Precisamos da gestão do conhecimento
Costumo dizer que a gestão do conhecimento é um dos mais interessantes mistérios da administração das empresas. Ninguém sabe direito a que se refere, fica na moda durante alguns meses ou anos e sai do cenário tão rapidamente como entrou. Vai surgir novamente anos depois, trazida sempre por um motivo diferente do anterior e vai desaparecer novamente, logo que o pessoal descobrir que é um assunto complicado. Não há uma área especifica da empresa que possa dizer que é dona do assunto, nem um grupo de especialistas em assuntos da empresa que possa requisitar propriedade sobre o tema.
Uma vez eu fiz um levantamento sobre as origens do tema e descobri que havia quase uma dúzia de possíveis fontes de interesse, tão diferentes como capacitação e treinamento, propriedade intelectual, gestão de projetos, projeto de bancos de dados, projeto de trabalho colaborativo, mapeamento de processos e identificação de boas práticas. As abordagens eram completamente diferentes, com praticamente nenhuma possibilidade de convergência.
É muito comum vermos emprego de versões simplificadas do conceito, geralmente em relação a atividades de treinamento, à preparação de manuais de procedimentos e à execução de serviços técnicos. Já fui procurado por uma empresa que estava interessada em preparar um novo manual de treinamento para o pessoal técnico da linha de frente. Não adiantou eu explicar que o conhecimento não se transmite por treinamento. Outra empresa queria fazer uma espécie de lista telefônica com o nome dos seus técnicos, o tema dos projetos em que se envolvera e alguma coisa sobre as conclusões de cada projeto. Novamente tive que assumir o papel do chato e explicar que esse produto seria, na melhor das hipóteses, um mapa pouco dinâmico das fontes de conhecimento.
Nessas ocasiões o tema surge sem uma definição muito clara da necessidade e da intenção. Vem no meio de alguma conversa sobre a modernização da gestão da empresa ou as atividades da concorrência. Tenho a impressão de que algumas vezes os executivos sugerem ir pelo caminho da gestão do conhecimento para mostrarem que estão atentos às técnicas e tendências das empresas modernas.
O pessoal de TI insiste em dizer que eles têm a solução e eu fico pensando comigo mesmo que a tecnologia deles é pavorosa quando se trata de registrar experiências e emoções, que são muito a essência do conhecimento. O conhecimento lida diretamente com o saber fazer e não com os aspectos quantitativos da produção. Na melhor das hipóteses, as ferramentas de TI podem ajudar em alguns aspectos de certos projetos de gestão de conhecimento.
Quando a gente tenta fazer algum estudo do tipo benchmarking surge a dificuldade de encontrar as outras empresas que possam ser utilizadas como referência. Em primeiro lugar, não são muitas as empresas que já implementaram iniciativas de gestão do conhecimento. Depois, exatamente pela variedade de interpretações sobre o tema, a gente não encontra experiências úteis em termos de concepção e número. É mais comum encontrarmos projetos que não satisfazem os nossos critérios.
Managing Partner na TEDESCHI FINANÇAS, CONSULTORIA E DESENVOLVIMENTO S.C. LTDA.
7 aLeio sempre com muito interesse o que escreve o Prof. José Ernesto. Sobre as dificuldades de gerir o conhecimento, uma - não mencionada no artigo, é a da perecibilidade do conhecimento, seja ele explícito (i.e. objetivo e manualizável) ou implícito (subjetivo e não-manualizável). O conhecimento, seja qual for, obsolesce muito rapidamente e... se perde!