Protagonista ou colaborativista?
...when shared.

Protagonista ou colaborativista?

Trabalho há quase cinco anos para uma multinacional e experimentei três modelos principais de trabalho: primeiro como funcionário terceirizado, depois empregado no Brasil e, há seis meses, trabalho com foco na América Latina. Embora fique em Buenos Aires, minha chefe funcional está em São Paulo e tento colaborar com colegas de toda a região. Nesse modelo, fiquei pensando o que seria melhor para a empresa: um profissional desarme “a bomba” sozinho ou um que chame diferentes times para fazer isso em equipe.

A resposta talvez seja um pouco complexa.

Uma comparação possível é com um filme em que um ator coadjuvante – que entra em cena para dar suporte ao protagonista – pode ser muito mais relevante do que o ator principal. Basta ver o último Oscar: Viola Davis ganhou o prêmio de atriz coadjuvante e Emma Stone, o de protagonista – por diferentes histórias, vale lembrar. As duas, ótimas, mas inevitável o desconforto, já que Viola plays too much better” – com perdão pelo trocadilho.

Outro exemplo. Recentemente, comecei a fazer uma série de vídeos e achei um problema na montagem: precisava encaixar uma mensagem específica sem atrapalhar o conteúdo. Conversei com uma colega que me deu uma sugestão tão óbvia quanto eficaz: criar uma vinheta de abertura. No fim, talvez esses vídeos ajudem em um projeto em que ela é responsável. E sem a ideia dela o projeto seria outro. Ou nem seria.

O tal do protagonismo está superestimado, mas é essencial. Talvez seja mais uma marca pessoal do que uma ação, mas espera-se que todos sejam capazes de desarmar a bomba ou pelo menos saber identificar onde ela está. Hoje penso que se um indivíduo não pratica a colaboração, ele se acostuma a ficar na caverna e quando se dá conta não fez nada relevante que dure. A caverna não se constrói, ela está ali para ser invadida. Prefiro uma casa, que necessita de pedreiro, arquiteto, engenheiro, eletricista...

Numa lógica sartriana, os outros são uma espécie de inferno porque, entre outras coisas, nos tiram a autonomia e nós estaríamos naturalmente direcionados para a liberdade. Mas o mesmo Sartre dizia que “sou responsável por mim e por todos” e que minhas decisões contribuem ou interferem no mundo. Os outros, esse espelho infernal, escancaram minhas verdades, mas também me ajudam a mudá-las – se for o caso.

O mundo corporativo está diante de uma série de mudanças globais: home office para otimizar o tempo, aplicativos para facilitar a vida, caminhos digitais para chegar aos públicos adequados... a balança entre colaborar ou protagonizar nunca esteve tão movimentada. Existem, inclusive, plataformas que incentivam esse tipo de “colaboração entre protagonistas” e isso influencia indireta ou diretamente no engajamento, na saúde organizacional e no crescimento pessoal.

Independente do cargo, do organograma, do roteiro que a gente tenha de seguir, seja uma Emma Stone ou uma Viola Davis, vale a pena colaborar. Afinal, vai saber o que existe lá fora da caverna? Só para terminar com uma frase de impacto, cito essa do meu filme favorito, Na natureza selvagem: "Happiness: only real when shared".

Kelly Laenia

Change & Transformation Manager | Sustainability & Climate | Change Management | Merger & Acquisition | Culture & Digital Transformation

7 a

Irrepreensível a sua análise. E, BTW, Isabelle Huppert estava mais que magnifica em Elle. Mas como estamos falando de coadjuvante, o Mahershala Ali deu o tom e nos fez torcer pela personagem improvável, assim como Viola.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos