Quem se importa em estudar Ética?

O estudo e a aplicação da Ética Deontológica nas organizações públicas e privadas em geral é muito, muito mal tratada. Indo direto ao ponto, geralmente se debruçam sobre o tema trabalhadores com pouco ou nenhum interesse sobre o tema, e em geral porque assumem cargos nas aludidas instituições, por vezes sem nenhuma remuneração justa que enseje a dedicação ao tema.

Algo que muito verifico na área pública, onde atuo, é que participam dos seminários e eventos de Ética Pública aqueles que compõem as comissões de ética e, gostando ou não, fazem os cursos, participam dos eventos, mas na prática se limitam à atividade - honrosa, diga-se de passagem - de aplicar o Código de Ética do serviço público federal e do órgão em processos de apuração ética, e nada mais.

Isto gera um mecanicismo perigoso para o desenvolvimento da Área, coisa que não vemos em outros campos do conhecimento profissional. Profissionais do Direito, da Administração, Finanças, vendas, marketing, etc, pelo tempo de dedicação acabam gerando muito mais conhecimento sobre, mas a área deontológica da Entidade vai sendo relegada a corajosos que assumem a atividade por três ou seis anos, e depois no "Complexo de Adão" a Comissão vai sendo recriada em ciclos sem fim.

Justiça seja feita, nos últimos dez anos com a proliferação de áreas de Governança nas Empresas Públicas e Privadas, começaram a surgir atividades internas mais especializadas que dão continuidade aos assuntos correlatos - exemplo são os Programas de Integridade e atividades de controle e conformidade, obrigatórias para Estatais em razão da Lei 13.303/16 e praticamente obrigatórias para empresas de médio e grande porte, em razão da Lei Anticorrupção Brasileira, que segue o modelos da FCPA e da UK Bribery Act. Porém, ainda assim não estamos falando do estudo aprofundado da Ética Empresarial a partir de uma perspectiva técnico profissional menos acadêmica.

Sim, existem a trabalhos na Academia que versam sobre o tema. Mas em geral o pesquisador que se detém a estudar o assunto não tem vivência suficiente no dia a dia do tema, gerando assim o descolamento entre o Plano das ideias Acadêmicas e o Plano dos Fatos Empresariais, bem ao estilo do Mito da Caverna de Platão. E quem já trabalhou na linha de frente da Ética sabe que o empregado chamado na Comissão de Ética para depor não vai entender a gravidade se o que ele está indo fazer é apenas prestar um esclarecimento ou responder a uma acusação... o desespero ou a indiferença flutuam na inversa proporção da tranquilidade e responsabilidade que ele deveria ter. Que Dirigentes devem ter técnicas próprias de tomada de decisão ética não meramente utilitarista, mas ponderando todos os interesses ali postos.

É importante e fundamental que surjam mais profissionais com experiência na área de Ética das Organizações que se destinem a escrever, ponderar, pesquisar, registrar e compartilhar seus conhecimento empíricos com a doutrina respectiva e os normativos sobre o tema para que exista uma consciência acadêmico-profissional que conjugue teoria e prática de forma adequada e dinâmica. É importante que as organizações também enxerguem que quadros éticos em suas fileiras, fomentados por pesquisa e atualização séria - não apenas o cursinho de quatro dias on-line assíncrono - são ATIVO e não DESPESA... Oras, se existem milhões aplicados em áreas de P&D para novos produtos e inovações, porque não investir em pesquisas e treinamentos que colaborem para a diminuição de conflitos interpessoais, ou mesmo que colaborem para evitar ocasiões de corrupção intra e extra corporação?

Enfim, esta é apenas uma reflexão breve sobre o tema, de quem gosta tanto da teoria quanto da praxe quando o assunto é Ética, mas que tem visto um contínuo desinteresse mesmo entre aqueles que deveriam aprofundar o tema. Que mais profissionais eticistas surjam e sejam devidamente valorizados - não para o bem deles, mas das organizações e da própria sociedade como um todo.

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