Casaquistão e Ucrânia, e hoje eles se tornaram a bola da vez de tentativas das "primaveras democráticas". Outrora coincidentemente ou não o fluxo comercial passava por Afeganistão, Paquistão, Irã, Iraque, Síria e outros países e que por possuírem ditadores, governantes instáveis e corruptos tornaram-se pedras no sapato dos interesses americanos e ingleses na região. Isso sem falar de Índia, Arábia Saudita e Emirados Árabes, que possuem interesses comerciais e de certa forma podem criar dificuldades em relação as rotas comerciais.
De forma conclusiva, nesse grande xadrez global, não há santo ou demônio como já disse, talvez o principal "santo milagreiro" sejam os dólares que essas rotas da seda ou não rendam aos "players" globais. Numa guerra fria ( ou econômica ) quem marca território, fecha portas para seus concorrentes e nesse jogo que tem cartas boas, tem o poder e a última escolha. Putin joga o jogo e com o apoio chinês não abrirá mão da Ucrânia, assim como não abriu e conseguiu impedir a tempo um golpe no Cazaquistão. E os EUA, precisam de alguma forma impedir a concretização da Rota da Seda, para não perderam força como "player" global. A guerra não é interessante nem para Russos, Chineses e Europeus, mas não se pode descarta-la, apesar que irão encontrar uma saída "diplomática" para o imbróglio.
Por : Rosaldo Bonnet
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2 aÓtima publicação, elucidativa. Parabéns.